segunda-feira, 29 de abril de 2013

A conquista da sabedoria


 
Por que Deus, na sua magnifica criação, que é o homem, reservou para ele uma vida com ascendente e descendente.

Como se deve imaginar, Deus ao criar o homem tinha que dotá-lo de força de grande importância, para que pudesse enfrentar as condições da natureza a obriga-lo a se mexer para consolidar a sabedoria necessária para que um dia, em condições de viver a sua vida eterna com sucesso, ele teria conquistado o direito de estar sentado à direita de nosso Pai.

Assim, esta força descomunal, ao longo da história da humanidade, prevaleceu.

Além das adversidades, provocadas pela natureza, na qual deveria trabalhar para tirar dela o sustento e dominando as suas selvagens expressões, teve que enfrentar e disputar com outros homens, embalados pelo objetivo comum, e fazer o melhor.

Esta disputa mostrou se cruel, pois que estava sendo fruto do enfrentamento de poderosas criaturas.

Ao longo do tempo, então, a lei do mais forte, a ganancia, o egoísmo, e outros maus qualificativos, falsamente dominaram as ações.

Isto porque as reações, hoje, são uma realidade, que projetadas para o futuro tendem endireitar aquilo que se cultiva erroneamente, se bem que, com menor intensidade.

Na descendente da vida, é preciso entender que, cansado do esforço para manter as más tendências, o homem vai, pouco a pouco, entendendo que o seu papel, apesar de toda a sua força, não será vitorioso solitariamente.

A experiência que promove a sua capacidade sentimental, claramente, mostra a cada um dos homens, que não terá valido a pena se esforçar tanto, despender tanta energia para juntar tanto, pois que ao término da sua jornada, tudo, tudo mesmo, terá destino que não premia a sua satisfação como ser eterno.

Tanto fez para criar e juntar, mas, os que ficarão é que acabarão usufruindo dos frutos dos seus esforços.

Assim é que se compreende a maioria dos que estão na descendente, que nas suas obras, priorizam angariar respeito e doar amor.

A força física já não é o carro chefe.

A força interior, então, desencadeada por um coração amaciado pelos aprendizados que a vida proporcionou e a necessidade da companhia, tanto de amar como de ser amado, e, até mesmo, pela necessidade do conforto impagável da segurança, faz do homem um espírito pronto para o progresso, cuja culminância está na conquista da sabedoria e da possibilidade de sentar se à mão direita de Deus Pai, nosso Criador.

 

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

A vida é tudo


Nenhum homem, nenhum governo, nenhum povo, tem o direito de tirar a vida de um
ser humano, quem quer que seja.
Nos dias de hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, não vale mais falar de instinto de preservação para explicar ações contra a vida do homem.
A raça, a cor, o estado social, neste mundo globalizado, mais que nunca, pode ser motivo de divisão.
Os interesses econômicos/financeiros, a defesa da terra (estado) e os ideais políticos e sociais, não podem mais ser valorizados que a vida e o direito que cada um tem, em nascendo neste planeta, de poder morar onde lhe seja mais adequado e prazeroso.
Por este mundo afora muitos conflitos estão acontecendo. O homem com a desculpa de que precisa mais segurança, pelas armas, matando homens, quer fazer prevalecer os seus interesses, muitos deles, escondidos no egoísmo daqueles que querem dominar e imaginam que ele e seus seguidores têm mais direitos que os outros.
Mudar isso é uma questão de tempo e, principalmente, de conscientização.
Os homens que comandam os povos ou parcelas deles e que se encontram em conflito, precisam levar em consideração que cada ação gera uma reação de igual intensidade e, pior que isso, armazena no espírito dos que são atingidos o ódio, que multiplica a violência, formando uma bola de neve, que amanhã ou depois atingirá a todos. Os dominadores e os dominados serão vitimas, com certeza.
Eu só quero ver qual o povo que vai reclamar aquele pedaço de terra quando os palestinos e judeus se matarem uns aos outros.
Na verdade é difícil entender os motivos dos dois povos para trocarem tantas barbaridades.
Será que o homem do povo, aquele que trabalha todos os dias, está de acordo com tanta violência.
Quais os reais interesses que movem os dois lados?
Aí tem coisa, além, é claro, do fervor nacionalista e até religioso, pois caso contrário, os dois lados já teriam entrado em acordo e muitas vidas teriam sido salvas.
Infelizmente é que este e os outros conflitos pelo mundo acabem de uma hora para outra.
A Organização das Nações Unidas (ONU), que deveria representar os anseios de todos os homens da Terra, pela sua atuação tímida e, muitas vezes, omissa, parece representar mais os interesses diferentes daqueles que levariam a Paz a todos os recantos do planeta.
Lá na ONU se discutem os interesses dos membros e não os direitos do homem, apesar de tudo que disserem ao contrário.
A vida é tudo. Cada vida é unidade indispensável para o progresso do planeta.
 
 

sábado, 20 de abril de 2013

Zé Lopes


No valão que marcava o limite da cidade das chácaras, depois da última rua, a rua 13 de
maio, com suas cavernas formadas pelos arbustos, principalmente, as temíveis mamonas, servia para que todos os meninos que moravam nas cercanias, exercitassem o espírito explorador que faz parte integrante da personalidade dos homens.

Eram mistérios e mais mistérios.

O bambuzal oferecia material de primeira qualidade para as espadas e os bodoques com os quais as crianças brincavam de mocinhos e bandidos.

Mas, dentre todos os mistérios, o que mais mecheu com as cabeças daquelas crianças foi a presença intermitente do Zé Lopes, que fazia daquelas cavernas o lugar para seu descanso.

 Este homem povoou e deu asas, principalmente, às mentes das crianças, mas, também, dos adultos em torno das décadas de 40/50 do século passado.

Este homem, um, “ligeira”, um andarilho, era figura que hoje, com melhor capacidade de observação, poderiamos dizer que bela.

A sua altura era média para época, cerca de 1,60 m., corpo esguio e de tez queimada pelo sol, encimada por vasta cabeleira branca.

As suas ameaças de sorrisos, mostravam uma boca sem dentes, entretanto, apesar de tudo, com certeza, nos dias de hoje serviria de modelo fotográfico, pois como dissemos a sua figura era de beleza expressiva.

Nos seus melhores momentos, isto é, quando não estava sob efeito de bebidas, aceitava conversar e nestes momentos percebiamos que se tratava de uma pessoa de boa cultura, com indicações de que estivera embarcado em algum barco singrando mares.

Surpreendentemente, nestas ocasiões, receitava para as pessoas que lhe perguntavam a respeito de plantas, remédios para diversas doenças, como era costume naquela época.

Dentre as plantas que mais receitava era aquela que parecia ser a de sua preferência, a pariparoba, que ele mesmo colhia e oferecia para a maior parte dos seus “pacientes”:

A pariparoba (Pothomorphe umbellata) era conhecida pelos povos Tupi por caapeba (kaa peba) ... (vide figura)

1.    pariparoba, planta medicinal utilizada em chás que serve para aliviar problemas digestivos relacionados ao estômago, fígado, ...

Problemas estomacais e do figado

Você vai precisar de:

  • Um acolher de sobremesa com folhas de pariparoba picadas
  • Uma xícara de chá de água

Modo de Preparo: Ferva a água e acrescente as folhas de pariparoba. Deixe abafado por dez minutos e depois coe o chá.

Posologia: Beba duas xícaras do chá de pariparoba no dia. Uma pela manhã e outra antes do almoço.

Cuidados: Gestantes e lactantes devem evitar o uso.

Era uma grande figura o Zé Lopes, cuja pronuncia no caipires era Zé Lopi.

Entretanto, devia ter os seus fantasmas que o incomodavam e nessas ocasiões buscava o remédio na bebida.

Apesar disso nunca se portou de maneira violenta, pelo contrário, tornava-se um artista de um verdadeiro show.

Sua pele queimada pelo sol ficava nestas ocasiões, brilhantes refulgia em lampejos provocados pela incidência dos raios solares, seus olhos olhavam o horizonte e quando alguém se interpunha entre ele e o horizonte, ele olhava através do corpo da pessoa como se não existisse nada à sua frente.

Mas, o ápice do espetáculo era quando, colocando a mâo sobre a boca, abrindo e fechando os 3 últimos dedos, gritava a pleno pulmões:

- Aaaaaaaaa vida do marinheiro... aaaaaaa vida do marinheiro... aaaaaaaa vida do marinheiro...

E repetida interminavelmente o seu grito, com o qual parecia querer acordar alguma divindade que pudesse socorrê-lo, para salvá-lo das mãos dos seus fantasmas.

É uma pena não ter uma foto do Zé Lopes para ilustrar esta homenagem, pois ele como poucos foi figura impar e, hoje, após tantos anos, nestas linhas, pretensiosamente, fica a história de nossa cidade e de seus personagens um pouco mais enriquecida.

Que onde se encontre receba de todos os meninos que ele encantou o muito obrigado e as bençãos que ele merece.

 

terça-feira, 16 de abril de 2013

A Paciência


Na convivência diária a falta de paciência se expressa nos anseios daqueles que, acreditando no milagre das transformações sem a maturação das ideias, atropelam os acontecimentos, resultando daí a produção de obras imperfeitas.

Estes resultados de obras imperfeitas, por mais quantidade que se consegue alcançar, não satisfazem as necessidades de aprimoramento que o homem anseia.

Daí resulta a insatisfação generalizada, alcançando o cerne das necessidades do homem, contaminando-o de maneira a não permitir correções.

Neste exemplo mostramos com simplicidade os malefícios da falta de Paciência.

No entanto, os malefícios têm repercussão mais importante, pois transforma a satisfação em insatisfação, colocando o homem em alerta, provocando reação maléfica e sem medida, colocando venda nos olhos dos circunstantes, disseminando o mal estar em todos os setores da vida, ferindo na generalidade os participantes, provocando sentimentalmente a impossibilidade de entendimento.

Daí as lides que tanto mal estar provocam na atualidade.

Se sentimentalmente o homem fica impossibilitado ao entendimento com os seus pares, podemos dizer que a compreensão de que todos são iguais e merecem o respeito de todos fica prejudicado, impondo à vivência um desenrolar incontrolável de crises entre uns e outros, quando deveria haver a procura dos pontos convergentes.

Esta impaciência, a partir deste descontrole, promove em todos os setores momentos de enfrentamento, sem que o homem leve em consideração que é da convivência serena, planejada para que todos possam usufruir que ele vai viver em paz.

Analisando sob a luz do Evangelho de Jesus, que preconiza que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e a nos amarmos uns aos outros, a falta de paciência vendará o homem para o bom senso e nos momentos de crise faltará a ele a harmonia que o colocará ao lado da justiça dos homens e das Leis Divinas.

Assim, analisando os acontecimentos bestiais destes dias, o homem não enxergará que os homens que causam o mal, precisam mais que nunca de sua compreensão.

Não se sentirá estimulado a contribuir para que a justiça do homem esteja realmente aparelhada para, através das penas, fazer com que os faltosos sejam instados a se corrigir e paralelamente, porque os faltosos fazem parte do conjunto, sejam, na compreensão da Lei Divina, alvos de suas orações.

Pode parecer, por isso, muita pretensão a apologia à Paciência.

A favor desta ideia temos que lembrar que o homem a bem pouco tempo, escravizava, matava, tomava e fazia valer a lei do mais forte, e que os homens de hoje nada mais são do que o produto deste homem maldoso, que via sucessivas vidas acabou se transformando em homem de importante progresso moral, graças à observância da Paciência, que proporcionou a possibilidade do perdão, do entendimento e do desejo irresistível da paz, através da qual deverá identificar o caminho que o levará a alcançar a felicidade.

Ainda vai decorrer muito tempo e muita Paciência.

 

 

 

 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A força dos que querem fazer


O ararense caminhava apressadamente e o solado de couro do seu sapato bem engraxado, batendo no cimento da calçada fazia ressoar alto o toc-toc. Tão alto que as pessoas que passavam ao seu lado olhavam curiosos.

A avenida Paulista, naquela hora da manhã, com o sol das 9 horas, estava cheia de carros nas ruas e muita gente apressada nas calçadas.

Procurando sentir a sua carteira no bolso de trás, disfarçava o seu nervosismo e pensava:

º º º Por que será que me olham tanto? Será que já perceberam que eu sou do interior?

O paulistano tinha  fama de tudo menos de vidente e, com certeza, ele não estava com a sua procedência escrita na testa.

Andou mais uns três quarteirões e chegou a hora de atravessar a avenida. Sentiu um frio na barriga ao parar na guia da calçada. O semáforo estava a uns 50 metros à frente, mas atravessar a avenida ali ia adiantar pelo menos 100 metros de caminhada. Como não tinha com quem falar no meio daquela multidão, começou a pensar, novamente:

º º º Será que era verdade, o que aquele seu amigo de Araras havia dito? Não acredito que a quantidade de ararense atropelados em São Paulo seja muito alta. Aliás, lá em Araras, por exemplo, eu só tive que pular umas três vezes para não ser atropelado, na rua de maior movimento, a rua Tiradentes. Claro que, naquele dia, eu tinha uma desculpa. Discuti com o patrão e acabei perdendo o emprego. Bom, de qualquer forma, eu vou atravessar no farol e ficar com a consciência tranqüila.

Caminhou mais os 50 metros, parou com ar de doutor sabe tudo e esperou que o farol ficasse verde.

O farol ficou amarelo, ele arrumou o paletó e gravata. O farol ficou verde, ele não perdeu tempo e deu um passo já no leito do avenida e teve que bancar artista de circo para não ser atropelado pela perua, cujo motorista, distraído, avançou o sinal.

Ele jogou o corpo para trás, e com as suas costas atingiu dois outros indivíduos que vinham logo atrás dele e aconteceu o efeito dominó.

Caíram umas seis pessoas além dele e, inclusive, uma mulher grávida. Ele não tivera culpa, mas uns dois ou três envolvidos no acidente, resolveram xingá-lo, e, os outros, enalteceram a figura da mãe do motorista da perua.

Teve que esperar mais três longos minutos até que o sinal ficasse verde outra vez. E, desta vez, antes de dar o passo, olhou para um lado, olhou para o outro lado e só depois disso atravessou a avenida, quase que correndo.

O prédio da FIESP, uma obra de arte da arquitetura brasileira, já estava a vista e ele estimulado pela visão do seu destino, apressou, ainda mais, os passos.

Enquanto caminhava voltou a pensar:

º º º Nem sei se vou ser recebido por algum diretor de importância, mas, sem emprego e sem perspectiva de encontrar um para poder viver dignamente, por nada perderia a oportunidade de tentar sensibilizar os todos poderosos empresários e, de repente, quem sabe a minha determinação não ajude a minha cidade a ter mais uma indústria.

º º  º A monocultura da cana de açúcar, que já rendeu tantos dividendos para os ararenses, inclusive, permitindo que Araras fosse por várias vezes a cidade de maior progresso no Brasil, com o final do programa de incentivo à produção e uso do álcool como combustível, está precisando de uma ajuda importante para permitir que o progresso não fique parado.

º º º A globalização da economia, um novo desafio para os brasileiros vencerem, só poderá ser vencido se os municípios tiverem, cada um deles, uma industrialização que possa oferecer empregos aos seus filhos e com os impostos recolhidos a cidade possa sustentar-se.

º º º É certo que muitas industrias instalaram-se na minha terra, mas é preciso muito mais. Eu acho que vai ser muito difícil, pois todas as outras cidades estão correndo atrás.

º º º Um outro negócio que poderia aliviar para Araras esta pressão da concorrência com as outras cidades, seria a instalação de um programa arrojado de incentivo ao turismo, acompanhado, é claro, de obras para dotar a cidade de infra-estrutura.

º º º Acho que não é só a Prefeitura que tem que ver estas coisas, e, aliás, ela deveria nomear uma comissão de alto nível para analisar os problemas desta questão que é muito complexa. Empresários, sindicalistas, operários, profissionais liberais e outros comporiam esta comissão.

E lá ia o ararense, esbarrando num e noutro paulistano, certo de que ia ter sucesso na sua empreitada para conseguir uma indústria para Araras.

º º º O certo era arrumar uma siderúrgica, que apesar da poluição, criaria a necessidade de outras empresas. Mas a cidade não tem minério de ferro. O Ito quebraria o galho com o seu depósito de ferro velho.

Pensou isto e precisou curvar-se para rir. As pessoas apressadas olharam para ele pensando que estava insano. Ele nem se importou.

Deu mais uns trinta passos e escutou uma batida e barulho de freios. Olhou para trás a tempo de ver o Opala velho desgovernado vindo para cima dele.

Morreu e sua nobre intenção não realizou-se.

Acordou espírito no mundo invisível e aquela vontade de ajudar a cidade ainda estava presente. Era aniversário da cidade e se tem presente que todas as cidades gostam, é uma indústria, que dê empregos para os seus filhos e que recolham o imposto direitinho.

Percebeu a presença de um senhor simpático sentado numa cadeira e assustou-se.

- Calma. disse o homem. - Você está entre amigos. Este seu desejo de presentear a sua cidade já não tem mais importância. Esses anos em que você ficou inconsciente nós cuidamos disso.

- Olha a relação de indústrias que estão instaladas lá em Araras:

1 Siderúrgica

1 Montadora de Automóveis

1 Fábrica de Televisão

1 Fábrica de Cerveja e Refrigerantes

1 Fábrica de Materiais Esportivos

1 Fábrica de Componentes Eletrônicos e de Computador

Além disso, a Usina de Reciclagem de Lixo, é a maior fornecedora de adubo orgânico da região.

O ararense, deixou acender em seu rosto a luz da felicidade e foi encaminhado para uma nova reencarnação, numa outra cidade necessitada do Estado. Só não se sabe se no Estado de São Paulo. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mesa redonda no astral para ajudar nossa cidade


O ambiente era de tal beleza que as cores, nas mais variadas matizes, faziam todos sentirem-se leves
e extremamente calmos.
Dito Flautista, demonstrando ser o líder ali, tomou a palavra e se dirigiu aos seus dois amigos:
- Meus amigos nós precisamos fazer alguma coisa antes que seja tarde. Nossa querida cidade está sob ameaça constante das drogas.
Zé Gostoso, sério complementou:
- É verdade quando estive lá para dar uma liçãozinha num irmão nosso, pude sentir no ar a presença maligna. Garanto que meu amigo haveria de sentir náuseas, pois faz pouco tempo que saiu da clínica de recuperação.
Com certeza sentiria. – respondeu Zé Lopes – sentado do outro lado da mesa. Só Deus sabe os sofrimentos que um vício acarreta para o espírito. Tanto tempo perdido, dando trabalho e ocupando muita gente que deveriam estar socorrendo outros irmãos. Felizmente, para mim, Deus não abandona nenhum de seus filhos e o fato de estar com vocês dois aqui prontos para planejar como ajudar os nossos conterrâneos é para mim uma grande vitória que credito aos meus amigos que, nas suas orações e até mesmo em pensamentos de carinho para com minha pessoa, possibilitaram que, você Dito Flautista e você Zé Gostoso, pudessem me resgatar e encaminhar-me para a clínica de recuperação. Bem, mas isto já passou e vamos para frente, pois há muito trabalho a ser feito.
Conforme me foi solicitado estive lá em Araras e buscando noticias, li no Opinião Jornal, um trabalho do senhor Benedito Freitas, de grande valia. Tudo o que ele disse é a mais pura verdade. Mas nós todos sabemos que não basta tudo aquilo, é preciso muito mais.
O papel dos familiares na recuperação de um viciado é de muita importância e todos devem dar ênfase a isto.
As mães ou os pais e até mesmo irmãos ou tios, devem entender que, o principal perigo para aqueles que se internam numa clinica e saem de lá desintoxicados são as companhias, emissários dos distribuidores que acabam levando o indivíduo novamente para os braços da droga.
Vai parecer exagero, mas não se conhece método mais eficaz que o “100% de presença”.
Consiste o 100% de presença, na disposição, do pai, por exemplo, em acompanhar o filho nas 24 horas do dia, comendo, pescando, dormindo  passeando, trabalhando, ou seja, impedir que os seus amigos de infortúnio venham novamente encaminhá-lo para a desesperança.
- Mas isso é muito difícil de ser feito – interferiu Dito Flautista.
- Eu também acho isto muito difícil - complementou Zé Gostoso – mas, consigo entender o que o Zé Lopes está dizendo e dou-lhe razão. Sem sacrifícios a possibilidade de sair das drogas fica quase que impossível.
- Então está acertado – arrematou o Dito Flautista – Agora só falta fazer com que estas instruções do bom Zé Lopes cheguem lá na terra. Zé Gostoso que já tem prática em frequentar a atmosfera terrestre vai incumbir-se disso.
- Tá certo – concordou o Zé Gostoso – só que desta vez eu tenho que intuir corretamente, pois da outra vez o senhor misturou as minhas melancias com as laranjas dele e teve gente que reclamou. Vou mudar o jargão:
-Vai na escola dorme. Come melancia acorda.
O pulo que o nosso amigo deu ao acordar na madrugada foi tão violento que a sua esposa acordou.
- Não me vai dizer que foi outro sonho daqueles?
- Foi mais um e desta vez foi com Dito Flautista, Zé Gostoso e Zé Lopes que, vão começar a ajudar a recuperar os drogados da nossa cidade.
 
 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Zé Gostoso, o professor de humildade


Há horas ele andava sem rumo. Já tinha passado pelo bar do Calçadão uma porção de vezes, na
esperança de encontrar um amigo para um bate papo.

Já estava pronto para voltar para casa e ficar ao alcance de sua esposa quando, dobrou a esquina, com uma cesta coberta por um pano branco no braço esquerdo, o Zé Gostoso. Vinha sorrindo como sempre.

- Ô Zé, que que tem hoje? Banana ou laranja?

Sem modificar o sorriso que o tornava, ainda mais bonito, o Zé Gostoso respondeu, impostando a voz de vendedor para que todos que estivessem na redondeza escutassem.

- Laranja amarelinha e doce que cura dor de dentes na hora. Laranja mel, laranja do céu.

Ao ouvir a voz bonita do Zé Gostoso vendendo o sua laranja, ele notou alguma coisa diferente na “letra”.

- Ô Zé, ô Zé - foi chamando a atenção da figura interessante e rica que, no entanto, sem lhe dar atenção continuou a usar o vozeirão para anunciar o seu produto:

- Laranja amarelinha e doce que cura dor de dentes na hora. Laranja mel, laranja do céu.

A impressão que ele teve é que o Zé Gostoso nem notou a sua presença, apesar de ter-lhe feito uma pergunta direta.

O Zé Gostoso virou a esquina e saiu do campo visual dele. Sentou-se num dos bancos e de mão segurando o queixo começou a pensar.

º º º Engraçado, o Zé Gostoso nem me deu pelota. Agora é que estou percebendo aquele olhar dele que parecia enxergar longe.  Era porque estava olhando através de mim, como se eu não estivesse ali na sua frente, engraçado.

Ficou dando tratos aos seus pensamentos e não notou que, o esbranquiçado do ar, dava ao Calçadão um aspecto de paz. Olhou para os bancos procurando os seus amigos que costumeiramente estão por ali sentados olhando as modas e não viu ninguém e se deu conta que apenas ele e mais ninguém estava lá no calçadão. Bem, o Zé Gostoso era alguém e ele passara por ali. Estava olhando para o lado da praça quando ouviu novamente a voz forte do Zé Gostoso que, dobrou a esquina da Júlio Mesquita e veio andando em sua direção.

- Laranja amarelinha e doce que cura dor de dentes na hora. Laranja mel, laranja do céu.

Deu um salto pondo-se de pé e, desta vez, disposto a parar a figura ímpar para conversar com ela. Colocou-se à frente do vendedor de laranjas e este passou por dentro dele sem sequer perceber a sua presença. As suas pernas tremeram e ele pensou o pior: º º º Tô morto!

Nisso, por obra de algum milagre, à sua frente um redemoinho se fez e uma imagem de dentro dele falou-lhe:

- Meu amigo. Quantas e quantas vezes esta alma pura, vendendo laranjas passou por você sem que se dignasse a lançar um olhar, mesmo de curiosidade em sua direção. Esta alma pura andou por todos os cantos desta cidade, dando exemplos de humildade e de participação, não rejeitando nunca o trabalho que destinavam a ela. O seu bate papo era de um homem sem cultura, mas de um espírito de muita luz. Sempre tinha, para todos um sorriso, um gesto, uma gentileza. Assim é a vida meu amigo, Deus coloca ao alcance de todos a sua brandura, muitas vezes representada pelas almas boas como a do Zé Gostoso e nós de cima de nossa pretensa sabedoria, deixamos de olhar. Passa o tempo e quando olhamos para trás, vemos as belezas que deixamos de desfrutar porque não paramos para levantar os olhos para prestar atenção nos nossos companheiros de viagem sobre a terra.

- Laranja amarelinha e doce que cura dor de dentes na hora. Laranja mel, laranja do céu.

- Zé Gostoso, Zé Gostoso!

- Agora eu estou vendo o senhor, em que posso ser útil?

- Por favor, deixe-me dar um abraço e agradecer-lhe pela grande lição. Muito obrigado. De agora em diante vou  dar mais atenção a todos.

- Isto mesmo senhor, agora sim o senhor merece saborear uma laranja do céu.

O senhor acordou e sentiu na sua boca o gosto de uma laranja como nunca tinha experimentado igual, doce como o mel, uma laranja do Céu.