segunda-feira, 26 de julho de 2021


O tempo e a alma

Vernil Eliseu – 05/12/08

vernileliseu@gmail.com

Graças a Deus, hoje, mais que antigamente, a disposição de conversar é uma realidade.

Numa confraternização, conversávamos eu e um amigo de longos anos, entre outras coisas, sobre o que o tempo de vida traz de bom para o homem.

É certo que ficamos muito mais sensíveis.

O interessante é que esta sensibilidade se materializa de maneira a aumentar a preocupação do homem.

Por algum dispositivo que desconhecemos o homem preocupado, na maior parte das vezes, não se dá conta da preocupação com o seu próprio ser.

É verdade que ele se preocupa consigo, mas o grande alvo de suas preocupações são outras coisas.

Preocupa-se com os governos, com acidentes, com os familiares, com tudo que acontece no mundo, de modo potencializado que, de certa maneira, o faz sofrer.

Seria porque com as experiências vividas compreende e separa com competência o que é inócuo e o que é útil para o engrandecimento do progresso do homem?

Pensamos que sim.

Nesta altura do tempo de vida, buscando com mais veemência as explicações da utilidade da própria vida, ele desemboca no vale do Bem e do Mal.

Alguns, religiosos, estudiosos e os mais atentos, buscam balancear os seus enganos no tempo, acreditando no Deus Justo e Bom.

Os demais, no entanto, sem os cuidados devidos, sensibilizados, sofrem, pois são incapazes de achar a porta que os levem à realidade.

Aí, o saldo das causas e dos efeitos, nos cadinhos onde se processa as necessidades das experiências que sustentam e fazem avançar o progresso do homem se torna extremamente penoso.

Por isso, as lágrimas que costumam visitar os olhos dos mais vividos, são naturais.

Nos olhos de uns espelham a alegria e a despreocupação daquilo que acontece para os que ainda estão no começo da viagem.

São os olhos dos mais seguros que acreditam na vida eterna.

Nos olhos de outros espelham tristeza e a desconfiança no futuro dos que estão no começo da viagem.

São os olhos dos que se atrasaram na compreensão da vida.

Estes, eles próprios deverão retornar, retornar e retornar. 

 

 

  

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Calor humano

Calor humano

 

Vernil Eliseu – 13/06/2007

vernil@linkway.com.br


 

O dia dos namorados passou.

 

Já não se comemoram o dia dos namorados como antigamente.

 

Antigamente neste dia as praças da cidade ficavam cheias.

 

Casais de namorados passeavam de mãos dadas, trocando olhares e promessas de amor eterno.

 

As lojas, como hoje, ficavam abertas até mais tarde e ficavam cheias de clientes comprando num último esforço financeiro o presente para a outra metade da laranja.

 

Imaginem, as flores eram as mais escolhidas.

 

Ramalhetes, rosas solitárias, buquês, ganhavam a companhia de um cartão perfumado com poemas de amor escritos em caligrafia impecável.

 

O dia dos namorados era o mais escolhido para se ficar noivo.

 

Era o dia da grande aventura, de encarar o velho e pedir a mão de sua filha em casamento.

 

Era o dia em que a filha do velho passava a ser a namorada permanente.

 

Fruto desses pormenores, românticos, antigos, mas muito bonitos, alicerçava-se o casamento, a família que desafiava o tempo e arrumava o caminho para o sucesso dos filhos.

 

Até por decurso de prazo e por mal observador que somos hoje não sabemos a quantas andam estes pormenores do dia dos namorados.

 

Imaginamos que a tal de internet deve ser o meio através do qual as juras de amor são trocadas hoje em dia e não podemos deixar de sentir, não dó, mas uma tristeza de saber que os namorados se informatizaram tanto e deixaram de lado o calor da presença da mão na mão, do olho no olho, do coração no coração.

 

É, no entanto, o preço a ser pago pelo progresso.

 

Mas, puxa vida, será que juntamente com este progresso espetacular que o mundo da informatização propicia não poderíamos experimentar, também, um progresso no relacionamento humano, direto, cara a cara.

 

Sabemos que esta necessidade do calor humano é intrínseca no homem e mesmo que por agora anda meio que escondido, num momento qualquer, apesar das ondas cortando os ares ele se fará presente.

 

Não sabemos o dia de amanhã.

 

Mas temos a nítida impressão e até temos medo de que quando este momento vier os namorados de hoje não estejam preparados para recebê-lo.

 

Por isso, desculpem o fora de moda da nossa confissão, estamos nos colocando no papel daqueles que sem poder mover a pá da compreensão, se colocam na posição de esperançosos e com as suas orações almejam de uma maneira ou de outra, ajudar o coração dos jovens na compreensão de que eles precisam se preparar para o calor humano.

 

  

A vida Continua


A vida continua

vernileliseu@gmail.com

26 de maio de 2.021.

 

Confesso que as horas dos dias pelos quais estamos passando, perderam a importância e continuam morando nos poucos espaços entre as lentes e os belos mostradores dos relógios das melhores marcas.

Pudera, a pandemia como que fazendo dupla com as horas pelas quais estamos passando, comprime todos nós nas paredes desbotadas das nossas casas.

Formam as duas, horas e pandemia, uma força descomunal, que insistem em testar a nossa paciência.

As horas parecem o Engenheiro Agrônomo medindo o tamanho do Universo com os seus próprios pés.

A Pandemia e as mal encaradas cepas, que se multiplicam como coelhos (Desculpem os Coelhos), desafiam os nossos irmãos cientistas, mostrando as línguas e regalando os olhos, numa gozação que já atingiu a calma e a inércia das agulhas espetadas nas seringas, provocando e mostrando o lerdo movimento.

Apesar disso nós, alvos inertes para estes perigos, temos que nos mostrar sorrindo, pois caso contrário, seriamos modelos do desespero ao qual estas duas que caminham juntas querem nos levar.

Assim como não há bem que dure, não há mal, sabemos, que perdure.

Então o jogo está feito.

Há de vir o bom senso do entendimento e a multiplicação da produção, tanto da vacina como do bem e com isso venceremos, mesmo que seja pela teimosia de alguns, mas, com certeza pelas mãos do nosso Pai Criador.

Poderíamos reclamar de tantos irmãos, cujos comportamentos deixaram a desejar, mas, afirmamos, eles também, em virtude do gosto amargo de terem sido vencidos, acrescentaram às suas histórias ensinamentos que, mais tarde serão obrigados a lançar mão.     

 

  

A Rosa vermelha espia por cima do muro


 

A Rosa vermelha espia por cima do muro


 

         A chuva da noite ainda era presente nas pétalas da linda Rosa Vermelha.

 

         As gotículas refletiam, naquela manhã, o sol tímido que começava a rasgar as esparsas nuvens escuras que, apressadas, corriam atrás da nuvem maior que seguia relampejando lá no horizonte.

 

         Como se fosse a rapariga acostumada a ficar de braços cruzados na janela da frente, a Rosa Vermelha, espiava a rua por cima do muro, naquela hora com o movimento dos carros que saiam fumegando das garagens e se preparavam para levar os seus donos para o trabalho.

 

         Veja a Rosa Vermelha, não é linda? Parece que ela está montando guarda na frente de nossa casa. A mulher mais observadora retrucou: parece mais que ela está espiando a rua.

 

         O homem acostumado às observações da esposa, abrindo a porta do carro, começou a pensar:

 

         Se ela passou a noite toda espiando deve ter visto tudo o que se passou. Se ela soubesse falar quanto não teria a dizer?

 

         Lembrou-se dos jovens, que iam e vinham passando defronte ao muro de onde espiava a Rosa Vermelha.

        

         Será que ela viu os cigarros de maconha que eles fumavam. Sou capaz de apostar que ela deve ter tapado o nariz para não sentir aquele cheiro de estrume queimado. Será que ela viu as caras daqueles, ainda, meninos servindo de moldura para os olhos vermelhos, arregalados, mas sem nada verem. Será que ela viu, por dentro da cabeça daqueles homens de amanhã, o vazio de ideais e de moralidade. Será que ela viu ou percebeu as energias negativas da omissão dos pais, dos vizinhos e do próprio bairro, acompanhando, como uma nuvem negra aqueles mocinhos. Será que ela viu a preocupação dos anjos de guarda, rechaçados, esperando que alguma luz se fizesse dentro daquelas carnes que começavam a apodrecerem, para poderem agir. Será que ela viu ou pensou na falta de vontade política para pôr fim àquela vergonha. Será que ela viu os homens encarregados de combater o tráfico daquela morte lenta olharem... olharem... e não enxergarem o que todas as outras pessoas enxergam

 

         Em direção ao trabalho, ouvindo a música suave no rádio do carro, continuou a pensar:

 

         Engraçado a Rosa Vermelha ontem não estava lá e hoje vestida com o seu melhor vestido refletia nas gotas, que o enfeitavam, a luz do astro rei.

 

         A vida é um inexorável caminhar em direção à morte e à vida.

 

         A Rosa Vermelha, por certo, sabia muito bem disso. Ela própria estava sujeita a esta lei. Nascer, Viver, Morrer, Renascer.

 

         Não sabia dizer se a Rosa Vermelha, como ele, acreditava na vida após a morte e na reencarnação.

 

         Sentiu um nó na garganta ao lembrar-se que todos aqueles meninos, que estavam apressando o fim de suas vidas, numa outra encarnação, por certo, haveriam de passar momentos de extrema delicadeza para saldarem suas dividas pelo crime contra a lei da vida. Estavam abreviando as suas vidas e no futuro, numa outra encarnação, teriam que repetir as lições e aprenderem as novas sem as mesmas facilidades de agora.

 

         A imagem da Rosa Vermelha se avantajou na sua mente e numa bela mágica falou: se eles vão sofrer imagine aqueles que tentaram e permitiram que os meninos se drogassem.

 

         É mesmo! Todos eles vão ter que pagar tim tim por tim tim as suas más tendências, convertidas em atos contra as Leis de Deus.

 

         A Rosa Vermelha, outra vez, avivou-se na mente dele e disse: Lembre-se que a misericórdia de Deus é muito grande e ele não condena, eternamente,  nenhum de seus maus filhos, a todos ele oferece a oportunidade de redimirem-se, porém, os ventos semeados inconseqüentemente, serão obrigatoriamente colhidos, às vezes, como vendavais. Assim, os que contribuem para a perdição destes nossos filhos, vão ter que lutar com a perdição. Será uma luta, com certeza, com muito sofrimento.

 

         Chegou ao seu lugar de trabalho, parou o carro, desligou o motor e ficou parado, olhando através do para-brisa sem nada ver.

 

         A sua mente encheu-se de imagens. Quantas e quantas vezes tinha visto o menino caído no meio fio com o saquinho de cola na mão. Será que as outras pessoas não haviam visto aquela cena. Será que a cidade cujos olhos detalhistas para as modas e divertimentos não estava vendo a perdição à sua frente. Será que a grande quantidade de crak apreendida, não estava mostrando à bela cidade que o seu meio estava sendo sujeitado pelos emissários da desgraça. Resolveu então, naquilo que acreditava ser a sua melhor contribuição naquele momento, fazer uma oração:

 

Senhor. Não quero prolongar-me nesta oração A Rosa Vermelha viu tudo e me contou e eu peço neste momento que através da sua misericórdia envie à minha cidade as energias necessárias para que todos os seus moradores se transformem em guardiães da vida. Onde houver tentação que eles possam afastá-la com a razão.

A razão do Pai mostrando o caminho ao filho;

A razão do professor que ensina o aluno a vencer pelo saber;

A razão dos políticos que devem lutar por aquilo que é melhor para todos;

A razão da polícia que deve agir quando todos os outros métodos falham;

A razão da mãe que é o Seu amor aqui na terra;

A razão de todos que ajudam no avanço da moralidade humana, independentemente, de credo, raça ou cor.

Senhor, acima de tudo, porém, peço-Lhe que não nos deixe continuar na omissão.