domingo, 7 de outubro de 2007

As rosas


— Como a senhora sabe Dona Maria eu morei muitos anos no Rio de Janeiro. Nas cidades grandes quem tem um pedacinho de terra e pode cultivar um jardim pode se considerar um privilegiado.
— Graças a Deus aqui em Araras não temos, ainda, este tipo de problema, né seu Vernil.
— Certo. Mas não demora muito e, do jeito que a cidade esta crescendo, não teremos mais estas facilidades.
— Cá entre nós, seu Vernil, o jardim que o senhor tem na frente da sua casa e do qual o senhor fala tanto, não é lá essas coisas, né?
— Verdade, Dona Maria. É, entretanto, o que se pode fazer naquele pedacinho de terra. Agora, as minhas rosas vermelhas são maravilhosas. Aprendi a admirar as rosas vermelhas lá no Rio de Janeiro, pois não tendo oportunidade de ver flores todos os dias, quando acontecia de visitar algum jardim, ficava tempo admirando-o.
— A senhora não sabe o quanto as flores aproximam a gente de
Deus, Dona Maria.
— Claro que sei disso seu Vernil, o senhor parece que nem me conhece?
— Desculpe Dona Maria. A senhora que me ajuda a entender e a compreender o mundo, naturalmente, deve ser bem espiritualizada.
— Falando nisso seu Vernil. O senhor conhece o IDE (Instituto de Difusão Espírita)?
— Claro que conheço!
— Pois é, seu Vernil, eu sou uma das voluntárias lá no Departamento Assistencial e no próximo sábado, dia 24, vai acontecer uma coisa muito bonita lá. As pessoas assistidas, para as quais o Departamento fornece cestas básicas e aulas de trabalhos manuais de Culinária, Bordado Ponto Cruz, Pintura em Panos de Prato, Bijouteria, Crochê, vão fazer uma exposição daquilo que elas conseguiram produzir. Vai ser um Bazar cujas vendas serão revertidas para as próprias assistidas.
— Além disso, os filhos das assistidas e elas próprias assistem
palestras evangélicas.
— Vê se dá um jeitinho do senhor por no jornal pra todo mundo ir lá!
— Vou falar com o pessoal do jornal.
— Avisa também que vai haver quitutes feitos nas aulas de culinária e muita alegria.
— Pode deixar.
Dona Maria deu Tchau rápido e alto e saiu, podemos dizer, cantando os pneus nas curvas, tal a pressa com que virou a esquina, sumindo da minha vista.
Naquele instante, como se fosse uma visão, dentro da minha cabeça, desenhou-se um arco com as cores do arco-iris de onde saiu uma voz rouca e profunda:
— Aí está meu irmão uma rosa que igual em nenhum jardim há de brotar.
Concordei, pois nesses anos todos, graças à amizade que eu e Dona Maria cultivamos, eu havia sido beneficiado com o entendimento e compreensão do mundo, como em nenhum outro momento de minha vida.

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