A mentira é verdade
Vernil Eliseu,
03 de abril de 2.010 - vernileliseu@gmail.com
O seu nascimento foi cercado de verdadeiras peripécias
médicas, sem as quais ele não teria sobrevivido.
A sua mãe chorava diariamente e o amamentava embalada
pelos soluços da desilusão.
Seu filho era feio.
No entanto, como só acontece com as mães, com o passar
do tempo, começou a ver no seu rebento a beleza dos príncipes encantados.
Todos os dias ela repetia: Como é lindo o meu filho!
Passado algum tempo não só repetia – Como é lindo o
meu filho! Como, de fato, acabou acreditando piamente que ele era muito bonito.
Cresceu o rebento e na sua adolescência, nos momentos
de enfeitar-se para interagir com os amigos e amigas de sua idade, olhando no
espelho, notava alguma coisa diferente.
Apesar disso acostumado com a sua figura, repartindo o
cabelo, dizia para si, com grande ênfase: Como eu sou bonito!
Repetia sempre: Eu sou bonito!
Os seus amigos cansados de brincar com a sua feiúra,
com a convivência passaram a não reparar mais na desagradável figura e, como só
acontece na repetição, acostumaram-se com a presença dele.
A vida é coisa que poucos dos homens conseguem
entender e sempre arranja um jeito de colocar frente a frente aqueles que
precisam uns dos outros para que possam cumprir as suas missões.
Assim é que ele encontrou uma mulher feia que, como
ele, repetia todo o dia para o espelho que ela era bonita.
Casaram-se e, para todos da sociedade formaram um
casal muito feio.
Mas, no novo lar, ambos abraçados e diante do espelho
repetiam a mais não poder: Como somos bonitos.
Repetiam isso todos os dias.
E foram felizes para sempre.
Moral da história:
A mentira quando repetida muitas e muitas vezes acaba
se transformando numa verdade verdadeira, ou:
A beleza só é bonita naquele que ama verdadeiramente.