quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Prevenindo o Homem contra as Drogas

O aumento assustador do número de viciados em drogas está a exigir de toda a sociedade, efetivas atitudes no combate ao mal do século.

Escutamos aqui e ali reclamações com relação ao comportamento da Polícia, todos nós não conseguimos compreender, por exemplo, como os pontos de distribuição de drogas sejam conhecidos pela maioria das pessoas e a Polícia parece não conhecer, pois se soubessem, naturalmente, prenderiam os marginais. Um mistério para não dizer UMA VERGONHA.

Vemos pessoas, verdadeiras obreiras da providência divina, se desdobrarem no sentido de esclarecer, nas escolas, nos clubes, nas festas e onde seja possível, os malefícios e como evitar as Drogas.

Conhecemos pessoas, verdadeiros anjos encarnados, assistindo, encaminhando, aconselhando, ensinando e se desdobrando para recuperar os VICIADOS.

Acreditamos que mal ou bem, em diversas frentes, alguma coisa está sendo feita para combater o MAL DO SÉCULO se bem que, sem efetiva eficácia em virtude do grande atraso moral da humanidade.

Por tudo isso é necessário que sejamos cada vez mais criativos se quisermos lograr êxito na inversão nesse estado de coisas que mostram, por enquanto, vitória dos traficantes de drogas.

A propósito, no livro DRIBLANDO A DOR, o espírito de Luiz Sérgio nos municia de informações que são verdadeiros tesouros e armas poderosas contra as drogas. É nessa fonte abençoada que vamos buscar alguns ensinamentos.

No capitulo III, sobre educação infantil temos o seguinte dialogo, Sara pergunta a Enoque:

É certo presentearmos por demais a criança?”

Enoque responde:
Não vemos inconveniência nisso, apenas que a criança aprenda a amar seus brinquedos e não os destrua. “Ela precisa SENTIR que os pais fizeram um esforço para adquirir o brinquedo.”

Segundo Enoque, o mundo da criança até os 4 anos de idade é um mundo de fantasias e a partir daí ela precisa começar a SENTIR no mundo que a cerca os seus valores reais. Notem que ele não diz APRENDER E SIM SENTIR.

Precisa SENTIR o custo das roupas, da comida, da inflação, a necessidade de trabalho quando crescer, de fazer amigos, de viver se relacionando bem com as pessoas, evitar as más companhias.

O dia tem 24 horas e os pais modernos, às voltas com o trabalho, com a participação social, com as contas bancárias, tem que encontrar algumas horas para se dedicarem aos filhos.

De nada adianta bons colégios, boa higiene, boas roupas, bons clubes se não derem a eles o artigo mais barato o mais abundante na natureza e o mais importante: O AMOR.

As drogas, assim como as doenças contagiosas, são de tratamento difícil, é necessário prevenir.

No caso, o tempo dedicado, o amor, o diálogo, o ensinar a SENTIR RESPONSABILIDADES são os componentes da única e eficaz vacina para livrar os nossos filhos do mal do século - A DROGA.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pluralidade dos Mundos

Pela sua natureza o homem tem fascínio pelo desconhecido.
Graças a isso muitos segredos têm sido desvendados.
Esse espírito de aventura, entretanto, não é suficiente o bastante para fazê-lo entender a grandiosidade do Universo.

Nessa impossibilidade, portanto, o homem tem que se apegar às informações, às observações e, principalmente, ao respeito pelo nosso CRIADOR.

Uma informação perfeita encontramos no Evangelho de JESUS:
“Não se turbe o vosso coração, credes em DEUS, crede também em MIM.
Há muitas moradas na Casa de MEU PAI.
Se assim não fosse, já EU vo-lo teria dito, pois ME vou para vos preparar o lugar.
Depois que ME tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para MIM, a fim de que onde estiver, também vós aí estejais.
João, Capítulo XIV, versículos 1, 2 e 3.”

Baseados nessa informação de JESUS, ao abservarmos o firmamento, vemos o grande número de corpos celestes, estrelas, planetas, satélites, numa pequena amostra visível, do que realmente é o grande Universo.

O respeito ao nosso CRIADOR avoluma-se e passamos a valorizar a vida que ELE nos dá.

Para o espírito a vida é a ferramenta primordial. O aproveitamento dela, observando o Evangelho de JESUS, é que vai dotá-lo de conhecimentos para, a cada passo desvendar a grandiosidade do Universo.

Assim, amado irmão, aproveite essa vida atual para buscar a maior experiência possível. Lembre-se, entretanto, que a busca de experiência não exclui o auxilio aos irmãos de jornada. Seja exemplo no amor.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pensão Alimentícia

Marido e mulher, no lar, têm que suprir todas as necessidades de seus filhos.
Saúde (Convênio médico ou a saúde pública), educação, roupas, alimentação, carinho, exemplos, etc.
Atendidas as necessidades relacionadas estarão as famílias, constituídas por pais e filhos, atendendo o que o uso e costume consagraram como meio de se identificar os cuidados que devem ter os pais na formação de seus filhos.
Isso é o que ocorre como regra no nosso atual progresso como seres humanos.
Entretanto, como regra, todas as regras têm exceções.
Na vida do povo brasileiro não é diferente.
Os lares desfeitos, por caprichosos anseios ou por necessidades, que são exceções, criam problemas para que o atendimento das necessidades dos filhos possibilite que eles se tornem cidadãos, ficando cada caso sujeitado ao entendimento daquele que não fica com a guarda da filho, que nem sempre leva em consideração o dever e a obrigação que cada um dos pais deve obedecer para ajudar na criação dos seus filhos.
As Leis Brasileiras são exigentes, e não poderia ser de outra maneira, para que os pais atendam estas obrigações.
Assim cada ex-cônjuge que não tem a guarda do filho fica obrigado por Lei a contribuir com um valor, determinado por um Juiz, baseado sempre nas necessidades do filho e na possibilidade que ele tem de pagar.
Aquele que paga, na grande maioria das vezes, alega que o que ele ganha é muito pouco e, por isso, não teria como pagar a famosa Pensão Alimentícia.
Como exemplo, para derrubar esta alegação, explicamos o seguinte:
Caso o ex-cônjuge que não tem a guarda do filho, ganhe apenas o suficiente para pagar um prato de comida por dia, ficaria obrigado a dividir o prato de comida com o filho, como pagamento da Pensão Alimentícia que é a sua contribuição possível para a criação do filho.
Isso é apenas um exemplo e como o filho precisa de mais contribuição daquele que obrigado a pagar a Pensão Alimentícia e não tem condição, a Justiça possibilita buscar, junto aos avôs, junto aos tios e junto a qualquer membro da família, que tenha condições de pagar, o valor que falta para que o menor tenha atendida as suas necessidades básicas para tornar se um cidadão com a possibilidade de ser útil ao meio em que vive.
Lembramos por oportuno que, quem não paga o valor da Pensão Alimentícia decretado pelo Juiz, pode acabar sendo preso e, mesmo assim, obrigado a pagar os valores corrigidos.








segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Seres Universais

Quando nos falta algo é que avaliamos a sua importância para a nossa vida.

O jargão é antigo, mas se renova há cada segundo de nossas vidas.

Pobres mortais, enquanto dure a nossa ventura na carne, vamos sendo sacudidos pelos acontecimentos das perdas, principalmente, perdas das pessoas que amamos, até que nós mesmos deixemos a vida e fazemos sofrimentos para os que nos amam.

Apesar de ser a única certeza da vida, a morte continua sendo inexplicável para a maioria da humanidade.

No nosso modo de entender as missões que nos cabem quando nascemos neste mundo, só serão efetivadas quanto mais tempo tivermos para trabalhá-las.

Quanto mais vivermos mais obras haveremos de deixar, mais trabalhos teremos feito e, portanto, morreríamos certos de nossa missão ter sido coroada de êxito.

Nem todos pensam assim.

Os que se sacrificam entregando suas próprias vidas em troca de um fanatismo, serão, temos certeza alvos da Lei que rege o Universo e pagarão caro pelo ato extremado.

Os que passam o tempo agredindo os seus corpos, levando os a sucumbir antes do tempo que poderiam durar em serviços destinados a cumprir as suas missões, não estarão, também, fora da ação da Lei que rege o Universo.

Como deverão pagar é coisa que não vamos especular, mas que todos terão que pagar pelo desapreço à vida, é uma certeza.

A grande maioria da humanidade, felizmente, preza a vida e a vida dos que amam.

Assim, o dia de finados que guardamos aqui no Brasil, é bem um acerto, onde demonstramos o nosso carinho, a nossa saudade e a nossa certeza de que o Nosso Pai Celestial estará no leme do grande rodízio de almas, espalhando entre todas, em todas as suas vidas, o amor, cuja expressão completa terá a magnitude de todo o Universo.

Por isso, aos que não ligaram a mínima para a vida, ou aos que cumpriram com o seu dever, e nos anteciparam na ida para a vida maior, cabe endereçarmos as nossas orações.

Aos primeiros, pedindo a Misericórdia inesgotável do Senhor, no sentido do acolhimento e da multiplicação das oportunidades, para que eles, através das experiências, aprendam a dar valor à vida.

E aos segundos, pedindo a Benção do Senhor e agradecendo pelas oportunidades dadas e que permitiram a eles alcançar o sucesso nas suas missões.

Sempre é bom lembrar que ninguém sofre por ninguém. Os sofrimentos são as válvulas que impedem que as almas se degenerem em atitudes pouco dignas.

E, que sempre, só são atingidas pelo sofrimento, as almas que ainda precisam aprender o valor da vida.

Com toda a certeza, ao reverenciarmos os nossos mortos, estaremos enaltecendo a vida, o bem mais precioso que Deus nos deu, como meio único, de através de bem vivê-la alcançarmos um lugar mais iluminado na nossa trajetória pelo Universo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Avisos do alto

O Rádio continua sendo o rei da comunicação e da prestação de serviços à população.

O seu estilo envolve as improvisações dos seus trabalhadores.

São locutores que levam as noticias para o ar, uns com voz bonita, outros com voz sem muito brilho e recebem o resultado do que fazem quase que imediatamente, pela participação dos ouvintes.

Estes, os ouvintes, não se limitam a concordar ou discordar das noticias e, muitas vezes, lançam no ar a interpretação que dão aos fatos.

A grande surpresa que causa este fato é, exatamente, que os comentaristas eventuais em que se transformam os ouvintes do rádio, coloquem criatividade e compreensão nas suas opiniões.

É claro que a nossa língua por ser difícil de ser falada corretamente, digamos, não é premiada nestes momentos, entretanto, no linguajar bem coloquial e costumeiro dos lugares, fazem as colocações bem claras e objetivas.

Isto da uma inequívoca certeza de que, apesar da falta de cultura, entendida como tal, o conhecimento de técnicas e os acontecimentos científicos, o povo nos parece, esta apressando mostrar a todos, principalmente, às elites dos negócios e da política, que cada vez mais ele entende o seu valor no contexto da convivência social a que todos estamos envolvidos, obrigados, e começa com inteligência e persistência a reclamar o direito que ele tem.

A ordem do período Medieval, infiltrada na nossa frágil Democracia que ainda é vigente, aos poucos, mesmo porque não há como impedir que aconteça, há de render-se à realidade da necessidade da convivência mais equânime.

Os bens escassos obrigam a sociedade aos estudos direcionados aos mais diversos caminhos e, cada vez mais, o povo ganha importância como variável imprescindível, tanto como concordante das soluções escolhidas, como, também, aquele que vai, de fato, seguindo o planejamento, tornar o caminho escolhido em uma realidade.

Assim, os anéis e os dedos estarão como nunca estiveram sob escolha.

O tempo que isso vai levar ninguém sabe, mas o caminho que vem sendo trilhado e que leva a sociedade a esta escolha é bem visível e, até mesmo, os escândalos que espocam aqui e ali, são como pequenos abalos sísmicos que prenunciam o grande terremoto da grande modificação social pela qual o planeta vai passar.

E não é à toa que os que se preocupam com o avanço da humanidade mandam, sempre que possível, os seus alertas.

Cabe ao homem, responsável e destinatário por tudo e de tudo, manter o ouvido aberto, porque é hora de ouvir e de agir.

Nossa contribuição neste sentido encontramos num parágrafo na folha 135 do Livro Após a Tempestade, de Joana de Angelis e do médium Divaldo Pereira Franco, onde a autora espiritual, clareia a nossa mente a respeito, escrevendo:

“Estes, afervorados ao ideal de servir, examinem as dores do próximo, suas necessidades imediatas, e, ao invés do simplismo da dádiva que libera da responsabilidade. A ação profunda, a realização social, que não apenas amenize o problema, agora, mas que, possivelmente, resolva a dificuldade, mediante os recursos que lhes oferecemos, para se libertarem a si mesmos”.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma grande piada

Com a interdição da cadeia de Araras, espero que definitivamente, como amostra, novamente, abriu-se a discussão sobre a penúria em que se acha o sistema carcerário brasileiro.
É certo que algum esforço tem sido feito e algumas (poucas) prisões federais de máxima segurança entraram em funcionamento.
Em nossa cidade este assunto tornou-se, para não dizer hilário, uma pedra no sapato da justiça.
Na verdade, esta mesma justiça que é regida por leis penais arcaicas, é vitima das brechas pelas quais transitam os inimigos da verdade, inventores de fatos, para que a justiça, quando feita, seja tardia e, por isso, ineficiente.
É preciso, sob pena de o Estado Brasileiro cair no ridículo de uma guerra intestina, que os governantes, em todos os patamares, decidam política e administrativamente, de vez, extirpar este cancro.
Necessário dizer que no Brasil os problemas se avolumam. Temos problemas em todos os setores, principalmente nos três principais, Justiça, Saúde e Educação para não falar nos demais.
Ocorre que é corrente a afirmativa de todos os setores da vida brasileira de que o Brasil cobra muitos impostos.
Será verdade?
O fato é que entra e sai governo e ele nunca faz o que deve ser feito porque o dinheiro não dá.
Assim a saúde precisa de mais dinheiro, pois falta remédio e a contratação de médicos especialistas não são feitas por causa de salários baixos oferecidos.
Na Educação faltam escolas técnicas e um melhor programa de alfabetização, porque o em andamento, infelizmente, tem criado verdadeiras aberrações, com alunos depois de 8 anos de estudo não saber exatamente o que fala e o que lê. Escrever então é uma lástima.
Na justiça a aplicação das Leis, além de serem arcaicas, esbarra na falta de mão de obra para que a mesma seja colocada à disposição da sociedade.
Junte-se a estes problemas, o fato de as cidades deste Brasil varonil se acharem com o direito de não quererem nos seus limites, Cadeias, Centros de Ressocialização ou Penitenciárias.
Assim, sem a vontade de resolver o problema prisional, vamos todos nós vendo condenados administrando seus negócios de dentro de verdadeiras fábricas de bandidos, e quando não, soltos por falta de espaço onde deveriam pagar pelos seus erros.
Falar em recuperação de marginais é o mesmo que falar de milagre.
Celas para aguardar a vez de ser encaminhado para prisões, apesar de reconhecer o esforço, é pura e simplesmente uma grande piada.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ciranda do tempo

— Ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar.
O som longínqüo da saudade chegava até os meus ouvidos. A inocência naquele tempo era uma realidade belíssima que todos nós, sem desconfiarmos do seu valor, nem ligávamos.
A saia plissada, em azul marinho, a blusa branca e o laço de fita compunha o uniforme das normalistas.
A incontestável beleza que se impunha à natureza misturava-se com o objetivo da futura professora de disseminar a cultura.
Passados tantos anos, longe das salas de aulas, reverencio as minhas professoras e os meus professores, pois sou o produto do esforço de cada um deles. Jamais poderei agradecê-los com toda a grandeza que eles merecem. Por isso, na simplicidade do meu muito obrigado, declaro-me devedor perpétuo de todos eles.
Antes disso, no entanto, moleque daqueles tempos românticos, quantas e quantas vezes eu e meus amigos de infância abusamos do não ter o que fazer para atazanar a paciência de todos que, pudessem ter em sua casa, no seu trabalho ou na sua escola, alguma coisa que nos desse a chance de nos divertirmos.
Entrarmos nos quintais que tinham pé de mamão, apanhar a fruta, comê-la sentados em volta do pequeno lago com estátuas, ao lado da igreja e jogarmos as cascas, suculentas e terrivelmente amarelas, pelas janelas, para dentro das salas de aula do Ginásio.
Claro que escolhíamos os momentos mais sublimes para cometer os nossos atos. Esperávamos o momento do ensaio do orfeão e fazíamos o bombardeio.
Era aquele alvoroço. Correndo a mais não poder, com o canto dos olhos, víamos aparecer nas janelas um monte de fitas brancas, tendo abaixo um monte de moças bonitas indignadas com a nossa má educação.
Escrevo isso e vou sentindo um frio percorrendo o meu corpo, provocando na altura da boca do estômago um mal estar indescritível.
Se pudesse voltar no tempo com a limpeza que tenho hoje, na minha cabeça, é claro, não faria aquilo. No entanto, já está feito e eu, tardiamente, imploro o perdão daquelas moças.
A culpa - acho que é mais uma desculpa - é da televisão que foi inventada tardiamente. Isso provocou em toda a molecada daquela época uma ausência de informação que nos colocavam, todos, meio perdidos no tempo. Faltou nos momentos cruciais da nossa formação um mundo de informação que, hoje, a molecada (nem sei se o nome ainda e esse) manuseia com invejável maestria.
Esses são os fatos, mas, o que realmente ficou-nos como imagens, sem precisar de retoques, belas, coloridas e amadas foram as normalistas.
Saias azul marinho, blusas e fitas brancas . . .
Dona Maria, sem casca, foi logo dizendo, isso é que é amor recolhido!
Aleixo!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Chora Viola

— Bom dia dona Maria!
— Bom dia seu Vernil! Como é, já passou a "paura" da Vacina contra a Gripe?
— Graças a Deus. Na verdade tive umas pequenas alterações, tosse e coriza, que passaram rapidamente. Acho que o medo era mais por causa de histórias de outras reações.
— Essa Vacina vai dar ao senhor imunidade contra a gripe que, com o frio que começou a fazer, vai afetar muita gente. Segundo a minha experiência, é na mudança de temperatura que a gente pega essa danada gripe.
— É verdade. Sabe Dona Maria, nesta semana recordando as modas de viola que ouvia, quando era garoto, na casa do meu tio Zé Branco. Um parente dele e, por conseqüência parente meu, chamado Zé Branco, também, vinha lá de Pirassununga e violeiro que era, juntamente com os meus primos, Rui e Lalato, faziam uma tarde inteira de cantoria de viola, até chorei de saudade.
— O Zé Branco de Pirassununga era um homem quase alto, forte e de incrível bigode preto e espesso. Seu olhar era tranqüilo e submetia-se ao desejo dos meus primos, principalmente, e de toda a vizinhança, cantando as modas da moda. A rua 13 naqueles dias ficava mais bonita e engalanava-se.
— O violeiro quando vinha para cá sempre trazia um parceiro que, por mais que me esforce, não consigo lembrar os nomes. Só sei que eram interpretações de clássicos dos sucessos da época.
— Naquele tempo, a mortadela era o produto mais badalado. Por isso, cubinhos de mortadela com limão eram servidos, acompanhados da caninha Batistella.
— Nossa seu Vernil, isso foi há quantos séculos?
— Foi no final da década de 40 e começo da década de 50, quando o Petróleo é nosso, dominava os meios de comunicação. Por isso, é que, de vez em quando, costumo sentar-me na minha sala e escutar os clássicos de viola, avivando as lembranças de um tempo que, infelizmente, não volta mais.
— Como eu sou mais nova que o senhor o meu gosto para músicas é um pouco diferente. Cresci sob o avanço do ie, ie, ie, músicas da jovem guarda.
— Eu gosto delas, também, pois nos bailes, depois do domínio dos boleros, dancei muito esses ritmos. Entretanto, dona Maria, confesso que, o que marcou mesmo a minha vida, foram as modas de viola, e em especial aquelas ouvidas na casa do tio Zé Branco, com o Zé Branco de Pirassununga cantando, as vezes acompanhado pelo Lalato e pelo Rui, que tocava um pandeiro redondo.
— Bem, homem, chega de antigamente, vamos falar do presente. O "bochicho" sobre cadeia ou não cadeia, entre as autoridades do município está ocupando a mídia.
— É verdade, dona Maria, enquanto isso o crime continua acontecendo em números inaceitáveis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Assombrações

A aula de brinquedo transcorria normal, tranqüilamente. Os alunos eram em número de cinco. Sendo dois sobrinhos de Alice e mais três amiguinhos.
O local, um “puxadinho” de paredes e teto de zinco, muito velho. Com aparência marrom avermelhada da ferrugem que ao longo do tempo se acumulara na superfície do zinco, era um lugar de pouca iluminação, porque naquela época a companhia que fornecia energia elétrica para a cidade, não primava pela qualidade do produto que vendia e tudo na cidade vivia na penumbra.
A aula já estava pela metade, quando um barulho alto e sinistro aconteceu:
— ÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚ´.
Ao mesmo tempo uma das telhas de zinco teve um dos seus lados levantado e que desceu completando o barulho fantasmagórico:
— Plam!
Todos ficaram de cabelos em pé. Mas um dos garotos que havia levantado os olhos e tinha visto a telha bater, arregalou os olhos e ficou petrificado, sem voz, abobado.
Tia Alice, cujos cabelos ainda estavam em pé, reagiu e gritou:
— Fujam!
Ato continuo agiu e, como se fosse um polvo, agarrou as mãos das cinco crianças e saíram todos aos pulos para dentro da casa.
A mãe dos sobrinhos de tia Alice, que passava roupa, acudiu o bando desesperado, que chorava e uivava, perguntando para sua irmã:
— O que foi que aconteceu?
Tia Alice, engolindo em seco e tremendo como uma vara verde em noite de ventania demorou quase cinco minutos para poder balbuciar:
— Foi a Dama de Branco!
— Que Dama de Branco é esta? Quase gritou a irmã de Alice.
— É um fantasma que tem aparecido em vários lugares da cidade. Ela apareceu e começou a crescer e se tivesse se dobrado por cima de nós tinha nos matado a todos.
— Você tem certeza que viu o Fantasma?
— Claro que sim.
Alguém providenciou um copo com água e açúcar para acalmar o grupo e, aos poucos, já com suas cores normais de volta, começaram a confirmar o que afirmara tia Alice.
Naquela noite seis pares de olhos não conseguiram deixar que os corpinhos trêmulos tivessem um sono restaurador.
O que de fato acontecera naquela noite aos alunos de tia Alice?
Será que o zinco, personagem quase que certo em todas as histórias de fantasmas, não havia pregado uma peça em todos eles?
Aquele, úúúúúúúúúú, não teria sido o vento que com sua força acabou erguendo a telha de zinco e provocado o barulho final, Plam?
A pouca iluminação da cidade e a quase escuridão do “puxadinho” de zinco não teria influído no ânimo de todos os personagens?
Ou será que, realmente, todos haviam visto um fantasma.
Eu sei que hoje poucos casos iguais a esse acontecem, ou pelo menos não são tão comentados como antigamente.
Por isso, para fazer uma pesquisa a respeito das aparições, estou pedindo que todos os leitores que tiveram experiências do gênero, enviem suas histórias via endereço que aparece abaixo do meu nome neste artigo, pelo que agradecemos.
Eu e Dona Maria vamos analisar todos eles com muito carinho.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Lei, ora a Lei

Se existe uma coisa no mundo que todo mundo acha um absurdo é a agressão aos fatos.
Tribunos brilhantes, moldados pela experiência de longos anos em negociações, principalmente no trato das questões políticas, costumeiramente usam deste expediente para fazer valer as suas aspirações.
Sobre este fato, surpreendentemente, assistimos na última segunda-feira, na reunião da Câmara Municipal, os vereadores agredirem o fato de que não é de competência deles legislar quando isto implica em despesas para o Governo Municipal.
A criação da casa dos Conselhos, com certeza, irá criar despesas para o Governo Municipal e, portanto, não é da competência dos vereadores criarem-na.
Mas é só autorização para que ela seja criada, parece-me que ouvi dizer.
Neste caso torna-se mais grave a atitude dos vereadores, pois o governo Municipal pode não querer ou não ter dinheiro para empregar nesta criação e eles tenham apenas gasto tempo à toa.
Isso tudo aconteceu após as comissões terem declarado anticonstitucional e, por isso, ilegal a matéria.
Mesmo assim insistiram e aprovaram a criação da Casa dos Conselhos.
Agora a Lei vai para sanção do Prefeito.
Caso ele vete a Lei ela voltará ao plenário da Câmara que votará a favor ou contra o veto e caso o veto seja derrubado, ao Prefeito Municipal só restará entrar na justiça para derrubá-la.
Pode acontecer, também, que o Prefeito não entre na Justiça e a Lei comece a vigorar. Desta maneira vigorará fora da Lei. Tanto que qualquer cidadão poderá entrar com um processo contra ela.
Vamos dizer que não exista nenhum maluco, como disseram os vereadores para entrar com processo contra ela e a Lei permaneça vigendo ao arrepio da Lei.
Explique-se uma coisa desta.
Araras, então, estará fora da Lei.
Imaginem, Araras uma cidade de primeiro mundo, parte do estado de maior importância no cenário Nacional, age fora da Lei.
Que acontecerá com cidades menos expressivas, por este Brasil afora.
É por isso mesmo que no Brasil a política e os políticos estão como estão fazendo tudo o que querem sem dar a mínima importância às Leis que eles mesmo criam.
É o fim da picada.
Não se trata de ser contra ou a favor da Criação do Conselho ou da criação de atendimento aos dislexicos e sim de fazer de maneira correta, dentro da Lei, as Leis que se destinam ao bem estar do povo.
Caso contrário isto tudo vai virar a casa da mãe Joana.
Não adianta dizer que é bom debater, também achamos, mas achamos também que se deve antes debater a constitucionalidade das leis a serem propostas para que elas fiquem dentro da Lei, pelo tempo que forem necessárias.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A ética de todos nós

O Conselho de Ética do Senado Brasileiro mandou arquivar as acusações contra o presidente da casa, o Senador José Sarney.
O fato é uma demonstração da força política do Senador Sarney coadjuvado pelo Senador Renan Calheiros.
Pior para os Senadores que fizeram as solicitações ao Conselho de Ética, sem provas, baseados apenas nos artigos de jornais.
Pior para todos nós, pois os atos que ferem a ética não poderão ser averiguados, pelo menos pelo Conselho de Ética, por que os meios estão truncados pela frágil justiça que se destina a delimitar os políticos.
No entanto, o desgaste será de grande repercussão e, segundo os analistas, provocarão uma limpeza via eleição do próximo ano.
A esperança é a última que morre.
Mas a lição principal desta crise é a de mostrar que em qualquer canto de Brasília que se jogue a tarrafa da moralidade, ela vem pesada de atos secretos, inconfessáveis.
Os acusadores de hoje têm quase 100% de possibilidade de estarem sendo acusados amanhã.
O problema é o uso e costume dos políticos brasileiros, que de ordinário, representam a média moral da nossa nação, de legislar em beneficio próprio ou da categoria.
O positivo da crise, além da lição, é a nossa esperança de que a velocidade imposta pela globalização desmascare aqueles que abusam quando investidos em cargos públicos.
Assim, apesar da possibilidade do Senador Sarney sair apenas arranhado desta embrulhada, o fato vai mostrar a ele e a todos os senhores Senadores que os tempos são chegados (os tempos da cobrança da moralidade) e os novos Senadores que substituirão, com certeza, alguns medalhões, via a eleição do próximo ano, terão o cuidado de cuidar melhor das suas atitudes em beneficio do povo, que é o grande objetivo da Democracia.
A Paz que todo o Povo Brasileiro almeja, infelizmente, em virtude do espírito dos políticos que seguem à risca a Lei de Gerson, só virá à luz, depois de crises iguais a esta que servem para mostrar a pequenez com que se pratica a Democracia no nosso País.
Não nos esqueçamos que somos todos responsáveis pelo avanço moral na política no Brasil, fazendo uso do voto de maneira cuidadosa, elegendo para os cargos públicos os que merecem a nossa confiança.


quarta-feira, 29 de julho de 2009

A outra

— Bom dia dona Maria.
— Bom dia seu Vernil. Gostei do último artigo que foi publicado. Na verdade as lembranças do passado, dos problemas passados, das atitudes tomadas e da repercussão do fato, permitem que os personagens confiram, redirecionem e aprendam uma lição.
— A senhora tem razão. Aliás, muita gente costuma desdenhar as pessoas que costumam analisar fatos passados, dando a elas o nome de engenheiros de obras prontas, quando na realidade essas analises, tirando, evidentemente, os excessos, levam a um estado de aprendizado.
— Quantas coisas precipitadas e outras sem qualquer utilidade acabamos cometendo nos nossos verdes anos, não é verdade seu Vernil? Sem que percebamos, com o tempo, nossas reações às mesmas ações de antigamente acontecem cheias de soluções e sabedoria. É o resultado da analise de fatos passados direcionando os nossos atos do presente e nos preparando para o futuro.
— Isso mesmo, dona Maria. O grande diferencial está na maneira de se expressar essa sabedoria, conseguida à luz das analises do passado. Uns se expressam com tranqüilidade, sabem colocar a explicação de maneira limpa aos seus companheiros de jornada.
Outros, mais rudes, acabam colocando a sua orientação de maneira abrupta e assustam os companheiros. Porém, qualquer tentativa de repassar experiências, traduzidas na sabedoria de enfrentar os problemas de vivência é, sempre, uma expressão amorosa. Por isso, a grande verdade é que, além daqueles analistas que passam e ensinam as suas experiências, é necessário que os que vão receber essas expressões amorosas, saibam identifica-las.
— É, seu Vernil, isso é muito difícil. Bem, mas se fosse fácil, a vida de todo mundo seria, digamos, uma chatice. O bonito da vida são as suas impedâncias. Desde neném até a idade adulta é um suceder de acontecimentos que enriquecem a sabedoria do homem, principalmente daqueles que, além da evolução natural, se entregam às analises do passado, para melhorar o presente e o futuro.
— No meu caso, por exemplo, dona Maria, depois de levar sabões e mais sabões, antes de fechar a porta ao sair, dou uma derradeira olhada para ver se não ficou nenhuma lâmpada ligada ou bico de gás aceso. Tem dado algum resultado. O problema é que, pensando na morte da bezerra, olho e não vejo. Tome mais sabão.
A minha crença é que vem em meu auxilio: Na outra encarnação, não tem erro, vou ser cem por cento seguro.
— Deus te ouça, homem de Deus.


terça-feira, 21 de julho de 2009

Calor humano

O dia dos namorados passou.

Já não se comemoram o dia dos namorados como antigamente.

Antigamente neste dia as praças da cidade ficavam cheias.

Casais de namorados passeavam de mãos dadas, trocando olhares e promessas de amor eterno.

As lojas, como hoje, ficavam abertas até mais tarde e ficavam cheias de clientes comprando num último esforço financeiro o presente para a outra metade da laranja.

Imaginem, as flores eram as mais escolhidas.

Ramalhetes, rosas solitárias, buquês, ganhavam a companhia de um cartão perfumado com poemas de amor escritos em caligrafia impecável.

O dia dos namorados era o mais escolhido para se ficar noivo.

Era o dia da grande aventura, de encarar o velho e pedir a mão de sua filha em casamento.

Era o dia em que a filha do velho passava a ser a namorada permanente.

Fruto desses pormenores, românticos, antigos, mas muito bonitos, alicerçava-se o casamento, a família que desafiava o tempo e arrumava o caminho para o sucesso dos filhos.

Até por decurso de prazo e por mal observador que somos hoje não sabemos a quantas andam estes pormenores do dia dos namorados.

Imaginamos que a tal de internet deve ser o meio através do qual as juras de amor são trocadas hoje em dia e não podemos deixar de sentir, não dó, mas uma tristeza de saber que os namorados se informatizaram tanto e deixaram de lado o calor da presença da mão na mão, do olho no olho, do coração no coração.

É, no entanto, o preço a ser pago pelo progresso.

Mas, puxa vida, será que juntamente com este progresso espetacular que o mundo da informatização propicia não poderíamos experimentar, também, um progresso no relacionamento humano, direto, cara a cara.

Sabemos que esta necessidade do calor humano é intrínseca no homem e mesmo que por agora anda meio que escondido, num momento qualquer, apesar das ondas cortando os ares ele se fará presente.

Não sabemos o dia de amanhã.

Mas temos a nítida impressão e até temos medo de que quando este momento vier os namorados de hoje não estejam preparados para recebê-lo.

Por isso, desculpem o fora de moda da nossa confissão, estamos nos colocando no papel daqueles que sem poder mover a pá da compreensão, se colocam na posição de esperançosos e com as suas orações almejam de uma maneira ou de outra, ajudar o coração dos jovens na compreensão de que eles precisam se preparar para o calor humano.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Luz do Girassol

— Toc, toc, toc!
Minha mulher espreguiçou-se e resmungou:
— Quem será a esta hora da manhã batendo à nossa porta?
Claro que o escalado para levantar-se e atender o madrugador era eu, né:
Com a cabeça ainda girando de sono, pois na noite anterior eu custara para conciliar o sono, sentei-me na cama e esperei que o meu espírito estivesse totalmente incorporado para levantar-me e ir atender a porta.
Abri a porta e a luz da manhã feriu meus olhos como se fossem milhões de agulhas. Apertei os olhos e reconheci Dona Maria.
— Bom dia seu Vernil, espero tê-lo acordado para o senhor poder aproveitar a beleza desta manhã de sábado. Veja que sol, que céu azul, quanta vida.
Sem Ter entendido muito que Dona Maria queria dizer, ainda assim, concordei com ela, para ganhar tempo.
— Não via hora de amanhecer para vir cumprimentá-lo pelo casamento do seu filho, ontem. Nunca tinha visto tanta gente bonita junta. O noivo e a noiva estavam lindos e firmes, como poucas vezes vi em outros casamentos. O padre falou bonito e a sua mensagem evangélica atingiu em cheio todos os presentes. Foi um momento de muita emoção.
— Obrigado, muito obrigado, Dona Maria. Eu, também, gostei muito da cerimonia do casamento.
— Na verdade, Dona Maria, olhando para frente, eu na realidade acabei de ganhar mais uma filha. Aliás, pelo tempo decorrido de namoro ela já estava filha havia muito tempo. Comparo a entrada dela, oficialmente, de papel passado, na nossa vida, à luz que emana de um girassol, que passa, agora, a fazer brilhar mais a nossa luz.
— Acredito nisso, seu Vernil. Estou desejando ao Marcelo e à Raquel, toda a felicidade do mundo.
— Sabe, Dona Maria, aconteceu uma coisa legal. Um dos amigos do meu filho presenteou o casal com um quadro maravilhoso. Uma gravura com girassóis, dourados, iluminados, como se fosse a própria fonte de todas as energias.
— Os girassóis são lindos e trazem sorte, seu Vernil.
— Isso mesmo, Dona Maria. Só que o quadro me tocou profundamente e eu já o escondi atrás do guarda vestido aqui de casa. Estou firmemente determinado em ficar com o quadro para mim. Vou esperar o casal arrumar a casa e, como a casa é pequena, talvez não haja espaço para o quadro com girassóis, aí, então, vou oferecer-me para guardá-lo aqui em casa, claro que pendurado na parede.
— Seu Vernil, isso é coisa maquiavélica. Deus me livre dos seus desejos. Cruzes!

terça-feira, 7 de julho de 2009

O 6º. Salão de Fotografias Pérsio Galembeck

Confesso que a neblina impôs medo ao recém saído de uma abençoada gripe.
O frio, parece, queria alcançar os meus ossos.
Maldade, pois os meus já estão maltratados e submetê-los ao frio me parece exagero.
No entanto, valeu a pena.
O 6º. Salão de Fotografias Pérsio Galembeck, segundo meus conhecimentos, foi inaugurado com absoluto sucesso e saímos de lá muitos satisfeitos.
Sem comentar os trabalhos vencedores a minha admiração voltou-se para a foto cujo título, se não me falha a memória era: Solidão na multidão.
A foto obtida do alto retrata um cruzamento de avenidas em cidade de grande porte, mostrando aglomerado intenso de pessoas que parecem perdidas e ao mesmo tempo parecem saber para onde ir.
É como se o maestro tivesse arrumado a orquestra sem premiar os conjuntos de instrumentos e mesmo assim, no concerto, a harmonia sai perfeita.
Claro que esse raciocínio remeteu-me para a consideração do que é realmente o mundo e a humanidade.
Aquele pedaço mínimo de cidade retratado com uma mínima parte de seus habitantes pareceu-me um mostruário de como se ajeita a humanidade, nos seus mais variados interesses e grupos, para que a vida transcorra objetivando a somar os esforços de cada um para apresentar o grande espetáculo de concerto inimitável.
Mas há tantas coisas ruins, afirmariam alguns.
A eles dizemos que: não seria este som, ou zumbido, o meio de um trabalho de afinar instrumentos para que a melodia do concerto, logo mais à frente, seja apresentada com roupagem divinal?

A Idade da Pedra é aqui

A turma reunida deixava as horas se escoarem pelo ralo do não faz nada.
A cerveja preta é melhor que a branca, é mais forte e complementa com mais sabor os petiscos. A batata frita crocante, o frango a passarinho, quase torrado, deixava os lábios e as pontas dos dedos de todos brilhando de gordura.
Os assuntos, variados, iam desde a desdita dos kosovares até as curvas da Tiazinha.
Podia-se comparar a reunião com uma sessão de terapia em grupo. A pança cheia a cerveja estimulando a língua e a inconseqüência eram os ingredientes.
Sentado à esquerda de quem entra pelo bar, o homem já tentara convencer meia dúzia de companheiros de que o errado podia ser muito bem o certo e que o certo nem sempre era tão certo assim.
Acabara de falar e, automaticamente, olhou para a mão direita pousada sobre a mesa e viu o cabelinho branco na altura do seu pulso. Quis desviar a atenção para um dos amigos que começava um novo assunto, mas o seu cérebro voltou ao cabelinho branco.
Com os dois dedos, dedão e fura bolo, tentou arrancar a cabelinho branco e o que conseguiu foi só arrancar meia dúzia de cabelinhos pretos que estavam ao redor do branco.
O vozerio ficou distante e o homem sem conseguir conter-se começou a pensar em si. Cabelo branco é sinal de envelhecimento. Tentou, em vão, lembrar-se de sua imagem na última vez que olhou para o espelho, na manhã daquele dia. Não prestara atenção.
Será que os seus cabelos estavam brancos? Sentiu raiva de si mesmo por não saber responder a pergunta.
Sem que ninguém entendesse, levantou-se, despediu-se com um tchau xoxo e saiu quase que apressado para a rua em direção à sua casa.
Entrou sem chamar a atenção, passou pela sala onde a tv fazia um barulho enorme e foi direto ao banheiro. Sofregamente ligou a luz e levou o maior susto da sua vida. Olhou o espelho. Estava velho.
De repente objetivos que estavam na fila de espera, ganharam importância das urgências e o tempo vivido ficou reduzido há um instante.
O seu filho nem começara ganhar a vida. A viagem com sua esposa nem começara a ser planejada. Precisava trocar o carro. A prestação da geladeira estava atrasada e, pior, estava sem emprego.
Velho com objetivos, prestações e necessidades atrasados, naquele momento era o retrato da desesperança. Chorou.
Ser velho e todas as necessidades ele poderia ajeitar, mas sem emprego como haveria de ser.
O país entrou em crise e lá se foi o seu emprego. Os seus amigos, mesmo aqueles que estavam empregados estavam reclamando, pois o que estão ganhando não dá para comprar nada do que precisam, a não ser o arroz o feijão e a farinha, para encher a barriga dos trouxas que têm direitos, mas que a cada crise vêm as suas conquistas serem surrupiadas para acudir o país.
O pior é que acudir o país é o mesmo que salvar as mansões em Miami ou as ilhas em Angra dos Reis.
A experiência (conquista das pessoas que começam a envelhecer) mandava que não fosse contra o poder econômico, mesmo porque, de nada adiantaria, porque ele faz parte da maioria excluída e silenciosa, de cujo lombo estão tirando o couro para que as mansões de Miami não tenham que ser vendidas.
Tudo bem, pensou, vou resignar-me.
Foi para a sala e o meu, o seu, o nosso Presidente da República, estava sendo entrevistado. Ágil nas respostas e sorridente fez todos da sala crer que o Brasil estava para ser guindado à posição de paraíso. Nada daquilo que o povo estava reclamando era verdade. O Real havia recolocado a justiça social no seu devido lugar. Todos menos ele é bom que se diga. Pudera, ele como 20% de todos os aptos para trabalharem estavam sem onde trabalhar, e muitos estavam velhos, com as prestações, objetivos e necessidades atrasadas, nem mesmo, o meu, o seu, o nosso Presidente haveria de convencê-los.
Mas como a esperança é a última que morre, com certeza, quando a moralidade for programa de algum governo, quem sabe a questão social saia de uma vez por todas da “Idade da Pedra”.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Cebola rolando

A Cebola veio rolando pelo chão.

Coisa corriqueira em um Supermercado.

Despertou a nossa atenção, pois, a imagem nos pareceu de um ser que deslocado, desolado, esquecido, ridicularizado e evitado, merecia, de nós seres humanos, uma valorização que nem o seu preço de quilo alcançava.

O primeiro carrinho, conduzido por moderna dona de casa, com seu costume jeans curto, à mostra pernas roliças e sadias em cujo ápice sustentava o bumbum bem feito, evidenciando o uso de algum artifício de enchimento, foi freado e por pouco não esmigalhava a Cebola que, indiferente, continuava sua trajetória trágica.

O rosto da condutora do carrinho contraiu-se, deixando que o desdém tomasse conta de sua representação teatral.

Um marido desgarrado, tentando repetir os nomes dos produtos que a mulher recomendara para comprar, com os óculos na ponta do nariz, deu um salto e se reequilibrou evitando com a manobra que a Cebola passasse por cima de seus pés acomodados em sapatos acolchoados.

O garotinho que se especializara em derrubar produtos das prateleiras do “hiper” parou e com muito espanto gritou:

— Olhem a Cebola rolando!

Na seqüência, correu em direção ao carrinho de compra da mãe para lhe contar a novidade, sem desconfiar que o seu grito havia chamado a atenção do povaréu que estava comprando mais do que devia, naquela tarde chuvosa.

Se a Cebola pensasse e aquela por certo pensava, estaria apavorada pelo alvoroço causado pela sua incursão não planejada pelo chão do “hiper” e querendo que o seu impulso indesejado acabasse bem debaixo de alguma prateleira salvadora.

Com alguma sorte, talvez, quem sabe, não seria esquecida pelas cerdas das vassouras da limpeza e pudesse, ali mesmo, brotar para dar origem à nova vida para o mundo das Cebolas. Ou por outra, quem sabe alguma senhora perfumada, de bondoso coração, não a pegasse e destinasse a ela a prateleira da despensa de uma mansão.

Eram conjecturas a serem levadas em consideração.

Afinal ela uma Cebola bonita, tinha o direito de sonhar o melhor para si.

Não seria aquela “corrida” provocada pelas mãos desatenciosas e trêmulas de uma velhinha que haveria de mudar o sentido da sua vida. O seu destino não poderia estar atrelado somente a um prato saboroso.

A rapidez dos seus pensamentos, no entanto, não conseguiu ser tão rápido quanto o atencioso rapaz de costume cinza com letrinhas vermelhas que, como um raio, passou por nós e pegou a Cebola e recolocou-a na banca de onde ela saíra rolando.

terça-feira, 23 de junho de 2009

A comodidade de trilhar caminhos feitos


O sol levantou-se mais cedo naquela manhã.
A luz visitava todos os cantos, pondo à mostra a beleza da criação de Deus.
Abri a porta e o meu corpo arrepiou-se todo. Engraçado como não havia percebido isso antes.
Sempre quando abria a porta para sair para o trabalho, sentia aquele arrepio. Acredito que nessas manhãs luminosas as energias positivas ao tomarem contato com o meu corpo produziam o arrepio. Na verdade, especialmente naquela manhã, a minha disposição estava multiplicada.
Era como se eu fosse as lentes de uma gravadora de vídeo. Não havia no campo da minha visão nada que não estivesse sendo registrado pelo meu cérebro. Parecia até que algum perigo iminente jogara adrenalina no meu sangue e os meus sentidos estavam em estado de alerta.
- Bom dia dona rosa - disse cumprimentando a flor do meu jardim – que o meu amor seja tão grande quanto é a sua beleza.
Juro que ouvi o seu riso imperceptível.
Aprendi há muito tempo, quando ainda era um mal informado, que as flores riem e conversam com os seres humanos e para que isso aconteça depende dos seres humanos, pois as flores estão sempre dispostas a conversar.
Estiquei a mão para a maçaneta do meu carro e ouvi uma voz melodiosa e clara:
- Acordou bem disposto hoje, senhor?
Olhei para trás e como não vi ninguém, fiquei como que parado no ar.
- Sou eu quem está falando, aqui quase tocando o chão.
Firmei os olhos e vi uma rosa amarela, com as pétalas como se estivessem por cair, mais amarelas nas partes internas e desbotadas nas partes externas.
- Sou eu mesmo. Não fique assustado. Só quero transmitir-lhe uma mensagem: Evite com todas as suas forças “a comodidade de trilhar caminhos feitos”.
- Está bem. Mas porque para mim esta mensagem?
O vento balançou a roseira e uma das pétalas da rosa, a que estava com aparência de queimada, soltou-se e caiu. O silêncio era total.
- Porque para mim a mensagem? Insisti.
Um vizinho que passava, andando pelo meio da rua, olhou curioso e deve Ter pensado que eu estava ficando louco e falando sozinho.
Sacudi a cabeça energicamente e fui para o trabalho.
Realmente a minha disposição era de causar inveja a qualquer garoto de 18 anos. O joelho incomodava um pouco, mas não impedia o andar reto e firme. Aliás, era e ainda é motivo de orgulho o meu “preparo físico”. Salvo, evidentemente, observações mais apuradas.
O salão de iluminação lateral estava movimentado àquela hora da manhã, cada um por sua vez recebia os que chegavam com um Bom dia quase que musical e com sorrisos.
Ouvi, enquanto ligava o computador, a jornalista dizendo ao redator que mais uma casa de recuperação de drogados estava sendo inaugurada naquela semana e como que um estalo a frase da rosa do jardim lá de casa soou na minha cabeça.
- Espera aí. Como é o negócio? Perguntei.
- Uma dessas clínicas para internação de drogados para afastá-los da rua e recuperá-los da dependência. Respondeu a jornalista.
- Então é isso – comecei a falar – A comodidade de trilhar caminhos feitos é isso aí. O número de drogados aumenta e a sociedade aumenta as casas destinadas à recuperação deles. No entanto, após o período de desintoxicação, os ex-drogados retornam ao convívio dos seus amigos, no seu bairro, sem que os problemas que o levaram a se drogar tenham sido resolvidos e daí para o retorno ao uso das drogas, novamente, é um pulo. As notícias dão conta que os que se curam são, aproximadamente, 3 a 5%. É muito pouco. Na realidade, a sociedade que criamos não quer dar-se ao trabalho de cobrar os que têm obrigação de resolver os problemas, prendendo os traficantes de drogas. Impedindo que por qualquer problema que os nossos filhos tenham, encontrem na oferta das drogas as soluções para as suas aflições.
Por melhor que seja o relacionamento humano, os atritos, as divergências, a oposição, sempre existirão. Isto é inclusive uma necessidade que impulsiona o homem em busca das soluções dos seus problemas, muitas das vezes, pela sua natureza, exigindo certo desprendimento. Alguns que imaginam estarem sendo muito exigidos encontram fácil por aí, a sedução dos traficantes, estendendo enganosamente uma solução que, hoje alivia, mas que amanhã multiplica o sofrimento. Então, é absolutamente verdadeiro afirmar que somente acabando com tráfico, a sociedade poderá salvar estes seus componentes, de um destino pior.
- Qualquer outra coisa que se invente será apenas paliativo e incentivo à comodidade de trilhar caminhos feitos.
Cidadãos, prefeito, vereadores, juizes, promotores, presidentes de associações de bairros, presidentes de clubes sociais, etc., devem cobrar os que têm por obrigação combaterem o tráfico de drogas.
Mas eles não têm recursos.
Então que sejam cobrados os responsáveis pelos recursos. É difícil e perigoso. Mas se a sociedade não entender que a necessidade desta soma de esforços é a salvação, ela, por comodidade de trilhar caminhos feitos, verá dentro de cada lar da sua comunidade, entrar pela porta da frente e com pompa, o mal que tira dos homens a vontade de viver.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A presença de Anita

Com a raquete na mão, corria os dedos pelo encordoamento como se tivesse procurando os motivos pelos seus fiascos dentro da quadra, ignorando os malefícios da proeminente barriga que, por certo, era a grande vilã do jogo de tênis. Respirou fundo e quase que num sussurro, falou para os companheiros das aventuras esportivas.
— Vocês viram a presença de Anita?
Como que por encanto os quatro ou cinco “atletas” que compunham o grupo viraram vigorosamente as suas cabeças em direção a Célio.
Eu vi, vi não, bebi. Eu também.
E assim, sucessivamente, todos mostraram que a minissérie estava sendo vista e bebida pelos homens.
Os únicos que não se pronunciaram foram os quatro “tenistas” que estavam jogando e que por sinal, atrapalharam a conversação do grupo, pois uma bola desviada foi bater na cabeça de um dos mais ardentes fãs de Anita.
Bola devolvida, conversa continuou.
Tirando os olhos da raquete, Célio confessou:
— Para mim não está fácil acompanhar a novela. Minha mulher está marcando em cima. Por isso, sou obrigado a emitir minhas opiniões para ela ouvir, pela voz e sentir as verdadeiras emoções ocultadas pela escuridão que nos obriga o programa de racionamento de energia.
— Não entendi patavina. Emendou João, expressando a curiosidade do grupo.
— Explico. Aquelas cenas de Anita com o escritor, na casa dela, quentes, que faz a gente ficar ofegante e balançando as pernas, sentado no sofá da sala, eu comento em voz alta:
— Puxa! Que moça desclassificada, está estragando a vida do homem e a coitada da mulher dele nem desconfia de nada.
— Na escuridão, no entanto, deixo as cenas embalar as minhas fantasias. O corpo jovem da menina embaralha as mazelas da idade e garante uma noite cheia de fogos de artifícios.
Armando, o mais sisudo dos amigos, com cara de quem viu e não gostou, colocou areia na conversa:
— Tá certo que ela é artista, mas acho uma exploração da TV em cima de uma moça que deveria estar estudando, para não depender de ninguém no futuro, em vez de estar com sua atuação revirando a cabeça dos homens.
A rodinha foi desfeita. O bem e o mal, mais uma vez, afrontavam os homens. Sem dar a pista de qual era um e o outro.
Está certo o homem que não expressa as suas reações e revive os seus melhores momentos nos braços de sua mulher?
Ou está certo o outro que se preocupa com, segundo ele, a exploração do corpo de uma jovem?
Como descobrir quem está mais certo. De real só o celular do Célio que tocou insistentemente:
Prestem atenção no diálogo que se seguiu:
— Célio é a Margarida (mulher dele), eu gravei o episódio de ontem da Presença de Anita, aquele que ela está deitada na bóia na piscina e arruma bikini com o dedo, se você estiver a fim de ver de novo venha logo para casa.
— Guenta um pouco que eu já estou indo.

sábado, 6 de junho de 2009

O tempo passa...

Três ou quatro Joãos de Barro saudavam-se escandalosamente no fio pertinho do poste. Havia pouco que o vendaval que se abatera sobre a cidade amainara e alguns teimosos raios de sol se esgueiravam por entre as nuvens apressadas.
A tarde de sábado apesar de toda a chuva que caíra era calorenta.
Dona Maria de sua área ao ver sua amiga que passava anunciou:
-Ô Teresa! O Natal já esta aí novamente.
Dona Teresa sem querer parar, mas já parando, concordou com a amiga:
Parece que foi ontem mesmo e eis que já estamos quase nele outra vez.
-Fazer o que, né Dona Maria. O tempo voa e nós ficamos cada vez mais velhas.
-É mesmo Dona Teresa. Mas o que me entristece é saber que neste ano mais pessoas estão sem trabalho e, muitas delas, já perdendo a dignidade.
-Sem falar nas guerras que andam ceifando vidas e as matanças nas grandes cidades do nosso país.
-É verdade. Tenho imaginado Dona Maria, que isso tudo não vai nos levar para um bom lugar.
-Algum tempo atrás tantas pessoas se ocupavam de distribuir, roupa, presentes, comida para os menos favorecidos.
-Ontem os menos favorecidos, cujo número aumentou, saíram a pedir para os mais favorecidos.
-Hoje estamos assistindo os menos favorecidos pela sorte e embrutecidos pela necessidade, arrancarem dos mais favorecidos aquilo que precisam e mais alguma coisa, quando não lhes arrancam a vida.
-Amanhã, pelo andar da carruagem, os menos favorecidos vão querer ser os mais favorecidos e, então, ninguém sabe no que vai dar a violência do confronto.
-Calma Dona Teresa. Deus há de colocar um paradeiro nesta convivência insana. E tem mais, muitos e muitos homens e mulheres, que não aparecem na televisão e nem nos jornais, estão disseminando a compreensão, o amor.
-Para mim, Dona Teresa, o bem vai triunfar.
O bando de Joãos de Barro depois de mais uma rodada de barulhentas saudações, alçou vôo e o silêncio dominou a cena.
-Tchau! Dona Maria, foi se despedindo a amiga Teresa.
Dona Maria com o olhar perdido no horizonte iluminado pelos “coriscos” pensou quase alto:
-Como explicar tantos contrastes. De um lado os pássaros com seus barulhentos cumprimentos, os sorrisos das crianças e, do outro lado, o troar das armas nas mãos dos dignos de dó, trovejando a morte.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Saudade

A saudade bateu e o vento fez as minhas lágrimas geladas.
Como não sentir saudade daqueles que me trouxeram ao mundo; daquele que me deu o primeiro presente de Natal; daquela que me levou para os primeiros estudos após o primário; daquele que me ensinou a simplicidade da vida no campo; daquela que exemplificou o sofrimento.
A obrigatoriedade da morte do corpo, separação triste que marca a evolução incondicional do espírito, propicia o reposicionamento dos nossos sentimentos e, através de análises provocadas pela ausência sentida, que chamamos de saudade, permite a avaliação do quanto eram amados por nós aqueles que nos deixaram.
Somos levados, pela saudade, a lembrarmos dos bons momentos.
Os atritos da convivência perdem sentido e deixam aflorar o sentimento que cada um desses momentos exigiu.
Sempre, por trás da censura, havia um direcionamento para o bem, uma preocupação com o futuro.
Hoje, caminhando pelas nossas próprias pernas, no “front”, onde se travam as batalhas e ocasionam os atritos da convivência, no atendimento dos anseios de cada um dos personagens que representam as nossas vidas, sentimo-nos sós e obrigados a agir sem certeza do bom resultado.
Apesar da fé de cada um, apreensivos, com rápidos movimentos, buscamos os que poderiam nos ajudar e só encontramos o sentimento de saudade.
Não era assim no começo das nossas vidas.
Por que então, agora, essa solidão?
Porque agora meu irmão é a nossa vez de servir de exemplo, de ensinar caminhos, de ajudarmos e começarmos a fazer a saudade que os nossos irão sentir quando estivermos do outro lado da vida.
Como não sentir saudade?
A roda da vida, no aprendizado que patrocina, faz de nós hoje exemplo, amanhã saudade, num interminável treino de amar a caminho da eternidade.
A separação de hoje é a saudade que enseja o anseio do reencontro, neste ou num outro mundo, mais afeiçoados e mais sábios para as coisas da vida.
A saudade, portanto, quando chega a nós, provocando as lágrimas geladas pelo vento, é um pleito de reconhecimento do cuidado que tiveram por nós, os nossos pais, tios, tias, amigos, amigas e todos que nos ajudaram a viver as nossas vidas.
E, principalmente, nos dá a certeza que seremos, também, amanhã, saudade em muitos corações.



sábado, 23 de maio de 2009

As mães se entendem


Mais uma vez o espírito, após ele ferrar no sono, estava fazendo uma visita ao nordeste brasileiro.
Viu aquela mãe, magra, com o rosto queimado pelo sol, escondendo os cabelos sem penteado, num lenço surrado e sujo.
Viu o mingau que ela acabara de fazer com algumas folhas de plantas, desconhecidas dele, engrossado com farinha na água salobra e, ao mesmo tempo, conseguia ler os pensamentos dela.
ººº Será que isto vai ser o suficiente para matar a fome do meu filho. Eu avisei ao Raimundo que os mantimentos não iam dar até que ele voltasse. Homem teimoso meu Deus do Céu. Agora fico eu com fome e o coitado do nosso filho ter que engolir este caldo. Bem, é o que temos, confiemos na providência divina.
Ele lendo estes pensamentos, lembrou-se que no jantar daquela noite, ele fizera cara feia para umas batatas que não estavam macias como ele gostava, quando cozidas inteiras e, reclamando com a sua mulher, acabou por jogá-las no lixo. Se ele pudesse iria buscá-las para entregar àquela mãe.
Continuou lendo os pensamentos da mulher.
ººº Graças a Deus somos todos fortes e com saúde. Com certeza nós vamos agüentar. Raimundo há de arrumar algum serviço para fazer e, quando menos a gente esperar, ele aparece com comida para todos nós.
ºººJá passamos por situações piores e agüentamos. Depois se o Coronel não se esquecer das promessas que fez, de ajudar a gente conseguir furar um poço profundo para não mais faltar água vamos ficar muito bem.
ºººQuando é que o dinheiro vindo do governo iria chegar e acabar com esta miséria. O coronel disse que isso demora um pouco. Enquanto isso vamos tocando a vida.
Caso o seu espírito olhasse num espelho àquela hora veria o seu rosto rubro de raiva. Onde já se viu manter estas criaturas humildes, trabalhadoras e tão puras com estas promessas. Se a memória não estivesse falhando, isto era papo de mais de 30 anos atrás. O governo cansou de tirar dinheiro dos impostos pagos, principalmente pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, exatamente para que em todo o nordeste tivesse um pouco de água. Mas, as notícias que ele tinha era a de que faltava água em todo o nordeste. Soltou o ar dos pulmões e disse para si:
— Bem não vamos começar a tratar deste assunto outra vez.
Imediatamente à sua fala, como que por encanto, um clarão atravessou o telhado mal feito do casebre do nordeste e nele flutuando ele viu a Virgem Santíssima.
A radiosa figura acenou fazendo uma cruz no ar na sua direção e sentiu-se como que enfaixado por algo invisível. A virgem sorriu e foi em direção àquela mãe, cujo sofrimento consistia na falta do que dar de comer ao seu filho. Ele fez força para dizer alguma coisa, mas a sua voz ficou presa na garganta e ele não conseguiu emitir nenhum som.
A Santa que deixava um rastro de minúsculas estrelas atrás de si, chegando perto da mãe, esticou as sua mão direita e acariciou-lhe a cabeça. E com voz de indescritível beleza falou:
— Minha filha, o sofrimento que esta experimentando, juntamente com o seu querido filhinho, ninguém pode imaginar o tanto de luz que está fazendo vocês dois ganhar. O prêmio por tal iluminação espiritual é uma casa no Reino de Deus, onde existe, realmente, a felicidade. Não se desespere, mantenha a calma e tudo vai se arranjar. Não se esqueça, porém, minha filha que almejar a felicidade é um direito de todos. Reivindicá-la, sem exacerbações, é um exercício de cidadania do ser humano na Terra. Não se desespere. Os homens aos quais muito foi dado, vão ter prestar contas do uso dos bens, neste mundo mesmo. Caso não seja nesta, com certeza, será numa outra encarnação, em situação igual ou até pior pela qual você está passando. E não fique pensando, que os que com suas omissões permitem os desmandos dos gananciosos, serão poupados. Eles vão colher o que estão semeando. Todos os seres humanos do mundo estão sob as leis de Deus.
A imagem subiu pela mesma luz que a trouxe e deixou naquela casa uma paz que envolveu a mãe e o filho, e, também, o espírito daquele viajante astral.
Aos poucos os seus movimentos foram voltando até que ele pode dizer:
— Graças a Deus.
Ficou mais algum tempo imóvel e se deu conta que nada mais nada menos que a mãe de Jesus estivera ali. As mães se entendem.
Respirou profundamente e com um tremor acentuado acordou e assustou-se com sua esposa sentada na cama, em prantos, repetindo:
— Eu vi a mãe de Jesus!
— Eu vi a mãe de Jesus!
Os seus olhos encheram se de lágrimas, também.

domingo, 17 de maio de 2009

As cabeçadas da vida

Encontrei-me com um amigo de muitos e muitos anos, com o qual não conversava longamente desde o tempo em que, ainda jogávamos futebol.
Passamos uma revisão no tempo e falamos de nossas famílias.
O engraçado é que após a conversa chegamos à seguinte conclusão:
Todos os pais de famílias, pelo menos os que são nossos contemporâneos, enfrentam com os filhos problemas de intensidade igual e de natureza diferentes. Todos eles, no entanto, machucam o coração.
Uns relegam os pais, por causa da idade, ao plano de espera da morte. Acham que todas as experiências dos pais foram vividas e, por isso, os transformam, digo melhor, tratam-nos como verdadeiras múmias vivas.
Outros, premidos pela necessidade, às vezes se mandam por este mundo de Deus e relegam os pais ao esquecimento. Outros se acham sufocados pela presença dos pais, sem pensar no sofrimento que impõe a distância, mudam de casa e, muitas vezes até de cidade. Outros, ainda, casam-se e começam a tratar os pais como se fossem desconhecidos.
Dona Maria, minha vizinha, que me ajuda a entender e a compreender o mundo em que vivemos, sabiamente, a respeito disse:
— São necessidades de viver experiências que lhes preparam o amadurecimento.
Consultando o meu estoque de paciência com filhos, fui obrigado a concordar com a sábia mulher.
O fato é que fico sem ação, sem atinar com que fazer para remediar a situação. Como sair do estado de amor total, para a ausência e o descaso do ente querido.
Aquele sentimento de posse, que todos nós possuímos, fala alto e a luta intestina mexe com os nossos íntimos produtos químicos, provocando “stress” e outras mazelas.
Na nossa conversa, eu e meu amigo, esgotada a nossa capacidade de reclamação aturdida, chegamos à conclusão que não poderemos transferir aos nossos filhos as nossas experiências.
Resolvemos, e isso foi o momento de grande incentivo entre nós, apesar de todos os dissabores, esquecimentos, ou todas as más criações dos nossos filhos, jamais cortar a nossa comunicação com eles. Insistir nas visitas e diminuir o nosso nível de aconselhamento.
Pois, com certeza, sabemos que o mundo e o tempo, com suas exigências e tentações, serão os mestres.
Ficamos combinados de ficarmos rezando para que o aprendizado ocorra sem muitas cabeçadas.

domingo, 10 de maio de 2009

Amor, Regra Básica



A reforma interior no AMOR é necessidade imperiosa.

A exteriorização deste AMOR, em auxílio ao próximo, é imperiosa.

As regras básicas são estas e os demais qualificativos são de natureza meramente complementar.

Não devemos nos preocupar com a quantidade de bondade ou de maldade; a todos, igualmente, devemos dedicar o AMOR.

A nossa pátria verdadeira é o universo e, ainda, não evoluídos, não conseguimos olhar com sentimento mais profundo para outros irmãos, que não partilham conosco os ambientes mais conhecidos.

Estejam certos, porém, que à medida de nossa iluminação espiritual, aprenderemos AMAR a todos os nossos irmãos do universo, conforme os ensinamentos de JESUS CRISTO

sexta-feira, 1 de maio de 2009

É hora de melhor divisão


A coluna vertebral depois de determinada quilometragem perde o seu efeito de amortecedor e dói.
Neste dia do trabalho, logo pela manhã, apesar dos efeitos de ter ficado com a neta no colo por muito tempo, sentei-me diante do computador e busquei fazer uma reflexão sobre este dia.
Quando eu era um menino, e isto já faz muito tempo, a minha expectativa e a de todos os garotos da minha idade era recebermos os nossos diplomas e escolher onde iríamos trabalhar.
Não havia preocupação naquela época com relação à falta de emprego. Se houvesse determinação, com certeza, o emprego aparecia.
Hoje já não é mais assim.
A mecanização, os recursos da computação e, principalmente a chegada das mulheres disputando as vagas de trabalho existentes, trouxe a preocupação com relação ao emprego que todos precisamos para vivermos decentemente.
Este novo problema nada mais é que o resultado do progresso do mundo e, como tal, deverá ser enfrentado pelos homens com todo o manancial de recursos que ele tem à sua disposição nos dias de hoje.
É uma questão de tempo.
Neste meio tempo, com certeza, haverá necessários desconfortos para alguns, provocados pela falta de empregos.
Mas pouco a pouco o homem, que deverá rever suas metas de satisfação material, haverá de resolver o problema.
Baseada em que a certeza deste desfecho.
Baseada na força da maioria, que se colocada sob os efeitos da falta de emprego e da impossibilidade de viver com sua família uma vida decente, por certo reagirá, empregando o conhecimento que a globalização está lhe permitindo.
A massa criará as condições para a solução do problema, mesmo que tenha que tomá-la das mãos dos que se negarem a reconhecer a nova realidade da convivência social.
Neste momento os fatos que dia a dia se complicam, surpreendendo a população com violências insuspeitadas na minha meninice, ou serão anulados por uma divisão adequada dos bens do mundo, ou estes bens serão disputados numa peleja que dificilmente terá um vencedor.

Amar-nos como Deus quer


Jesus quando esteve aqui na terra enviado por Deus, para servir de referência para humanidade com os seus exemplos, apesar de todas as tentações, ensinou que todos devem se amar.
Para especificar este Seu ensinamento, de maneira clara e inequívoca, recomendou que cada um de nós amasse o próximo como a si próprio, ou conforme Ele nos amou.
Analisando, mesmo sem muito esforço, vemos claramente a preocupação do Homem de Nazaré, em valorizar a vida.
De fato, enquanto houver vida, o homem, com sua contribuição, através dos seus atos, interagindo com a natureza, louva o seu criador e fomenta o progresso, seu e do meio em que vive.
Nos tempos idos, os seguidores dos ensinamentos de Jesus, perseguidos pelos que temiam a implantação do amor na Terra, morreram barbaramente torturados. Nenhum deles, mortos por feras no circo, crucificados, enforcados, incendiados, apedrejados, levantaram a mão para agredir os seus carrascos.
O mundo hoje, no entanto, abriga homens de cabeça com realidades diferentes.
Chocante fica, pelo menos com o que os jornais divulgam, que os seguidores da Religião Islâmica, que se organizam e criam brigadas suicidas, que morrem matando montes de pessoas inocentes.
Sabemos todos, tanto os islâmicos quanto os Cristãos e outros que o Criador é um só e, por isso, não conseguimos entender o comportamento de suas criaturas, que num caso pregam o amor e exaltam a vida, enquanto noutro caso buscam a morte e no ato se tornam assassinos dos seus irmãos.
Mesmo que as culturas sejam diferentes, desde que não sejam selvagens que é o caso da milenar história da grande maioria dos povos Islâmicos, não se pode entender o ato de matar-se matando. Nem mesmo o ato de matar-se é explicável, para qualquer mediana inteligência, quanto mais matar outras pessoas.
Tenho para mim que as interpretações da filosofia e doutrina da Religião Islâmica está sendo incorretamente interpretada e, o que é pior, ensinada ou incutida com elevada dose de interesses escusos.
A Selvageria que tomou conta da Palestina e, agora, ganha outros palcos no mundo tem que ser contida. Estão errados os que são atacantes e os que reagem aos ataques.
As Nações Unidas, enquanto órgão que congrega todos os países do mundo deveria ser acima das ideologias, a guardiã da vida. Qualquer assassinato, em qualquer território na face da Terra, teria que se haver com o órgão mundial.
Mesmo porque, todas as nações que estão representadas na ONU, o são por homens que, no mínimo, são cultos e muito longe de serem selvagens.
Assim, quando se tratar de vidas humanas, será que eles não poderiam entrar em entendimento e encontrar uma solução pacífica para o problema?
Ou vão continuar como até agora, conversando, conversando, conversando...

domingo, 26 de abril de 2009

Ai que saudade!


— Joana! Joaaaana!
— Já vou Anselmo. Você não pode esperar um pouco?
Virando-se para a amiga que se equilibrava em cima de uma pilha de tijolos, do outro lado do muro, baixando a voz, segredou:
— Agora o Anselmo o deu pra isso. Não pode ficar muito tempo longe de mim. E sabe da maior Edwirges?
— Como é que poderia saber?
— Isso começou depois do segundo apagão.
As duas amigas moram no bairro Maria e foram vítimas do apagão não anunciado da última segunda feira, aliás, o segundo apagão não anunciado e, tampouco, explicado pela digníssima Elektro.
Para os mais velhos isso não representa nenhuma novidade, pois quem conviveu com a S.A. Centrais Elétricas de Rio Claro sabe o que é um apagão.
Naquele tempo a ineficiência da “Central Elétrica” foi tanta que os ararenses se cotizaram para criar a “Termoelétrica”.
— Começou com o segundo apagão Joana?
— Exatamente. Foi “um tal” de procurar vela “por cá e acolá”.
— Fazia tanto tempo que não eram usadas. Procura que procura e nada de achar a vela. Na escuridão acabamos eu e o Anselmo dando uma trombada. A minha testa bateu em cheio no nariz do coitado. Ele gemeu alto e a sua respiração ficou acelerada e forte.
— Com o susto eu, também, fiquei com a respiração acelerada e forte. Tentando acudi-lo e já me desculpando pela testada no nariz, nós nos aproximamos e...
— O que aconteceu Joana?
— Acabamos fazendo amor no meio da sala, no chão, no escuro, como nunca tínhamos feito antes.
— Agora o homem me chama a toda a hora, Edwirges. Eu até voltei a usar a pílula, pra não dar sopa às surpresas.
— Meu Deus! Que romântico. Ah se o Eurico fizesse isso comigo.
— Com certeza vai haver outros apagões, aproveite, não fique esperando cair do Céu, Edwirges.
— Já pensou se o Cine Santa Helena voltar a funcionar pra gente namorar no escurinho do cinema, Joana?
— Não precisa exagerar né Edwirges. Fazendo ou não fazendo amor, a gente precisa não esquecer que, os apagões sem explicações precisam acabar. Nós somos consumidores que pagamos, e bem, pelo fornecimento de energia e merecemos, no mínimo, respeito por parte da Elektro.
— Me deixa ver o que o Anselmo está querendo, Tchau Edwirges.
— Tchau, Joana, capricha hem!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Amar ao Próximo


O nosso senhor foi para a cama pensando naquilo que havia visto na televisão.
ºººO que seria aquilo que a mãe daqueles garotos havia dado para eles comerem. Com certeza era algum tipo de palha, pois não matou a fome dos coitados. Ou seria aquela planta que mais parece uma orelha cheia de espinhos. Pelo que eu sei - prosseguia pensando - aquela planta serve para benzimentos, principalmente, da coluna vertebral, esporões, bicos de papagaio, etc. Muita gente já foi curada pelo benzimento, mas matar a fome nunca havia escutado falar.
ºººA última vez que desconfiei da televisão foi quando da primeira viagem do homem à Lua. Tá certo que depois tive de aceitar, mas caramba será que a gente é obrigada a acreditar em tudo?
Aos poucos um aquecimento gostoso tomou conta de seu corpo e ele caiu nos braços de Morfeu. Dormiu o sono daqueles, cujo estômago cheio, não deixava saber, nem de perto, o que era passar fome. Não ter o que comer.
Contudo, não há ignorância, por mais enraizada que esteja que dure a eternidade.
De repente ele se viu em pleno sertão nordestino. Umas plantas que se assemelhavam ao cacto, com alguns daqueles braços espinhosos cortados, desafiando o Sol e a poeira. Esticou o pescoço e ao longe viu uma casinha com a chaminé soltando fumaça.
Olhou para os seus pés e estranhou as sandálias de couro esbranquiçado, um tanto velhas e passou o dedo entre um nó e a sua pele para aliviar a pressão que já começava a doer. Começou a andar em direção à casa. Sua mente estava vazia e apenas uma força estranha o impelia naquela direção.
Já se avizinhava do cercado e começou a ouvir o choro de criança, no princípio longe, mas a medida que se aproximava, era estridente e incomodava.
— O boa tarde saiu da profundeza de sua alma sem que ele fizesse força para cumprimentar a senhora, sentada à sombra da pingadeira do telhado.
— Como boa tarde, moço? – respondeu perguntando a senhora com cara de poucos amigos – e continuando:
— Há duas semanas que os meus filhos estão comendo o pão que o diabo amassou, isto é, se tivessem o pão que o diabo amassou para comer até que seria uma boa, estão comendo é casca desta planta espinhenta, nem mesmo cozinhá-las posso, não há água. Eu já estou pensando seriamente em começar a comer os calangos e escorpiões que passarem por aqui.
Ao ouvir a mulher, tomou um choque e aquele marasmo mental se desfez. Pensou:
ºººMas então era verdade aquilo que vira na televisão.
Uma voz grave e bem timbrada, daquelas usadas para gravar trechos da bíblia, vindo não se sabe de onde, disse-lhe:
— Mas é claro brasileiro. Será que você nunca vai abrir estes teus olhos que a terra vai comer?
Uma friagem subiu dos calcanhares até a parte mais sensível e ele começou a suar frio, apesar do calor.
O Nosso senhor era um homem pertencente à classe média do Estado de São Paulo e era um homem que se orgulhava da sua inteligência, mesmo que de vez em quando ela o levasse a duvidar das noticias da televisão.
Soltou um suspiro e entrou em transe.
Na sua mente passou os nomes da Sudene, Sudam. Os benefícios que para os que iam pagar imposto de renda. Lembrou-se dos homens ricos daquela região, sem nunca terem uma produção para creditar o aumento da riqueza.
Lembrou-se, também, das campanhas, inúmeras, para angariar alimentos para os nossos irmãos do nordeste. A raiva subiu em seu rosto, quando em sua mente desfilou um cem número de vezes que o governo dizia estar mandando dinheiro para acabar com a seca.
O fato, no entanto, é que em mais uma viagem astral, ele acabara de ver como os seus olhos que esta terra vai comer a miséria em que está mergulhado o nosso nordeste brasileiro.
Aquele casebre que visitara era apenas o exemplo de uma imensidão de outros onde a mãe, pai e filhos, estão passando fome.
As noticias de saques para buscar nos armazéns a comida para matar a fome eram verdades. Ele que no princípio condenara, agora não podia mais fazê-lo.
Não enquanto os espertos senhores, coronéis, políticos e latifundiários, lá daquelas bandas continuarem tendo acesso à água, ao arroz, ao feijão, à carne e ao conforto, em detrimento destes escravos, que recebem o mais duro castigo – passar fome – apesar de toda a boa vontade de trabalhar.
O nosso senhor pensou mais profundamente:
ºººComo um governo legalmente constituído, pode permitir que isto aconteça. É claro que a culpa não é só deste governo. Todos os outros anteriores deviam ser chamados a prestar contas do que fizeram para tirar o nordeste desta situação. Para onde foram as remessas dos valores que foram destinados para este fim. Acho que o certo é dizer: Com quem está o dinheiro.
Acho difícil achar, mas, com certeza, uma grande parte está nas avenidas à beira mar no Rio de Janeiro e em algumas mansões em Miami.
A indústria da seca tem que acabar, não é justo tantas crianças passarem fome e poucos, com os bolsos recheados, estarem estudando na França.
Para isto é necessário apenas um governo cuja moralidade seja o seu lema.
Dizer-se moral, é muito fácil, a necessidade é transformar a moralidade em atos morais, o que já é mais difícil. Nada, no entanto, que seja para super homens, apenas amar o próximo e a coragem são indispensáveis.
O nosso senhor estava ofegante, apesar de só ter pensado. Levantou os seus olhos e viu no horizonte o sol nascendo. Beleza indescritível. Um leve tremor marcou a volta do seu espírito ao corpo. Ele acordou e o silêncio fez-lhe companhia. Chorou silenciosamente para não acordar a esposa, pois no outro dia, pela manhã, ela iria trabalhar.
Graças a Deus ela tem um emprego




Arraial da alegria


Julho de 2001

A vida continua, sempre.

As palmas insistentes, quase de cobrador, chamaram a minha atenção.
Enfiei a cara pela janela e atendi:
— Pois não!
— Seu Vernil vai querer verduras hoje?
— Hoje não. Muito obrigado. Passe outro dia.
— O cheiro verde está muito bonito.
— A mulher saiu e só ela resolve este assunto. Obrigado.
O homem da verdura deu meia volta e saiu em direção à casa do meu vizinho.
Aproveitando o esforço feito para sair à janela, estiquei o momento lançando meu olhar para o mini jardim de minha casa.
A rosa pequena de cor rosa estava despetalada. Era a inequívoca mostra da ação do tempo.
A matéria não é eterna. Vive reciclando-se, formando-se, reformando-se e mais uma vez transformando-se..., cada vez mais forte e bela, sob as leis do Criador.
Fechei os olhos e agradeci a Deus pelo meu corpo, pela minha vida e tudo.
A pontada na barriga da perna me trouxe de volta à realidade e à lembrança da Festa Junina do IDE, no dia 30 de junho.
Poucas vezes a gente tem oportunidade igual a daquele sábado.
O sanfoneiro e o tecladista, que compunham o conjunto musical, rasgaram os ares com velhas, conhecidas e desconhecidas modas, animando o baile. O chapéu e a vassoura propiciaram as mudanças de pares que embalados nas saudades de uns e no vigor físico de outros, viveram momentos de alegria.
Houve momentos divinos, como no momento em que eu dançava com exímia dançarina.
Acredito que por caridade ela colocou um sorriso em seus lábios e me cumprimentou:
—— Puxa como o senhor dança bem!
Mal sabia ela que eu tinha plena consciência de que os meus grandes pés, insistentemente, tomavam o caminho da direita quando o certo era rumar para a esquerda. Que Deus a abençoe pela paciência.
A sorte é que a mescla entre jovens e mais antigos deram nome ao baile: Festa Junina.
Se fossem só jovens o Baile teria o seguinte nome: Baile dos adolescentes!
Se fossem só mais antigos teria o nome de: Baile do desmanche!
Aliás, gostaria de saber o estado físico daquele senhor de barbicha. Pulou tanto, tanto, que deve ter passado o domingo na salmoura.
Na verdade o nome do Baile pouco valor acrescentaria ao evento, que aconteceu singelo.
O ponto alto, no entanto, foram os quitutes oferecidos. Louvor para um “Cuscuz”, apesar da pimenta, que, infelizmente, foi o primeiro a acabar.
O quentão (sem pinga, ou seja, chatão) e o chocolate quente garantiram a temperatura da festa.
Além disso, a festa serviu para alertar os jogadores de tênis, da necessidade de praticarem outros esportes para não sofrer de dor na batata da perna, por causa de uma sambadinha na festa junina.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Fé e o passar do Tempo

A quaresma, hoje em dia, já não é a mesma daquele tempo.

Naquele tempo o Inferno era um lugar mais conhecido e, com certeza, muitos dos meus amigos e eu próprio, já nos sentíamos definitivamente instalados, mais dia menos dia, entre os caldeirões de óleo fervente que, por certo, haveriam de nos cozinhar eternamente.

Passaram se os anos e, apesar de todas as intimidações, estamos, todos nós, ainda, convivendo com os mais santos que estavam destinados a lugares menos agressivos, tais como o Purgatório e o Céu.

Agora, cientes das coisas da vida, raciocinamos se valeram alguma coisa tantas horas de bater a matraca em volta da Matriz.

Pode até não ter valido a pena, mas a tarefa tinha os seus fascínios.

Assim como, o Lava Pés, o Sermão das Sete Palavras, a Procissão do Enterro e a Procissão do Encontro que, me lembro, proporcionou-me assistir o mais belo de todos os amanheceres que vi em toda a minha vida.

A experiência manda que a análise seja feita baseada naquilo em que acreditávamos.

Neste caso, cada ato, cada oração, valeu a pena.

A fé robusteceu os nossos espíritos e hoje somos o que somos graças a formação que tivemos, de muito respeito, às coisas divinas.

Hoje acreditamos em coisas que sendo diferentes, não são tão diferentes, pois, ainda, são baseadas na Fé que nos diz que cada um de nós é o retrato das nossas obras.

E, assim, trazemos dentro de nós o próprio Céu, o Purgatório, ou o Inferno, de conformidade com as nossas atitudes.

Hoje vangloriamos as verdades e a lógica e, por certo, só fazemos isso porque em nós havia espaços criados pela Fé de antigamente, que se não são baseadas nas verdades que hoje defendemos, começou a ser instalada a partir da nossa crença em Deus e no respeito pelo Evangelho de Jesus.

Assim, não creio que haja conflito entre a nossa Fé de ontem e a nossa Fé de hoje. Entre as duas apenas um interregno de tempo e um tomar ciência da realidade acompanhada da experiência de vida de cada um.

Acreditar em Deus, viver segundo o Evangelho que Jesus nos trouxe a nossa progressão espiritual, vista do nosso bom proceder que nos coloca mais perto da sabedoria.

Tanto melhor que não haja Inferno para onde nos mandem.

Mas, toda a atenção é pouca, para não criarmos o nosso Inferno particular, que se não é eterno é tão ruim ou pior, pois que não há Infernos que não sejam ruins.

Parta tanto a receita é: Amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.