domingo, 3 de abril de 2011
No reino do meu Pai
Eu ainda não havia contado a vocês, mas dona Maria insistiu para que eu mostrasse uma das minhas produções, fruto dos nossos encontros religiosos. Então aí vai: “Subi a persiana e abri a janela. A manhã fria apresentava, ainda, alguma nebulosidade. O rapaz de bicicleta, todo encapotado, de nariz vermelho, tentava esconder suas mãos do vento frio e cortante que o atingia, passou pedalando velozmente. O cachorro da casa vizinha, sem entender os sons que lhe chegavam, latia a não mais poder. Em parte avisando os seus donos e em parte, eu acho, pelo prazer de latir. Não era um latido de cão bravo, nem de cão desesperado, era como se fosse, um instrumento que cumpria a sua parte na execução da música, cuja partitura, da Sinfonia dos mundos, estava lendo. Mais ao longe outros cães ladravam, mas eram outras músicas, outras partituras, outras sinfonias. O menino com o gorro de lã enfiado na cabeça lançava baforadas de fumaça. Era o calor da juventude transformado em estado gasoso pelo frio daquela manhã tão bonita. A Vam escolar chegou de mansinho, quase que reverente, permitiu à vizinhança ouvir o vozerio da farra da garotada, no seu interior. Mesmo soltando fumaça pelas narinas, o menino, com um sorriso no rosto corado, entrou para a viagem em direção ao saber. Olhando mais para perto comecei a examinar as três roseiras do meu jardim. A vermelha, com cachos de flores, tornava o quase brilho da manhã mais contundente. Tinham um misto de delicadeza e força que com o perfume que exalavam, enchiam de entusiasmo quem as contemplasse. Senti entrar pelo meus olhos a energia necessária para os embates da vida. A branca, com sua palidez, pareceu-me uma bandeira da paz. Foi incrível a energia harmoniosa que entrou pelos meus olhos. As pequeninas rosas, cor de rosa, pareceram-me puros brilhantes a refletir a luminosidade que começava querer chegar. Deixei-me tomar pela energia de amor eterno que entrou pelos meus olhos. O Cacto, verde e espinhento, parecia o guarda noturno que se preparava para acender o cachimbo depois de uma noite cheia de mistérios. Os camarões amarelos, contrastando com as folhas incrivelmente verdes, pareceram-me um exército de trabalhadores à minha disposição. Levantei os olhos para ver de onde vinha a luz que iluminava aquela manhã. Os raios do sol, como holofotes em noite de estréia em hollywood ou abertura da festa do peão, esforçavam-se para rasgar as poucas nuvens que ainda impediam que chegassem à terra, muito embora, lhe servissem de refletores para dar à manhã aquela bela luminosidade. A borboleta desviou-me a atenção e, no seu vôo insinuante, com uma outra, perderam-se na distancia como estivessem brincando de pega, vestidas com roupas dos melhores coloridos. Estava assim distraído quando o Bem te vi, em vôo ligeiro e espetacular, alcançou o inseto e chamou a minha atenção. Foi uma farra a cantoria vitoriosa do passarinho. O cheiro do café chegou e foi mais forte, com passos firmes fui para a cozinha. “Estava começando mais um dia da minha vida no planeta Terra, o belo Planeta Azul.”
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