Carlos Galhardo, com sua voz inconfundível, melancólica, bonita,
vai fazendo desfiar no éter a melodia romântica.
Confesso que a primeira vez que ouvi a canção foi quando as
meninas, nos idos da década de 40, cantarolavam-na às vezes, entrecortada pelos
sons dos canhões da guerra terminada que teimavam em permanecer nos ouvidos de
todos.
Chego a imaginar hoje, o quanto de romântico era necessário
para fazer esquecer o medo disseminado pelo mundo afora pela guerra insana.
Eu nasci naquele tempo, tive muita sorte, no entanto.
A minha saúde logo colocou os meus pais de prontidão.
Roncavam os canhões na Europa e eu franzino recebia o carinho dos meus pais e
dos vizinhos.
O carnaval de 1939 mostrara ao mundo a música
"Jardineira", clássico de todos os tempos e repetida nos anos
seguidos, era, também, exaustivamente tocada na década de 40.
Um dia desses olhei para aquele passado distante e a minha
mente achou a figura da Tia Nair.
Nos primeiros momentos da minha vida, ela me embalou me
amou. Os seus profundos olhos azuis não pregavam enquanto os meus não me
permitiam o sono dos inocentes.
Foi o meu anjo da guarda.
Mais tarde, separados pela vida, seguimos nossos caminhos.
Dentro do meu coração, entretanto, ela é presença cuja
serenidade, me faz retornar no tempo sem medo.
Hoje experimentados pelo tempo eu e ela vivemos curtindo o
amor saudoso. Não precisamos nos ver nem falarmos. O Amor de Tia e Sobrinho é
perene.
Sei que a música que empresta o título a estas lembranças
era uma de suas preferidas, desde aquele tempo quando os homens eram forjados
no aço espalhados pelas granadas e, por isso, lembrei-me de falar dela neste
espaço.
Abordei este assunto esforçando-me para ser doce, mas não
consegui ser tão doce quanto a minha tia Nair Wolff foi doce comigo.
Quisera reunir todas as garotas daquele tempo e repetir um
momento de preparação para o baile. Os vestidos bonitos, os rostos afogueados
pelo rouge e a presença do Carlos Galhardo cantando Salão Grena, bisando um
momento que foi divino para quem foi divinal para mim.
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