O gato entrou pela porta da cozinha, esticando o corpo, como se
estivesse querendo chegar até a
vasilha da sua ração sem dar mais nenhum passo.
A
dona da casa vendo a lentidão do gato exclamou:
-
Que preguiça em bichano! Nem para comer você
quer fazer força.
Em
resposta o gato bocejou e espreguiçou-se demoradamente e emitiu um miado fino e
quase inaudível.
Olhando
pela grade da porta de ferro, o cachorro boxer, amarelo, nervoso, quis latir,
mas conseguiu apenas um som parecido com uma tosse abafada por um lenço.
-
Arrf!
Incrível,
mas o seu olhar, com os olhos grandes e saltados, mostravam indignação. De
repente, o cachorro começou a falar:
-
Este preguiçoso de uma figa tem todas as regalias do mundo. Tem casa, comida,
cama lavada, dorme fora e, ainda por cima, pode andar por dentro da casa como
se fosse um rei. Essa mamata tem que acabar.
Coitado
do Rex, falava, o que era um assombro, mas só tinha magoas nas suas palavras.
O
que ele não sabia era que o gato que hoje vivia bocejando, durante a sua
infância e mocidade deu um duro danado para ganhar o “status” de hoje.
Atrás
de quantos rolos de linhas ele teve que correr e, ainda por cima, dando
cambalhotas e olhando assustado depois dos incontáveis tombos que precisou
levar. E as verdadeiras peripécias que teve que fazer para esconder no fundo do
quintal as suas necessidades fisiológicas. Quantas e quantas vezes teve que
suportar os apertos da filha da dona com paciência de um bicho preguiça. E as
vezes que fora arrastado pelo cangote, batendo em tudo que era cadeira e pé de
mesa, sem emitir nenhuma lamúria.
Com
certeza o gato conquistara os seus direitos legítimos de liberdade dentro da
casa.
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