sexta-feira, 30 de março de 2012

Parece que foi ontem

Eu não me lembro, mas ouvi contar as histórias.

Nasci e recebi apesar dos problemas de saúde que veio comigo, uma recepção carinhosa de todos os familiares e amigos da família.

Assim, fui envolvido nos colos de muitas mulheres, que mais tarde identificando-as, coloquei todas elas dentro do meu coração agradecido.

Minha mãe, no após parto, teve que se contentar com poucos minutos para me aconchegar no seu colo.

Precisei de cuidados e todos ficaram apreensivos.

Era uma verdadeira vigília que acabaram despertando ciúmes, como só acontece na convivência deste mundo.

Meu pai não cabia em si. Eu era o primeiro.

Venci as diversidades da saúde e, posso dizer, comecei a minha vida que se transcorreu cheia de muitos obstáculos, mas de muita felicidade também.

Por isso, o valor que dou às minhas conquistas. Nada de espetacular, mas que exigiu muita determinação.

Foi assim, vou resumir:

No começo o que marcou foram as camisolas que serviam de roupas, e que atendiam as possibilidades daquilo que a família podia destinar de suas poupanças, para as compras de roupas.

Nas manhãs eu pedia: Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeee eu quero leite uca com açúcar.

A tigela de ágata vinha cheia e eu me fartava do insubstituível café com leite e pão. A manteiga só apareceu bem depois. Eram os anos da Segunda Guerra Mundial. Anos de apreensão.

Os irmãos vieram ritmados de dois em dois anos, somamos 8 irmãos. São eles e suas famílias que preencheram e incansavelmente alimentam a minha vida de razões para viver.

Naquele tempo, as crianças eram moleques, sempre dispostos a subir no pé de alguma fruta e a brincar com um circulo de aço e a guia que usavam a guisa de veiculo, empurrando pelas ruas e calçadas. Todos os moleques eram exímios nesta brincadeira.

A guerra terminada, graças a Deus, minhas lembranças registram os Natais.

Na nossa casa simples a comida era simples, mas farta.

Os presentes vinham de meus tios que moravam fora de Araras. Mas eram presentes de tio, não eram de Papai Noel.

Era angustiante a espera olhando com meia cara colocada para fora do “portãozinho”, já velho, seguindo o movimento dos caminhões cobertos, cheios de brinquedos que Papai Noel trazia lá do Polo Norte e que nunca paravam em frente à minha casa, passavam e deixavam o aceno de mão e a frustração.

Ainda hoje eu sou da opinião que não deveriam ter feito aquilo com tantas crianças cujos pais não tinham como comprar lhes presentes no Natal. Foi uma judiação.

Entre a molecada a vida corria sem timidez, mas caso algum adulto se aproximava, só conseguia conversar com o moleque da sua família, os outros morriam de vergonha, e nem sequer respondiam as perguntas.

Nós éramos verdadeiros caipiras.

A escola primária consertou um pouco deste comportamento, no segundo ciclo, as amizades de outros que passaram pela experiência de serem moleques aumentaram e apesar de ainda nos escondermos por detrás da nossa vergonha, já dava para conviver um pouco melhor.

A emancipação aconteceu com o advento do TG, o famoso Tiro de Guerra 182, que sob as ordens do então Sargento Odair, sob a irresistível diversidade das personalidades dos atiradores reunidos experimentei, pela primeira vez, olhar por cima do muro que até então insistia em ficar entre eu e a vida fascinante que se desenrolava fora do meu quintal.

O conhecimento fazia o seu trabalho, diversificava o entendimento do agora homem e o preparava para ajudar no progresso.

Empregos, futebol, rádio, e a ausência prolongada, causada pela busca que eu haveria de fazer, fora da minha cidade natal, para melhor entender da vida.

Voltei e já não era o mesmo que partira, era outro ator desta peça que nunca termina e que cada vez mais, encanta os seus atores, pois todos a assistem e nela trabalham e que se  intitula ”A Marcha do Progresso do Homem”.

Foi um rastro de conquistas e decepções, devidamente anotadas na minha consciência.

Lutar foi preciso.

Casei-me e Lidia me deu dois filhos maravilhosos, Marcelo e Patricia.

Meu filho casou-se e me deu uma Nora  especial e uma Netinha linda, até parecida comigo, e que me surpreende todos os dias, como se fosse uma varinha mágica; que encheu minha vida de muito movimento e que fez meu preparo físico, quase voltar ao normal e principalmente, colocou no meu coração o amor em quantidade que nunca havia conseguido juntar.

Então aqui estou aos 72.

Parece que foi ontem, que o bebê mimado, moleque caipira, começou a sua caminhada para chegar até onde foi possível as suas forças o levarem.



A luta continua!

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