Anjos guardiões
Dona Maria veio visitar-me.
Como de costume, o café com bolo logo foi servido.
O papo correu solto. Lembramo-nos de muitos momentos em que eu e minha
amiga, de maneira espontânea construímos um pedacinho das nossas histórias.
Como não poderia deixar de ser, também, dona Maria quis saber de
pormenores da cirurgia a que fui submetido 12 dias atrás.
— E então seu Vernil, tá pronto para outra?
— Deus me livre dona Maria, apesar da simplicidade da intervenção e da
capacidade do médico é uma coisa que não desejo para ninguém.
— Entendo perfeitamente. Agora o senhor está tão bem que nem parece que
está convalescendo de uma operação.
— É verdade. Sabe, minha amiga, que nestas ocasiões é que temos a
oportunidade de avaliar, mais profundamente, as pessoas que trabalham num
hospital.
— Acho que é o medo que nos torna muito mais observadores a ponto de
captar os mínimos detalhes do desempenho das pessoas.
— Acho que é bem por aí. A gente fica totalmente exposto e isso, quando
estamos com cérebro alerta, aguça ao extremo a nossa atenção.
— Graças a isto pude ver o carinho e o desvelo com que fui tratado por
todos e, principalmente, pelo corpo de enfermagem do Hospital São Luiz.
— Todas as informações pedidas foram gentilmente dadas e na hora da
agulhada, muita capacidade.
— Por isso, dona Maria, que devo publicamente agradecer os profissionais,
que transformam aqueles momentos de apreensão numa demonstração de competência
e carinho. Nos dias de hoje isto não tem o que pague.
— Pelo jeito o senhor gostou e é bem capaz de fazer força para voltar lá.
— Não chego a tanto. Mas se precisar voltar a ser internado, consciente
ou inconscientemente, estou certo que terei um tratamento nota 10 e se disso
depender a minha vida, estarei entregue a mãos confiáveis.
— Então, meu amigo, todos lá têm asas?
— São uns anjos e só não exibem as asas porque têm mais pacientes para
atender e nem dá tempo. Batem tão rápidas que não conseguimos enxergar.
— Deus lhes pague.
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