quarta-feira, 16 de março de 2011

O Alicerce

— Estou ficando velho!
— Que é isso seu Vernil, deu prá falar besteira?
— Assim fosse dona Maria.
—Minha sobrinha Débora casou-se e na festa esqueci-
me do tempo e paguei caro por isso.
— Imagina que comecei a dançar com minha sobrinha, a Tatiana e mandei ver. Requebrei, rodopiei, pulei e, pensei que estava dando um show, dançando feito o Baryshnikov, sonhando ser o alicerce do mundo.
— Nenhuma novidade, o senhor sempre dançou bem!
— Aí é que está o nó de mais em cima. Segundo alguns mais atenciosos, eu parecia que queria apagar pontas de cigarro que estavam no chão e ao mesmo tempo tentava chutar brasas que haviam espalhados pelo salão. Mais parecia a dança de São Guido, nunca Baryshnikov.
— Imediatamente senti os efeitos quando quis levar à boca o garfo de arroz com açafrão. A tremedeira foi tanta que tive que segurar o instrumento com as duas mãos.
— No Domingo, entretanto, foi que as dores nas pernas e nos braços deram-me a amplitude do abuso.
— Isso não me interessa seu Vernil, quero saber da cerimônia lá na Igreja.
— Foi muito bonita. O padre falou tudo que, o mais inspirado dentre todos os poetas, evangelizadores, pais, mães, escritores, filósofos, conseguiriam falar.
— A beleza ficou mais acentuada pelas músicas e, principalmente, quando a Ave Maria foi magistralmente interpretada. Aqueles que ficaram encantados com a Dama (Maria Carolina, a sobrinha mais nova), com mais a música acabaram vertendo lágrimas.
— E a noiva, seu Vernil, como é que ela estava?
— A Débora foi sempre muito bonita, séria e compenetrada, mas lá na Igreja e até terminar a festa lá no salão da Ararense, brindou a todos com um sorriso que bem espelhava a sua felicidade. Ela, mais o vestido e as flores compuseram um quadro para se guardar para sempre.
— O noivo, com certeza, foi uma grande aquisição da família. O coração calmo e grande estava espelhado no seu largo sorriso. Além disso, é um craque, veloz como o vento.
— Como estamos falando só de boas qualidades vamos esquecer o nome do time para o qual ele torce.
— O senhor não se esquece de colocar o futebol no meio, né seu Vernil?
— Na verdade, dona Maria, num casamento, tem que se colocar todas as coisas, pois elas são a realidade e o alicerce, em cima dos quais, o casal construirá a felicidade.
— As coisas que passaram são o calçamento da estrada na qual os dois deverão transitar. De mãos dadas poderão escolher melhor por onde levar a vida.
— E, como disse o Padre:
— Murilo deve se esforçar para dar à Débora o máximo e Débora deve se esforçar para dar ao Murilo o máximo.
— Que bonito seu Vernil. Vou lá para casa convidar o meu velho a se casar comigo outra vez.

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