Feijoada maledeta
Vernil Eliseu - 26/08/2003
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Vernileliseu.blogspot.com
A minha vizinha e amiga que me
ajuda a compreender e a entender o mundo, finalmente, resolveu convidar-me para
almoçar na sua casa.
Eu, que não sou bobo nem nada, quis saber qual seria o "menu".
Mesmo porque comer arroz com feijão eu como em casa.
— Ora, seu Vernil, o senhor só vai saber no dia.
—
Insisti, reclamei, mas não houve jeito, tive que me contentar com o
convite.
Na véspera do dia marcado, desde cedo, cuidei para não exagerar na comida
e, principalmente, nas gorduras.
Logo no começo da manhã, antes mesmo do café, mastiguei uma folhinha de
boldo. Mastiguei outra antes do almoço e outra antes do jantar.
O meu intuito era deixar o meu organismo preparado para o que desse e
viesse.
Cheguei na casa de dona Maria em torno das 10 horas. Havia tomado uma xicara
de chá de erva-doce após ter mastigado mais uma folhinha de boldo.
Por isso o meu estomago estava totalmente vazio e doendo de tanta fome.
— Bom dia pessoal, cumprimentei dona Maria e seus familiares.
— O marido dela dedilhava um violão e um dos filhos, meio desafinado,
tentava cantar uma canção do momento. Os copos de cerveja estavam todos cheios
e no meio da mesa estava uma jarra com caipirinha.
Eu não bebo, ou melhor, eu não posso beber, mas para não fazer desfeita
aceitei um copinho de caipirinha e, inexperiente, para não ficar com ele na
mão, virei de uma vez só o conteúdo, avaliando que a "mardita" dentro
do copo era pouca.
Era pouca, mas não para quem não bebe.
Senti o líquido descer queimando tudo o que encontrava pela frente.
Faltou me ar e os olhos encheram-se de lágrimas.
Não reclamei e, por isso, tomei um gole longo de cerveja que estava no
copo que me colocaram na mão.
A reversão foi violenta e me fez afogar. O acesso de tosse foi
sensacional.
Com o estomago vazio e aquela agressão que minha ignorância havia
permitido, experimentei uma reação como nunca havia sentido.
Uma zonzeira tomou conta de mim e não fui capaz de ficar em pé.
O mundo parecia um tapete sendo sacudido. Fiquei verde e enjoado.
Minha mulher com um pano de pratos, desesperada, tentava produzir o ar
que me faltava.
Dona Maria veio com um chá de boldo que havia preparado antecipadamente
para a ocasião e meteu-me um xicara pela goela abaixo.
Aquele amargo foi a gota que fez transbordar a minha desdita.
O verde de meu rosto ganhou coloração cinza escuro e eu tive que ser
socorrido no pronto socorro da cidade.
Dois dias depois, um pouco melhor, soube que havia perdido a melhor
feijoada que dona Maria havia produzido.
— Sabe seu Vernil, - dizia dona Maria - tinha paio, calabresa, toucinho,
rabo e orelha de porco . . .
Tive que sair correndo em direção ao banheiro.
Passei quinze dias tomando caldo de galinha.