segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ciranda do tempo

— Ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar.
O som longínqüo da saudade chegava até os meus ouvidos. A inocência naquele tempo era uma realidade belíssima que todos nós, sem desconfiarmos do seu valor, nem ligávamos.
A saia plissada, em azul marinho, a blusa branca e o laço de fita compunha o uniforme das normalistas.
A incontestável beleza que se impunha à natureza misturava-se com o objetivo da futura professora de disseminar a cultura.
Passados tantos anos, longe das salas de aulas, reverencio as minhas professoras e os meus professores, pois sou o produto do esforço de cada um deles. Jamais poderei agradecê-los com toda a grandeza que eles merecem. Por isso, na simplicidade do meu muito obrigado, declaro-me devedor perpétuo de todos eles.
Antes disso, no entanto, moleque daqueles tempos românticos, quantas e quantas vezes eu e meus amigos de infância abusamos do não ter o que fazer para atazanar a paciência de todos que, pudessem ter em sua casa, no seu trabalho ou na sua escola, alguma coisa que nos desse a chance de nos divertirmos.
Entrarmos nos quintais que tinham pé de mamão, apanhar a fruta, comê-la sentados em volta do pequeno lago com estátuas, ao lado da igreja e jogarmos as cascas, suculentas e terrivelmente amarelas, pelas janelas, para dentro das salas de aula do Ginásio.
Claro que escolhíamos os momentos mais sublimes para cometer os nossos atos. Esperávamos o momento do ensaio do orfeão e fazíamos o bombardeio.
Era aquele alvoroço. Correndo a mais não poder, com o canto dos olhos, víamos aparecer nas janelas um monte de fitas brancas, tendo abaixo um monte de moças bonitas indignadas com a nossa má educação.
Escrevo isso e vou sentindo um frio percorrendo o meu corpo, provocando na altura da boca do estômago um mal estar indescritível.
Se pudesse voltar no tempo com a limpeza que tenho hoje, na minha cabeça, é claro, não faria aquilo. No entanto, já está feito e eu, tardiamente, imploro o perdão daquelas moças.
A culpa - acho que é mais uma desculpa - é da televisão que foi inventada tardiamente. Isso provocou em toda a molecada daquela época uma ausência de informação que nos colocavam, todos, meio perdidos no tempo. Faltou nos momentos cruciais da nossa formação um mundo de informação que, hoje, a molecada (nem sei se o nome ainda e esse) manuseia com invejável maestria.
Esses são os fatos, mas, o que realmente ficou-nos como imagens, sem precisar de retoques, belas, coloridas e amadas foram as normalistas.
Saias azul marinho, blusas e fitas brancas . . .
Dona Maria, sem casca, foi logo dizendo, isso é que é amor recolhido!
Aleixo!

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