A turma reunida deixava as horas se escoarem pelo ralo do não faz nada.
A cerveja preta é melhor que a branca, é mais forte e complementa com mais sabor os petiscos. A batata frita crocante, o frango a passarinho, quase torrado, deixava os lábios e as pontas dos dedos de todos brilhando de gordura.
Os assuntos, variados, iam desde a desdita dos kosovares até as curvas da Tiazinha.
Podia-se comparar a reunião com uma sessão de terapia em grupo. A pança cheia a cerveja estimulando a língua e a inconseqüência eram os ingredientes.
Sentado à esquerda de quem entra pelo bar, o homem já tentara convencer meia dúzia de companheiros de que o errado podia ser muito bem o certo e que o certo nem sempre era tão certo assim.
Acabara de falar e, automaticamente, olhou para a mão direita pousada sobre a mesa e viu o cabelinho branco na altura do seu pulso. Quis desviar a atenção para um dos amigos que começava um novo assunto, mas o seu cérebro voltou ao cabelinho branco.
Com os dois dedos, dedão e fura bolo, tentou arrancar a cabelinho branco e o que conseguiu foi só arrancar meia dúzia de cabelinhos pretos que estavam ao redor do branco.
O vozerio ficou distante e o homem sem conseguir conter-se começou a pensar em si. Cabelo branco é sinal de envelhecimento. Tentou, em vão, lembrar-se de sua imagem na última vez que olhou para o espelho, na manhã daquele dia. Não prestara atenção.
Será que os seus cabelos estavam brancos? Sentiu raiva de si mesmo por não saber responder a pergunta.
Sem que ninguém entendesse, levantou-se, despediu-se com um tchau xoxo e saiu quase que apressado para a rua em direção à sua casa.
Entrou sem chamar a atenção, passou pela sala onde a tv fazia um barulho enorme e foi direto ao banheiro. Sofregamente ligou a luz e levou o maior susto da sua vida. Olhou o espelho. Estava velho.
De repente objetivos que estavam na fila de espera, ganharam importância das urgências e o tempo vivido ficou reduzido há um instante.
O seu filho nem começara ganhar a vida. A viagem com sua esposa nem começara a ser planejada. Precisava trocar o carro. A prestação da geladeira estava atrasada e, pior, estava sem emprego.
Velho com objetivos, prestações e necessidades atrasados, naquele momento era o retrato da desesperança. Chorou.
Ser velho e todas as necessidades ele poderia ajeitar, mas sem emprego como haveria de ser.
O país entrou em crise e lá se foi o seu emprego. Os seus amigos, mesmo aqueles que estavam empregados estavam reclamando, pois o que estão ganhando não dá para comprar nada do que precisam, a não ser o arroz o feijão e a farinha, para encher a barriga dos trouxas que têm direitos, mas que a cada crise vêm as suas conquistas serem surrupiadas para acudir o país.
O pior é que acudir o país é o mesmo que salvar as mansões em Miami ou as ilhas em Angra dos Reis.
A experiência (conquista das pessoas que começam a envelhecer) mandava que não fosse contra o poder econômico, mesmo porque, de nada adiantaria, porque ele faz parte da maioria excluída e silenciosa, de cujo lombo estão tirando o couro para que as mansões de Miami não tenham que ser vendidas.
Tudo bem, pensou, vou resignar-me.
Foi para a sala e o meu, o seu, o nosso Presidente da República, estava sendo entrevistado. Ágil nas respostas e sorridente fez todos da sala crer que o Brasil estava para ser guindado à posição de paraíso. Nada daquilo que o povo estava reclamando era verdade. O Real havia recolocado a justiça social no seu devido lugar. Todos menos ele é bom que se diga. Pudera, ele como 20% de todos os aptos para trabalharem estavam sem onde trabalhar, e muitos estavam velhos, com as prestações, objetivos e necessidades atrasadas, nem mesmo, o meu, o seu, o nosso Presidente haveria de convencê-los.
Mas como a esperança é a última que morre, com certeza, quando a moralidade for programa de algum governo, quem sabe a questão social saia de uma vez por todas da “Idade da Pedra”.
A cerveja preta é melhor que a branca, é mais forte e complementa com mais sabor os petiscos. A batata frita crocante, o frango a passarinho, quase torrado, deixava os lábios e as pontas dos dedos de todos brilhando de gordura.
Os assuntos, variados, iam desde a desdita dos kosovares até as curvas da Tiazinha.
Podia-se comparar a reunião com uma sessão de terapia em grupo. A pança cheia a cerveja estimulando a língua e a inconseqüência eram os ingredientes.
Sentado à esquerda de quem entra pelo bar, o homem já tentara convencer meia dúzia de companheiros de que o errado podia ser muito bem o certo e que o certo nem sempre era tão certo assim.
Acabara de falar e, automaticamente, olhou para a mão direita pousada sobre a mesa e viu o cabelinho branco na altura do seu pulso. Quis desviar a atenção para um dos amigos que começava um novo assunto, mas o seu cérebro voltou ao cabelinho branco.
Com os dois dedos, dedão e fura bolo, tentou arrancar a cabelinho branco e o que conseguiu foi só arrancar meia dúzia de cabelinhos pretos que estavam ao redor do branco.
O vozerio ficou distante e o homem sem conseguir conter-se começou a pensar em si. Cabelo branco é sinal de envelhecimento. Tentou, em vão, lembrar-se de sua imagem na última vez que olhou para o espelho, na manhã daquele dia. Não prestara atenção.
Será que os seus cabelos estavam brancos? Sentiu raiva de si mesmo por não saber responder a pergunta.
Sem que ninguém entendesse, levantou-se, despediu-se com um tchau xoxo e saiu quase que apressado para a rua em direção à sua casa.
Entrou sem chamar a atenção, passou pela sala onde a tv fazia um barulho enorme e foi direto ao banheiro. Sofregamente ligou a luz e levou o maior susto da sua vida. Olhou o espelho. Estava velho.
De repente objetivos que estavam na fila de espera, ganharam importância das urgências e o tempo vivido ficou reduzido há um instante.
O seu filho nem começara ganhar a vida. A viagem com sua esposa nem começara a ser planejada. Precisava trocar o carro. A prestação da geladeira estava atrasada e, pior, estava sem emprego.
Velho com objetivos, prestações e necessidades atrasados, naquele momento era o retrato da desesperança. Chorou.
Ser velho e todas as necessidades ele poderia ajeitar, mas sem emprego como haveria de ser.
O país entrou em crise e lá se foi o seu emprego. Os seus amigos, mesmo aqueles que estavam empregados estavam reclamando, pois o que estão ganhando não dá para comprar nada do que precisam, a não ser o arroz o feijão e a farinha, para encher a barriga dos trouxas que têm direitos, mas que a cada crise vêm as suas conquistas serem surrupiadas para acudir o país.
O pior é que acudir o país é o mesmo que salvar as mansões em Miami ou as ilhas em Angra dos Reis.
A experiência (conquista das pessoas que começam a envelhecer) mandava que não fosse contra o poder econômico, mesmo porque, de nada adiantaria, porque ele faz parte da maioria excluída e silenciosa, de cujo lombo estão tirando o couro para que as mansões de Miami não tenham que ser vendidas.
Tudo bem, pensou, vou resignar-me.
Foi para a sala e o meu, o seu, o nosso Presidente da República, estava sendo entrevistado. Ágil nas respostas e sorridente fez todos da sala crer que o Brasil estava para ser guindado à posição de paraíso. Nada daquilo que o povo estava reclamando era verdade. O Real havia recolocado a justiça social no seu devido lugar. Todos menos ele é bom que se diga. Pudera, ele como 20% de todos os aptos para trabalharem estavam sem onde trabalhar, e muitos estavam velhos, com as prestações, objetivos e necessidades atrasadas, nem mesmo, o meu, o seu, o nosso Presidente haveria de convencê-los.
Mas como a esperança é a última que morre, com certeza, quando a moralidade for programa de algum governo, quem sabe a questão social saia de uma vez por todas da “Idade da Pedra”.
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