Eu e meus companheiros, meninos travessos, que não tínhamos nada o que fazer dentro de casa, acompanhávamos o sol e a lua, inventando nas ruas da cidade toda a sorte de brincadeiras.
Nos pendurávamos na rabeira dos caminhões que, perigosamente atravessavam a cidade, entrando pela Avenida Limeira e saindo pela Estrada de Rodagem, onde hoje conhecemos como Avenida Leme, e era como se tivéssemos feito uma viagem ao Planeta Marte.
Havia fartura de frutas que buscávamos nos quintais das casas. Jabuticabas, mangas, laranjas, uvas, mamões, compunham a nossa sobremesa que comíamos sentados nas calçadas das esquinas, sempre muito escuras de nossa cidade.
Éramos tudo naquela época. Tarzan, Zorro, a Múmia, Durango Kid, Homem Cobra, Capitão América, Batman e Robin, mas, principalmente, éramos crianças.
O certo é que nem desconfiávamos que estávamos vivendo numa época sem igual.
Tínhamos a infância que nos permitia viver os últimos momentos do romantismo, na verdade, últimos seres do planeta Terra a gozarem a liberdade plena dos moleques.
Por isso, fomos testemunhas oculares e participantes da grande transformação que chegou com o progresso da tecnologia, impulsionado pelo boom científico de após guerra.
Imaginem que assistimos a substituição das fossas nos fundos de quintais pelas privadas patentes; da evolução do teço-teco para aviões a jato; do rojão de São João para os foguetes interplanetários; da noticia via tartaruga para os fatos trazidos ao vivo para dentro de nossas casas, via televisão e internet.
Somos do tempo que a contabilidade era feita à mão, com letras demoradamente desenhadas, hoje substituídas pelos potentes computadores, que não deixam que se cometa erro nos lançamentos, tirando do homem a ventura de procurar e encontrar uma diferença nas suas escritas.
Além do mais, os que são da produção, hoje em dia, nem conseguem ver mais o resultado do seu esforço, pois a produção começa aqui e termina lá longe, dentro de uma caixa já endereçada ao estabelecimento que vai comercializa-la ou usa-la.
Dona Maria, que lia estas linhas por cima de meu ombro, perguntou-me:
Aquele tempo era melhor ou pior que os tempos de hoje?
Pensei, pensei e respondi-lhe:
Hoje é bem melhor. A vida passou a receber o auxilio da tecnologia, facilitando as coisas para todos nós e, melhor ainda, cuidou para que o aumento da população não ficasse sem as coisas básicas, graças ao avanço da produção.
Então para com este saudosismo homem.
Impossível, Dna Maria. O meu saudosismo não é baseado nas facilidades, mas sim nas aventuras proporcionadas pelas condições daquela época.
Nada substitui a beleza de um namoro sob as vistas do pai.
As facilidades de hoje não podem ser melhores que a dificuldade de tirar uma moça para dançar.
Até as conversas, nas noites calorentas, sentados à porta da casa, são mais belas que todas as facilidades de hoje.
Nisso o senhor tem razão, pois naquela época as coisas eram mais difíceis, mas, eram ao vivo. Hoje apesar de todas as facilidades, as grandes venturas do homem passaram a ser virtuais. As que são ao vivo, infelizmente, acontecem quando os bandidos são os principais personagens. Haja medo para sentir.
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