quarta-feira, 24 de julho de 2013

Salão Grená

Os sons da história chega até os meus ouvidos trazidos pelo som da vitrola de corda.

Carlos Galhardo, com sua voz inconfundível, melancólica, bonita, vai fazendo desfiar no éter a melodia romântica.

Confesso que a primeira vez que ouvi a canção foi quando as meninas, nos idos da década de 40, cantarolavam-na às vezes, entrecortada pelos sons dos canhões da guerra terminada que teimavam em permanecer nos ouvidos de todos.

Chego a imaginar hoje, o quanto de romântico era necessário para fazer esquecer o medo disseminado pelo mundo afora pela guerra insana.

Eu nasci naquele tempo, tive muita sorte, no entanto.

A minha saúde logo colocou os meus pais de prontidão. Roncavam os canhões na Europa e eu franzino recebia o carinho dos meus pais e dos vizinhos.

O carnaval de 1939 mostrara ao mundo a música "Jardineira", clássico de todos os tempos e repetida nos anos seguidos, era, também, exaustivamente tocada na década de 40.

Um dia desses olhei para aquele passado distante e a minha mente achou a figura da Tia Nair.

Nos primeiros momentos da minha vida, ela me embalou me amou. Os seus profundos olhos azuis não pregavam enquanto os meus não me permitiam o sono dos inocentes.

Foi o meu anjo da guarda.

Mais tarde, separados pela vida, seguimos nossos caminhos.

Dentro do meu coração, entretanto, ela é presença cuja serenidade, me faz retornar no tempo sem medo.

Hoje experimentados pelo tempo eu e ela vivemos curtindo o amor saudoso. Não precisamos nos ver nem falarmos. O Amor de Tia e Sobrinho é perene.

Sei que a música que empresta o título a estas lembranças era uma de suas preferidas, desde aquele tempo quando os homens eram forjados no aço espalhados pelas granadas e, por isso, lembrei-me de falar dela neste espaço.

Abordei este assunto esforçando-me para ser doce, mas não consegui ser tão doce quanto a minha tia Nair Wolff foi doce comigo.

Quisera reunir todas as garotas daquele tempo e repetir um momento de preparação para o baile. Os vestidos bonitos, os rostos afogueados pelo rouge e a presença do Carlos Galhardo cantando Salão Grena, bisando um momento que foi divino para quem foi divinal para mim.

 

 

 

 

 

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