terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma grande piada

Com a interdição da cadeia de Araras, espero que definitivamente, como amostra, novamente, abriu-se a discussão sobre a penúria em que se acha o sistema carcerário brasileiro.
É certo que algum esforço tem sido feito e algumas (poucas) prisões federais de máxima segurança entraram em funcionamento.
Em nossa cidade este assunto tornou-se, para não dizer hilário, uma pedra no sapato da justiça.
Na verdade, esta mesma justiça que é regida por leis penais arcaicas, é vitima das brechas pelas quais transitam os inimigos da verdade, inventores de fatos, para que a justiça, quando feita, seja tardia e, por isso, ineficiente.
É preciso, sob pena de o Estado Brasileiro cair no ridículo de uma guerra intestina, que os governantes, em todos os patamares, decidam política e administrativamente, de vez, extirpar este cancro.
Necessário dizer que no Brasil os problemas se avolumam. Temos problemas em todos os setores, principalmente nos três principais, Justiça, Saúde e Educação para não falar nos demais.
Ocorre que é corrente a afirmativa de todos os setores da vida brasileira de que o Brasil cobra muitos impostos.
Será verdade?
O fato é que entra e sai governo e ele nunca faz o que deve ser feito porque o dinheiro não dá.
Assim a saúde precisa de mais dinheiro, pois falta remédio e a contratação de médicos especialistas não são feitas por causa de salários baixos oferecidos.
Na Educação faltam escolas técnicas e um melhor programa de alfabetização, porque o em andamento, infelizmente, tem criado verdadeiras aberrações, com alunos depois de 8 anos de estudo não saber exatamente o que fala e o que lê. Escrever então é uma lástima.
Na justiça a aplicação das Leis, além de serem arcaicas, esbarra na falta de mão de obra para que a mesma seja colocada à disposição da sociedade.
Junte-se a estes problemas, o fato de as cidades deste Brasil varonil se acharem com o direito de não quererem nos seus limites, Cadeias, Centros de Ressocialização ou Penitenciárias.
Assim, sem a vontade de resolver o problema prisional, vamos todos nós vendo condenados administrando seus negócios de dentro de verdadeiras fábricas de bandidos, e quando não, soltos por falta de espaço onde deveriam pagar pelos seus erros.
Falar em recuperação de marginais é o mesmo que falar de milagre.
Celas para aguardar a vez de ser encaminhado para prisões, apesar de reconhecer o esforço, é pura e simplesmente uma grande piada.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ciranda do tempo

— Ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar.
O som longínqüo da saudade chegava até os meus ouvidos. A inocência naquele tempo era uma realidade belíssima que todos nós, sem desconfiarmos do seu valor, nem ligávamos.
A saia plissada, em azul marinho, a blusa branca e o laço de fita compunha o uniforme das normalistas.
A incontestável beleza que se impunha à natureza misturava-se com o objetivo da futura professora de disseminar a cultura.
Passados tantos anos, longe das salas de aulas, reverencio as minhas professoras e os meus professores, pois sou o produto do esforço de cada um deles. Jamais poderei agradecê-los com toda a grandeza que eles merecem. Por isso, na simplicidade do meu muito obrigado, declaro-me devedor perpétuo de todos eles.
Antes disso, no entanto, moleque daqueles tempos românticos, quantas e quantas vezes eu e meus amigos de infância abusamos do não ter o que fazer para atazanar a paciência de todos que, pudessem ter em sua casa, no seu trabalho ou na sua escola, alguma coisa que nos desse a chance de nos divertirmos.
Entrarmos nos quintais que tinham pé de mamão, apanhar a fruta, comê-la sentados em volta do pequeno lago com estátuas, ao lado da igreja e jogarmos as cascas, suculentas e terrivelmente amarelas, pelas janelas, para dentro das salas de aula do Ginásio.
Claro que escolhíamos os momentos mais sublimes para cometer os nossos atos. Esperávamos o momento do ensaio do orfeão e fazíamos o bombardeio.
Era aquele alvoroço. Correndo a mais não poder, com o canto dos olhos, víamos aparecer nas janelas um monte de fitas brancas, tendo abaixo um monte de moças bonitas indignadas com a nossa má educação.
Escrevo isso e vou sentindo um frio percorrendo o meu corpo, provocando na altura da boca do estômago um mal estar indescritível.
Se pudesse voltar no tempo com a limpeza que tenho hoje, na minha cabeça, é claro, não faria aquilo. No entanto, já está feito e eu, tardiamente, imploro o perdão daquelas moças.
A culpa - acho que é mais uma desculpa - é da televisão que foi inventada tardiamente. Isso provocou em toda a molecada daquela época uma ausência de informação que nos colocavam, todos, meio perdidos no tempo. Faltou nos momentos cruciais da nossa formação um mundo de informação que, hoje, a molecada (nem sei se o nome ainda e esse) manuseia com invejável maestria.
Esses são os fatos, mas, o que realmente ficou-nos como imagens, sem precisar de retoques, belas, coloridas e amadas foram as normalistas.
Saias azul marinho, blusas e fitas brancas . . .
Dona Maria, sem casca, foi logo dizendo, isso é que é amor recolhido!
Aleixo!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Chora Viola

— Bom dia dona Maria!
— Bom dia seu Vernil! Como é, já passou a "paura" da Vacina contra a Gripe?
— Graças a Deus. Na verdade tive umas pequenas alterações, tosse e coriza, que passaram rapidamente. Acho que o medo era mais por causa de histórias de outras reações.
— Essa Vacina vai dar ao senhor imunidade contra a gripe que, com o frio que começou a fazer, vai afetar muita gente. Segundo a minha experiência, é na mudança de temperatura que a gente pega essa danada gripe.
— É verdade. Sabe Dona Maria, nesta semana recordando as modas de viola que ouvia, quando era garoto, na casa do meu tio Zé Branco. Um parente dele e, por conseqüência parente meu, chamado Zé Branco, também, vinha lá de Pirassununga e violeiro que era, juntamente com os meus primos, Rui e Lalato, faziam uma tarde inteira de cantoria de viola, até chorei de saudade.
— O Zé Branco de Pirassununga era um homem quase alto, forte e de incrível bigode preto e espesso. Seu olhar era tranqüilo e submetia-se ao desejo dos meus primos, principalmente, e de toda a vizinhança, cantando as modas da moda. A rua 13 naqueles dias ficava mais bonita e engalanava-se.
— O violeiro quando vinha para cá sempre trazia um parceiro que, por mais que me esforce, não consigo lembrar os nomes. Só sei que eram interpretações de clássicos dos sucessos da época.
— Naquele tempo, a mortadela era o produto mais badalado. Por isso, cubinhos de mortadela com limão eram servidos, acompanhados da caninha Batistella.
— Nossa seu Vernil, isso foi há quantos séculos?
— Foi no final da década de 40 e começo da década de 50, quando o Petróleo é nosso, dominava os meios de comunicação. Por isso, é que, de vez em quando, costumo sentar-me na minha sala e escutar os clássicos de viola, avivando as lembranças de um tempo que, infelizmente, não volta mais.
— Como eu sou mais nova que o senhor o meu gosto para músicas é um pouco diferente. Cresci sob o avanço do ie, ie, ie, músicas da jovem guarda.
— Eu gosto delas, também, pois nos bailes, depois do domínio dos boleros, dancei muito esses ritmos. Entretanto, dona Maria, confesso que, o que marcou mesmo a minha vida, foram as modas de viola, e em especial aquelas ouvidas na casa do tio Zé Branco, com o Zé Branco de Pirassununga cantando, as vezes acompanhado pelo Lalato e pelo Rui, que tocava um pandeiro redondo.
— Bem, homem, chega de antigamente, vamos falar do presente. O "bochicho" sobre cadeia ou não cadeia, entre as autoridades do município está ocupando a mídia.
— É verdade, dona Maria, enquanto isso o crime continua acontecendo em números inaceitáveis.