O som distorcido lançava no ar a melodia de Feliz Natal.
Lá no começo da rua, distante como se fosse a Lua, outro Papai Noel de botas pretas e vestimentas vermelhas, um tanto desalinhadas, mas brilhantes, acompanhava o ajudante, que com as mãos cheias de presentes, precisava tatear o chão para avançar sem levar um tombo, entrava nas casas como o próprio sol daquele mês de dezembro, iluminando a alma de todos, entregando presentes.
O frenesi das crianças desatando as bonitas fitas que amarravam os embrulhos era um espetáculo bonito de se ver. Sorrisos iluminados pelo desejo atendido.
É claro que sempre havia o choro de alguém querendo o brinquedo de alguém.
Para as casas visitadas tudo era festa.
O menino com meia cara para fora, olhando com apenas um dos olhos, sentia dentro de si o calor da certeza de que o Papai Noel estava lhe trazendo um lindo presente.
Como demorava o Papai Noel.
Será que ele não poderia trazer o seu presente, pensava, ao invés de entrar e sair de tantas casas.
Além do mais, só ele e mais ninguém estava no portão esperando o bom velhinho.
O caminhão andava mais 20 metros e mais pacotes saiam nas mãos do homem, que o menino imaginava fosse o secretário do Papai Noel, vindo desde o Polo Norte, para ajudar o velhinho na distribuição dos presentes e encher de alegria todas as crianças da cidade.
O tempo passava lento demais e o desejo do menino crescia, crescia.
Já era angústia a expectativa.
Não tinha a menor importância o fato de sua mãe não se preocupar com a chegada do bom velhinho, pois era preciso que ficasse lavando a roupa, naquele tanque velho e querendo desmoronar.
O que valia naquele momento era a sua certeza de que o Papai Noel estava lhe trazendo o presente que sempre desejou: A bola colorida.
O caminhão já estava tão perto que ele podia ouvir a voz do Secretário e do próprio Papai Noel.
Nossa que calor dizia o bom velhinho.
Claro que deveria sentir calor, pois estava acostumado com o clima do Polo Norte, onde o gelo tomava conta de tudo. A sua professora é que lhe ensinara isso.
O seu coração já não batia, e sim apanhava tal o barulho que fazia ao bombear o sangue fervente da sua espera pelo presente desejado.
Pensou: Acho melhor esperar na sala. Entrou correndo e sentou-se no sofá surrado com as madeiras à mostra por entre os rasgados do tecido que deveria cobri-la.
O ronco do motor do caminhão chegava até os seus ouvidos, como se tivesse entrando pelo portão pequeno da sua casa.
Mas nada do Papai Noel!
O ronco foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até que o menino não mais o ouviu.
Ué, pensou, será que ele se esqueceu de entrar aqui na minha casa?
Correu para o portão e viu o caminhão que havia passado pelo seu portão e adiante continuava a entregar, nas casas dos seus amigos, os presentes que eles, naturalmente, haviam pedido para o Papai Noel.
Esperou um tanto mais, e nada.
Mais um ano que o Papai Noel o esquecia.
Lembrou-se que se comportara com muita atenção para merecer uma visita do bom velhinho.
Pensou: Acho que não foi o bastante.
- No próximo ano vou ter que ser melhor do que fui neste ano.
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