Com a raquete na
mão, corria os dedos pelo encordoamento como se tivesse procurando os motivos
pelos seus fiascos dentro da quadra, ignorando os malefícios da proeminente
barriga que, por certo, era a grande vilã do jogo de tênis. Respirou fundo e
quase que num sussurro, falou para os companheiros das aventuras esportivas.
— Vocês viram A
presença de Anita?
Como que por
encanto os quatro ou cinco “atletas” que compunham o grupo viraram
vigorosamente as suas cabeças em direção a Célio.
Eu vi, vi não,
bebi. Eu também.
E assim,
sucessivamente, todos mostraram que a minissérie estava sendo vista e bebida
pelos homens.
Os únicos que não
se pronunciaram foram os quatro “tenistas” que estavam jogando e que por sinal,
atrapalharam a conversação do grupo, pois uma bola desviada foi bater na cabeça
de um dos mais ardentes fãs de Anita.
Bola devolvida,
conversa continuou.
Tirando os olhos
da raquete, Célio confessou:
— Para mim não
está fácil acompanhar a novela. Minha mulher está marcando em cima. Por isso,
sou obrigado a emitir minhas opiniões para ela ouvir, pela voz e sentir as
verdadeiras emoções ocultadas pela escuridão que nos obriga o programa de
racionamento de energia.
— Não entendi
patavina. Emendou João, expressando a curiosidade do grupo.
— Explico. Aquelas
cenas de Anita com o escritor, na casa dela, quentes, que faz a gente ficar
ofegante e balançando as pernas, sentado no sofá da sala, eu comento em voz
alta:
— Puxa! Que moça
desclassificada, está estragando a vida do homem e a coitada da mulher dele nem
desconfia de nada.
— Na escuridão, no
entanto, deixo as cenas embalar as minhas fantasias. O corpo jovem da menina
embaralha as mazelas da idade e garante uma noite cheia de fogos de artifícios.
Armando, o mais
sisudo dos amigos, com cara de quem viu e não gostou, colocou areia na
conversa:
— Tá certo que ela
é artista, mas acho uma exploração da TV em cima de uma moça que deveria estar
estudando, para não depender de ninguém no futuro, em vez de estar com sua
atuação revirando a cabeça dos homens.
A rodinha foi
desfeita. O bem e o mal, mais uma vez, afrontavam os homens. Sem dar a pista de
qual era um e o outro.
Está certo o homem
que não expressa as suas reações e revive os seus melhores momentos nos braços
de sua mulher?
Ou está certo o
outro que se preocupa com, segundo ele, a exploração do corpo de uma jovem?
Como descobrir
quem está mais certo. De real só o celular do Célio que tocou insistentemente:
Prestem atenção no
diálogo que se seguiu:
— Célio é a
Margarida (mulher dele), eu gravei o episódio de ontem da Presença de Anita,
aquele que ela está deitada na bóia na piscina e arruma bikini com o dedo, se
você estiver a fim de ver de novo venha logo para casa.
— Guenta um pouco
que eu já estou indo.
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