terça-feira, 19 de outubro de 2021

O Banquete dos Deuses



29/08/2021

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A dona Escalina, uma senhora negra, alta, bonita, esposa do seu Zé Fumaça, comandava a garotada da rua 13 de maio.

Os iças, parecia, que nasciam do chão e com voos inseguros povoavam os ares da rua.

A garotada (naquele tempo molecada) arrancavam as camisas e começavam a caçada aos iças.

Dona Escalina, sem pressa, ia recebendo o produto das caçadas de cada um dos garotos, cujos olhos brilhavam, pensando no banquete de logo mais.

Para muitos dos garotos aquele banquete que se anunciava era, nada mais nada menos, que a mistura que comeriam naquela tarde.

O número de garotos era de mais de 10, com suas camisas espanando o ar e derrubando os iças, gordinhos e de sabor gostoso.

Da empreitada participavam, também, a Amélia e a Zezé, filhas adotivas de dona Escalina, cujo nome verdadeiro não tenho a certeza se era este.

A caçada era incansável e o produto de tantas “camisadas”, quase sempre enchia uma bacia, tão usadas naquela época (fim da década de 40 e início da década de 50).

A dona Escalina e suas filhas, começavam a preparação para aprontar os iças.

A parte usada era o bum-bum dos iças, gordinhos e de recheio abundante.

As vezes o Iça ia pra chapa quente inteiro.

Na verdade, os garotos sentavam se ao redor da bacia e começavam a degustação prolongada dos iças torradinhos.

Se inteiro separavam o bum bum do resto.

Era uma verdadeira festa, cujo costume, desapareceu na poeira do tempo.

Hoje dificilmente se vê um iça voando no ar da cidade e, por isso, os garotos de hoje, infelizmente não vão conhecer o banquete igual ao que a Dona Escalina proporcionava para todos os garotos da rua e adjacências.

Dona Escalina impunha respeito com a sua altura sem, entretanto, erguer a voz para chamar a atenção dos garotos.

Um tempo de coisas bonitas, mesmo que estranhas para os dias de hoje mas, de grande congraçamento dos vizinhos da rua 13 de Maio.   


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