sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Saudade e história

Às 6 horas da manhã, o café perfumava e enchia o ar de fumaça que saia do bico do bule.
O bule, esmaltado, fora antigamente uma obra de arte com suas flores vermelhas desenhadas no fundo azul. Hoje o bule, com o uso e o resto de café que escorria, ficou com uma cor indefinida. De qualquer maneira era, ainda, soberano em cima do fogão, postado ao lado da panela de ferro, com o fundo em cima da chapa para que o café fosse conservado, sempre quente.
Esta imagem foi perfeitamente registrada pela minha memória.
Naquele tempo, voltando dos bailes no Clube dos Bancários ou do Grêmio Recreativo Ararense, quando o sol saia detrás das montanhas que compunham o horizonte colorido da manhã, eu ia entrando para o meu quarto para começar a dormir.
Na realidade era o encontro de todas as manhãs de domingo, quando minha mãe levantava-se para um novo dia, eu ia dormir.
Antes de deitar-me, aproveitava para saborear o café que minha mãe acabava de preparar. Sentado na cama, encostado no travesseiro macio, com a xícara de café na mão, e com ela sentada à beira da cama, ligava o rádio e começava a escutar as modas de viola que, praticamente, todas as emissoras daquela época programavam para as madrugadas.
O café quente recompunha as energias que havia gasto bailando a noite inteira sob os acordes do Conjunto do Fernando Lara.
Aprendi a gostar da boa moda de viola nestas manhãs e, sempre que a saudade chega com a imagem de minha mãe ou com o som do berrante dos programas de rádio daquela época, corro para o som e deixo rolar CD dos violeiros.
Dormia o sono dos moços e acordava a tempo de almoçar e aprontar-me para os jogos de bola, no gol do Circulista. Eu era muito feliz.
De nada teria valido ter vivido estas experiências, se não tivesse trazido para o presente, os frutos do aprendizado a que fui submetido.
Posso dizer que, sem lamentar os desconfortos, que na verdade fizeram o tempero do aprendizado, graças a Deus sou feliz e mais consciente.
Escrevi sobre isso tudo para, conforme intimação de Dona. Maria, que no domingo de madrugada acordou-me para mostrar o trabalho Reminiscências, do Pelé Cressoni e agradecê-lo. O seu trabalho tem o mérito de criar um verdadeiro arquivo esportivo ararense, não deixando morrer a história, com seus registros para a posteridade, da verdadeira paixão dos ararenses que é o futebol.
Minha amiga que me ajuda a entender e a compreender o mundo em que vivemos, afirma:
— É no registro, com orgulho da nossa história, que asseguramos o progresso do mundo.

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