domingo, 21 de março de 2010

A velha velhice nova

Eu era assim... Faz tempo.
O homem é um eterno descuidado.
Nem tanto pela sua natureza, mas mais pelas necessidades de sua atenção, que comumente voa de um extremo a outro da vida, trazendo-o extremamente ocupado.
Quando novo este fenômeno é mais acentuado e à medida que o tempo vai passando, até pelo tempo decorrido, suas respostas aos estímulos do meio começam a ser mais vagarosos.
É assim que o homem maduro fica cada vez mais atencioso e observador.
Passa a ver as belezas que o cerca, num mundo de cores e formas que começam a encantá-lo e que a mocidade, na velocidade do viver, escondia dele.
Não há, no entanto, mal que para sempre dure e, por isso, na maturidade o homem começa a viver, fazendo jus ao ditado que sabiamente vaticina que a vida começa aos 40.
O canto dos pássaros chama a sua atenção e o homem passa a ser um deslumbrado com as antenas de TV, onde as pequenas criaturas escolhem para fazerem os sons que lhes competem na vida. É o Bem Te Vi barulhento, a Rolinha discreta, o Pardal audacioso, o Quero-Quero bravo, o João de Barro com sua arrelia e, até mesmo, o Sabiá com seu canto triste, povoam a sua sensibilidade despertada pela experiência.
Isso tudo, no entanto, tem um preço. O preço da realidade.
Está certo que olhando no espelho eu, por exemplo, que estou nesta fase da vida, me via, ainda, guapo e belo. Aliás, pensava-me guapo e belo.
Não levei em consideração o meu descuido e sem isso não vi o tempo passar e marcar-me com as suas cores puxadas para o pastel.
Esta realidade, como só acontece na vida, chocou-me e abalou o meu alicerce, rachando o reboco da mocidade que, insistentemente, eu pensava, ainda, cobrir o meu rosto.
Foi uma chamada à consciência.
Porém, nada me abalou tanto, mesmo com esta consciência já em mim, quando vindo para o trabalho no programa Fatos e Debates, num ônibus da SMTCA, uma senhorita, novinha em folha, bonita e de olhos verdes, levantou-se e educadamente ofereceu-me o seu lugar para que eu me sentasse.
Confesso que no primeiro momento fiquei sem saber o que fazer e agradeci a gentileza.
Nos momentos seguintes, no entanto a realidade atingiu-me como um direto de direita do Maguila.
Foi então que eu percebi o porquê as flores, o céu, as estrelas, a lua, as montanhas, o mar me parecem mais belos, hoje. A experiência de minha vida esta no meu rosto.





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