sábado, 16 de agosto de 2008

A ajuda vem do Céu


No dia dos pais fui visitar o Campo Santo.
Como sempre, muita gente por lá. Uns com passos apressados, carregando vasos ou vasilhas com água, limpando e enfeitando os túmulos dos entes queridos, outros em silêncio, em pé ou ajoelhados, fazendo as suas orações.
Todos, com raras exceções, prestando suas homenagens aos seus pais que já estão do outro lado da vida.
Caminhando e lendo os nomes nos túmulos, lembrei-me de um fato que dona Maria havia me contado.
Era a história de um filho que, sem experiência de vida, vivia atazanando a vida do seu pai.
A mãe do rapaz já havia partido desta vida, não se sabe se por desgosto. O certo é que o filho dera muito trabalho à coitada da mulher.
Sem a mulher para administrar a casa, o pai dependia de uma empregada doméstica.
Assim, com o orçamento apertado, o homem praticamente fazia milagre para atender os reclamos do filho.
Este, cada vez mais, exigia do pai dinheiro para poder freqüentar os "points" da juventude, sem medir os seus gastos.
As brigas, principalmente nos fins de semanas, cada vez mais, tornavam-se violentas.
Para piorar a situação o rapaz não ligava a mínima para os estudos e seu aproveitamento ia muito mal.
O diálogo, tão necessário, entre pai e filho já não existia.
O pai, estressado, acabou acamado.
Sem poder trabalhar e muito mal cuidado pelo filho, viu suas parcas economias terminarem.
Com isso, o filho pensando em si, saiu de casa e foi morar na capital.
Arrumou emprego e começou sua vida e, porque não tinha como badalar, começou a viver uma vida sem extravagâncias.
Passa o tempo, o pai alquebrado, vivendo de uma aposentadoria por invalidez, finalmente descansou e foi para o mundo espiritual.
O rapaz lá na capital casou-se e constituiu família e o filho que nasceu, cresceu e começou a dar-lhe trabalho.
Lá na capital os reclamos para os embalos eram muito maiores que os reclamos aqui no interior.
Por isso, o rapaz, que agora era pai, começou a sentir na pele os mesmos males que ele havia feito ao seu pai.
Um dia, exatamente num dia dos pais, vamos surpreender o rapaz, que agora é pai, em pé diante do túmulo de seu pai, segurando algumas flores, com os olhos semicerrados, orando fervorosamente.
Na sua oração o mau filho de ontem, pedia ao seu pai, que tanto sofrera por sua causa, que lhe ajudasse a refrear os maus instintos do seu filho.
Lá do mundo espiritual, com os olhos cheios de lágrimas, o pai agradecia a Deus a possibilidade de poder ajudar, mais uma vez o seu filho.
E pedia pelo seu neto. Rogando a Deus para que ele recebesse a misericórdia das bênçãos do Pai Criador, para que não fizesse o seu pai, mau filho de ontem, sofrer.
Nos sonhos do neto aproveitava para intuir e acalmar o rapaz.
— Ta vendo seu Vernil - arrematou dona Maria - Pai que é pai, mesmo lá do mundo espiritual não abandona o filho, pois sabe que, mesmo os mais rebeldes acabam aprendendo com a vida.

Nenhum comentário: