terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Presente de Natal

O trenó com o Papai Noel passou barulhento.

O som distorcido lançava no ar a melodia de Feliz Natal.

Lá no começo da rua, distante como se fosse a Lua, outro Papai Noel de botas pretas e vestimentas vermelhas, um tanto desalinhadas, mas brilhantes, acompanhava o ajudante, que com as mãos cheias de presentes, precisava tatear o chão para avançar sem levar um tombo, entrava nas casas como o próprio sol daquele mês de dezembro, iluminando a alma de todos, entregando presentes.

O frenesi das crianças desatando as bonitas fitas que amarravam os embrulhos era um espetáculo bonito de se ver. Sorrisos iluminados pelo desejo atendido.

 É claro que sempre havia o choro de alguém querendo o brinquedo de alguém.

Para as casas visitadas tudo era festa.

O menino com meia cara para fora, olhando com apenas um dos olhos, sentia dentro de si o calor da certeza de que o Papai Noel estava lhe trazendo um lindo presente.

Como demorava o Papai Noel.

Será que ele não poderia trazer o seu presente, pensava, ao invés de entrar e sair de tantas casas.

Além do mais, só ele e mais ninguém estava no portão esperando o bom velhinho.

O caminhão andava mais 20 metros e mais pacotes saiam nas mãos do homem, que o menino imaginava fosse o secretário do Papai Noel, vindo desde o Polo Norte, para ajudar o velhinho na distribuição dos presentes e encher de alegria todas as crianças da cidade.

O tempo passava lento demais e o desejo do menino crescia, crescia.

Já era angústia a expectativa.

Não tinha a menor importância o fato de sua mãe não se preocupar com a chegada do bom velhinho, pois era preciso que ficasse lavando a roupa, naquele tanque velho e querendo desmoronar.

O que valia naquele momento era a sua certeza de que o Papai Noel estava lhe trazendo o presente que sempre desejou: A bola colorida.

O caminhão já estava tão perto que ele podia ouvir a voz do Secretário e do próprio Papai Noel.

Nossa que calor dizia o bom velhinho.

Claro que deveria sentir calor, pois estava acostumado com o clima do Polo Norte, onde o gelo tomava conta de tudo. A sua professora é que lhe ensinara isso.

O seu coração já não batia, e sim apanhava tal o barulho que fazia ao bombear o sangue fervente da sua espera pelo presente desejado.

Pensou: Acho melhor esperar na sala. Entrou correndo e sentou-se no sofá surrado com as madeiras à mostra por entre os rasgados do tecido que deveria cobri-la.

O ronco do motor do caminhão chegava até os seus ouvidos, como se tivesse entrando pelo portão pequeno  da sua casa.

Mas nada do Papai Noel!

O ronco foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até que o menino não mais o ouviu.

Ué, pensou, será que ele se esqueceu de entrar aqui na minha casa?

Correu para o portão e viu o caminhão que havia passado pelo seu portão e adiante continuava a entregar, nas casas dos seus amigos, os presentes que eles, naturalmente, haviam pedido para o Papai Noel.

Esperou um tanto mais, e nada.

Mais um ano que o Papai Noel o esquecia.

Lembrou-se que se comportara com muita atenção para merecer uma visita do bom velhinho.

Pensou: Acho que não foi o bastante.

- No próximo ano vou ter que ser melhor do que fui neste ano.






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