quinta-feira, 17 de abril de 2008

A Mangueira da Dona Benvinda


A mangueira desafiava a nossa compreensão de meninos.
Seu tronco, muito embora forte, não parecia ser suficiente para equilibrar a frondosa árvore.
A sua sombra, como que um enorme guarda sol, quase que tomava a extensão do quintal de meio quarteirão de tamanho.
Sua copa era como que um Céu esverdeado.
As pequenas e frutíferas árvores ao seu redor mais pareciam súditos de um reino encantado a render-lhe homenagens e empregavam-se a fundo na tarefa difícil e suave da produção para que toda vez que os frutos carregassem os seus galhos, estivessem com a dosagem do adocicado no ponto, ao gosto de todos nós, um bando de crianças, vivendo momentos inesquecíveis de nossas vidas.
É certo que Dona Benvinda ficava ao pé da mangueira exigindo que falássemos com ela para não abocanharmos todas as mangas maduras que conseguíamos apanhar. As vendas das mangas como de resto de todas as frutas cultivadas no quintal rendiam um bom dinheiro que, permitia à inesquecível senhora aplicar algum no jogo do bicho, único divertimento naquela época.
É certo, também, que o Bicho de Fogo, com seus pelos verdes avermelhados havia queimado braços de muitos de nós. Cada encostada num deles rendia 24 horas de sofrimento.
Quantos riscos nós enfrentávamos, pois um choque alérgico poderia ter levado alguns de nós à morte ou a uma internação mais prolongada na Santa Casa de Misericórdia.
Naquele tempo pouco se ouvia falar desses choques alérgicos tão em moda nos dias de hoje.
Mas, que fazer, com aquela tentação amarela esverdeada, de tamanho avantajado que nascia logo na ponta do galho mais distante.
Eram, podemos considerar, como as aventuras do Indiana Jones, que acabavam por vencer as nossas resistências e todos como verdadeiros alpinistas galgávamos o tronco e galhos escorregadios da imperial mangueira em busca da manga grande e doce como mel.
No terreno, ainda, se podia colher no pé, jabuticabas de pelo menos três tipos, caquis, goiabas, abacates e mais quatro tipos de mangas, uma mais doce que a outra.
O quintal da Benvinda era o paraíso na terra.
Por isso, todos do grupo sentem saudades da Dona Benvinda que, Deus levou para cuidar dos seus pomares, lá no Céu.

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