O cenário, como não podia
deixar de ser, era o quintal da casa dos pais do Rui Barbosa, amigo que nunca
mais vi.
Se bem descrevo, o cenário
era formado pela lenha colocada para secar e dar bom fogo sem fumaça, formando
um triangulo em túnel que tomava todo o quintal, desde a porta da cozinha até a
cerca dos fundos.
Para a imaginação de todos
nós, a lenha que formava o túnel, ora era o navio desbravando mares bravios e
de ondas gigantescas, provocadas pela erupção do vulcão que nunca deixava de
expelir fumaça, pois era a chaminé do fogão da mãe do Rui; ora era a diligência,
que em disparada pela planície levava a mocinha aos gritos, perseguida pelos
bandidos; ora era a Pirâmide de um dos reis do Egito, que maldosamente, vestido
em tiras de trapos, transformava-se na Múmia que a todos nós perseguia; ora era
a porta da nave espacial que acabava de chegar do planeta Terra, para explorar
o desconhecido e longínquo planeta de Ets disformes e, talvez porque o time de
Parque Antártica fosse o mais famoso daquela época, eram verdes com cifres que
na ponta levavam mais dois olhos, tornando os figuras, ainda mais, ameaçadora.
O engraçado é que não
consigo lembrar-me dos pais e nem dos irmãos do Rui. Só consigo lembrar-me
dele.
Alem do Tico, o nosso
mentor, juntava-se a nós o Perilo, o famoso “Manga Espada”, O Daio, irmão do
Perilo, filhos do Plácido, jogador da AAA e outros que a minha memória insiste
em não revelar com clareza.
Hoje, com certeza posso afirmar
a possibilidade daqueles momentos de puro deleite, não se repetiriam.
O romantismo daquela época
era inigualável. Éramos pouco comprometidos com a realidade dos adultos,
vivíamos os momentos próprios da infância, que àquele tempo, durava muito mais
que hoje.
Na verdade, eu penso
assim: Nascemos para viver e impulsionar o progresso do mundo, na medida da
necessidade que aquela atualidade precisava.
Eu e meus amigos, rodados
e temperados pelos acontecimentos que o tempo sem descanso impôs, nos sentimos
um tanto quanto deslocados em virtude dos bytes que atravessam o ar como
projéteis de uma metralhadora que espalha a vida mais apressada, sem que tenha
chance de admirar o brilho das estrelas.
Mas, basta olhar os
brilhos dos nossos olhos que, com certeza, se verá do que é feito o nosso
coração.
Penso que estamos saindo
ganhando.
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