—
Manhêêêê! Mããããããe!
—
O que que é menino. Pare de gritar!
—
Eu tô com medo do escuro. Dá para a senhora ficar comigo até eu
pegar no sono?
—
Espera um pouco aí, até o seu pai acabar de mudar de roupa, pois eu
estou segurando a vela para ele enxergar as pernas do pijama.
Dona Maria, soltou um palavrão entre dentes, e pensou
no que estava acontecendo.
Quantas e quantas vezes ouviu no noticiário e,
inclusive, lembrou-se do ministro Hélio Beltrão, que em Araras, naquele tempo,
já alertava para a certeza de problemas com energia elétrica no Brasil.
Apesar disso, os governos se sucederam e nada foi
feito em matéria de investimentos para solucionar o problema.
Agora o jeito era treinar viver no escuro.
Já havia tentado as lanternas e luzes de emergência à
bateria, que o custo fez com que a família desistisse de usar.
O lampião à gás, apesar da boa qualidade da luz
fornecida, com aquele barulhinho de água descendo a serra, só fazia era dar
sono em todo mundo e o resultado era dormir cedo e acordar cedo, necessitando
de luz para enxergar de madrugada.
Estava difícil de achar um meio de solucionar o
problema de ter que economizar energia e baixar o valor das contas de luz.
Ela não queria achar culpados, mas aguentar o
Presidente da República dizer que havia sido pego de surpresa, foi demais para
o caminhão de Dona Maria.
Achava o presidente charmoso. Mas, que diabo, ele já
estava no poder há 6 anos e não estava sabendo da necessidade de investimentos
para gerar energia elétrica?
—
Parece brincadeira de quem não sabe o valor da sua posição na vida. Falou alto Dona
Maria.
O marido que acabara de descobrir que vestira o pijama
no avesso e ao tentar arrumar caíra de joelhos, com os dois pés enroscados na
mesma perna da calça, gritou:
—
Maria, pelo amor de Deus, acenda esta maldita luz, pelo menos até eu
vestir o pijama.
—
Mas, e a economia? Eles vão acabar chupando o nosso sangue no valor
da conta deste mês.
—
Pro diabo com a economia. Já chega a comida que perdemos por causa
de desligar o Freezer. Agora esfolo o meu joelho, não dá para aguentar.
—
Mas...
—
Não tem mais nem menos. Acenda a luz antes que eu te faça engolir
esta vela!
—
Valha me nossa Senhora da Aparecida.
Começou a rezar Dona Maria para depois num desabafo
quase gritar:
—
Meu reino por um vaga-lume, gigante!
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