sábado, 20 de abril de 2013

Zé Lopes


No valão que marcava o limite da cidade das chácaras, depois da última rua, a rua 13 de
maio, com suas cavernas formadas pelos arbustos, principalmente, as temíveis mamonas, servia para que todos os meninos que moravam nas cercanias, exercitassem o espírito explorador que faz parte integrante da personalidade dos homens.

Eram mistérios e mais mistérios.

O bambuzal oferecia material de primeira qualidade para as espadas e os bodoques com os quais as crianças brincavam de mocinhos e bandidos.

Mas, dentre todos os mistérios, o que mais mecheu com as cabeças daquelas crianças foi a presença intermitente do Zé Lopes, que fazia daquelas cavernas o lugar para seu descanso.

 Este homem povoou e deu asas, principalmente, às mentes das crianças, mas, também, dos adultos em torno das décadas de 40/50 do século passado.

Este homem, um, “ligeira”, um andarilho, era figura que hoje, com melhor capacidade de observação, poderiamos dizer que bela.

A sua altura era média para época, cerca de 1,60 m., corpo esguio e de tez queimada pelo sol, encimada por vasta cabeleira branca.

As suas ameaças de sorrisos, mostravam uma boca sem dentes, entretanto, apesar de tudo, com certeza, nos dias de hoje serviria de modelo fotográfico, pois como dissemos a sua figura era de beleza expressiva.

Nos seus melhores momentos, isto é, quando não estava sob efeito de bebidas, aceitava conversar e nestes momentos percebiamos que se tratava de uma pessoa de boa cultura, com indicações de que estivera embarcado em algum barco singrando mares.

Surpreendentemente, nestas ocasiões, receitava para as pessoas que lhe perguntavam a respeito de plantas, remédios para diversas doenças, como era costume naquela época.

Dentre as plantas que mais receitava era aquela que parecia ser a de sua preferência, a pariparoba, que ele mesmo colhia e oferecia para a maior parte dos seus “pacientes”:

A pariparoba (Pothomorphe umbellata) era conhecida pelos povos Tupi por caapeba (kaa peba) ... (vide figura)

1.    pariparoba, planta medicinal utilizada em chás que serve para aliviar problemas digestivos relacionados ao estômago, fígado, ...

Problemas estomacais e do figado

Você vai precisar de:

  • Um acolher de sobremesa com folhas de pariparoba picadas
  • Uma xícara de chá de água

Modo de Preparo: Ferva a água e acrescente as folhas de pariparoba. Deixe abafado por dez minutos e depois coe o chá.

Posologia: Beba duas xícaras do chá de pariparoba no dia. Uma pela manhã e outra antes do almoço.

Cuidados: Gestantes e lactantes devem evitar o uso.

Era uma grande figura o Zé Lopes, cuja pronuncia no caipires era Zé Lopi.

Entretanto, devia ter os seus fantasmas que o incomodavam e nessas ocasiões buscava o remédio na bebida.

Apesar disso nunca se portou de maneira violenta, pelo contrário, tornava-se um artista de um verdadeiro show.

Sua pele queimada pelo sol ficava nestas ocasiões, brilhantes refulgia em lampejos provocados pela incidência dos raios solares, seus olhos olhavam o horizonte e quando alguém se interpunha entre ele e o horizonte, ele olhava através do corpo da pessoa como se não existisse nada à sua frente.

Mas, o ápice do espetáculo era quando, colocando a mâo sobre a boca, abrindo e fechando os 3 últimos dedos, gritava a pleno pulmões:

- Aaaaaaaaa vida do marinheiro... aaaaaaa vida do marinheiro... aaaaaaaa vida do marinheiro...

E repetida interminavelmente o seu grito, com o qual parecia querer acordar alguma divindade que pudesse socorrê-lo, para salvá-lo das mãos dos seus fantasmas.

É uma pena não ter uma foto do Zé Lopes para ilustrar esta homenagem, pois ele como poucos foi figura impar e, hoje, após tantos anos, nestas linhas, pretensiosamente, fica a história de nossa cidade e de seus personagens um pouco mais enriquecida.

Que onde se encontre receba de todos os meninos que ele encantou o muito obrigado e as bençãos que ele merece.

 

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