segunda-feira, 30 de julho de 2012

Naquele Tempo

Naquele tempo o jardim (Pça.Barão de Araras) era onde, todos nós, vivíamos o nosso dia de príncipe encantado.
Nos dois passeios, o interno e o externo, desfilavam em duas filas, na maior parte das vezes de quatro pessoas.
No passeio interno, andando no sentido horário, andavam as moças. De braços dados, riso fácil e olhos inquietos, buscavam na fila de moços os que mais lhes agradavam.
Os moços que desfilavam caminhando no sentido anti-horário, seguiam flertando com aquelas moças que lhes destinassem um olhar.
As luzes, as cores dos vestidos e a elegância dos ternos de tergal verão dos moços misturavam-se emprestando ao ambiente um dourado de felicidade que não conseguimos ver nos dias de hoje.
Na verdade era a dança que propiciava a continuação da espécie.
"O moço de camisa branca, terno azul marinho, gravata e sapato social impecavelmente engraxado e lustroso, diante do olhar da moça, endereçava-lhe um sinal, que queria dizer:
— Quero falar consigo. Posso?
Como só as mulheres sabem fazer, o sinal simplesmente era ignorado.
Ignorado sem maldade, diga-se de passagem. Ela queria ter a certeza de que era para ela mesmo que o sinal havia sido endereçado.
Na meia volta seguinte era a vez do rapaz, passar por ela e descuidadamente virava o rosto para o outro lado, num lance medido e destinado a deixar a moça mais interessada.
Na meia volta subseqüente, novamente, cruzavam os olhares desejosos.
Na outra, então, de novo o sinal que recebia o consentimento da moça que balançava a cabeça de maneira discreta e bela.
Dependendo de ser mais ou menos despachado o moço, na outra volta já estavam os dois conversando e dando volta no jardim pelo passeio externo.
Começaram assim muitos casamentos em Araras.
Na sua grande maioria felizes.
Dona Maria, aquela minha vizinha que vocês conhecem, começou o romance de sua vida numa noite de Domingo, dando voltas no jardim, ouvindo a "furiosa" municipal executando "LUZES DA RIBALTA".
Hoje, às vezes, encontro-me com um moço bem vestido e bem falante e descubro que é filho de um conhecido que se casou graças ao nosso jardim. Outras vezes passa por mim uma jovem senhora, grávida, e descubro que é filha de um amigo que se casou graças às voltas no jardim.
A emoção é grande.
É a vida que prossegue.