A Cebola veio rolando pelo chão.
Coisa corriqueira em um Supermercado.
Despertou a nossa atenção, pois, a imagem nos pareceu de um ser que deslocado, desolado, esquecido, ridicularizado e evitado, merecia, de nós seres humanos, uma valorização que nem o seu preço de quilo alcançava.
O primeiro carrinho, conduzido por moderna dona de casa, com seu costume jeans curto, à mostra pernas roliças e sadias em cujo ápice sustentava o bumbum bem feito, evidenciando o uso de algum artifício de enchimento, foi freado e por pouco não esmigalhava a Cebola que, indiferente, continuava sua trajetória trágica.
O rosto da condutora do carrinho contraiu-se, deixando que o desdém tomasse conta de sua representação teatral.
Um marido desgarrado, tentando repetir os nomes dos produtos que a mulher recomendara para comprar, com os óculos na ponta do nariz, deu um salto e se reequilibrou evitando com a manobra que a Cebola passasse por cima de seus pés acomodados em sapatos acolchoados.
O garotinho que se especializara em derrubar produtos das prateleiras do “hiper” parou e com muito espanto gritou:
— Olhem a Cebola rolando!
Na seqüência, correu em direção ao carrinho de compra da mãe para lhe contar a novidade, sem desconfiar que o seu grito havia chamado a atenção do povaréu que estava comprando mais do que devia, naquela tarde chuvosa.
Se a Cebola pensasse e aquela por certo pensava, estaria apavorada pelo alvoroço causado pela sua incursão não planejada pelo chão do “hiper” e querendo que o seu impulso indesejado acabasse bem debaixo de alguma prateleira salvadora.
Com alguma sorte, talvez, quem sabe, não seria esquecida pelas cerdas das vassouras da limpeza e pudesse, ali mesmo, brotar para dar origem à nova vida para o mundo das Cebolas. Ou por outra, quem sabe alguma senhora perfumada, de bondoso coração, não a pegasse e destinasse a ela a prateleira da despensa de uma mansão.
Eram conjecturas a serem levadas em consideração.
Afinal ela uma Cebola bonita, tinha o direito de sonhar o melhor para si.
Não seria aquela “corrida” provocada pelas mãos desatenciosas e trêmulas de uma velhinha que haveria de mudar o sentido da sua vida. O seu destino não poderia estar atrelado somente a um prato saboroso.
A rapidez dos seus pensamentos, no entanto, não conseguiu ser tão rápido quanto o atencioso rapaz de costume cinza com letrinhas vermelhas que, como um raio, passou por nós e pegou a Cebola e recolocou-a na banca de onde ela saíra rolando.
Coisa corriqueira em um Supermercado.
Despertou a nossa atenção, pois, a imagem nos pareceu de um ser que deslocado, desolado, esquecido, ridicularizado e evitado, merecia, de nós seres humanos, uma valorização que nem o seu preço de quilo alcançava.
O primeiro carrinho, conduzido por moderna dona de casa, com seu costume jeans curto, à mostra pernas roliças e sadias em cujo ápice sustentava o bumbum bem feito, evidenciando o uso de algum artifício de enchimento, foi freado e por pouco não esmigalhava a Cebola que, indiferente, continuava sua trajetória trágica.
O rosto da condutora do carrinho contraiu-se, deixando que o desdém tomasse conta de sua representação teatral.
Um marido desgarrado, tentando repetir os nomes dos produtos que a mulher recomendara para comprar, com os óculos na ponta do nariz, deu um salto e se reequilibrou evitando com a manobra que a Cebola passasse por cima de seus pés acomodados em sapatos acolchoados.
O garotinho que se especializara em derrubar produtos das prateleiras do “hiper” parou e com muito espanto gritou:
— Olhem a Cebola rolando!
Na seqüência, correu em direção ao carrinho de compra da mãe para lhe contar a novidade, sem desconfiar que o seu grito havia chamado a atenção do povaréu que estava comprando mais do que devia, naquela tarde chuvosa.
Se a Cebola pensasse e aquela por certo pensava, estaria apavorada pelo alvoroço causado pela sua incursão não planejada pelo chão do “hiper” e querendo que o seu impulso indesejado acabasse bem debaixo de alguma prateleira salvadora.
Com alguma sorte, talvez, quem sabe, não seria esquecida pelas cerdas das vassouras da limpeza e pudesse, ali mesmo, brotar para dar origem à nova vida para o mundo das Cebolas. Ou por outra, quem sabe alguma senhora perfumada, de bondoso coração, não a pegasse e destinasse a ela a prateleira da despensa de uma mansão.
Eram conjecturas a serem levadas em consideração.
Afinal ela uma Cebola bonita, tinha o direito de sonhar o melhor para si.
Não seria aquela “corrida” provocada pelas mãos desatenciosas e trêmulas de uma velhinha que haveria de mudar o sentido da sua vida. O seu destino não poderia estar atrelado somente a um prato saboroso.
A rapidez dos seus pensamentos, no entanto, não conseguiu ser tão rápido quanto o atencioso rapaz de costume cinza com letrinhas vermelhas que, como um raio, passou por nós e pegou a Cebola e recolocou-a na banca de onde ela saíra rolando.